O ano de 2020 foi atípico sob muitas óticas, sejam elas econômicas ou políticas, dada a pandemia do covid-19. Olhando apenas para o setor elétrico, esses aspectos também influenciaram as empresas e seus cronogramas para implantação de projetos, além das pautas no Congresso Nacional.
No entanto, uma curiosidade sobre o ano que passou, e especificamente para o setor elétrico, é que ele foi muito parecido com o ano de 2018, no que se refere ao montante despachado por segurança energética (GFOM) e na participação dessa geração no total do despacho térmico.
Em 2020, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou o despacho fora da ordem de mérito em dois momentos: primeiro, de 4 de março a 2 de julho, com o objetivo de preservar os reservatório do Sul; e depois, a partir de 16 de outubro e ainda em vigor, em seu nível máximo, visando a recuperação dos principais reservatórios dos subsistemas Sul e Sudeste/Centro-Oeste.
Com isso, foram despachados cerca de 548 MW médios de termelétricas por segurança energética, que representaram 7% do despacho total termelétrico em 2020. Em 2018, o volume de despacho foi de 510 MW médios, uma representação de 5% do total do despacho termelétrico do período.
Para João Barreto, coordenador de Estudos de Mercado da MegaWhat, o montante despachado fora da ordem de mérito no último ano mostra que o CMSE ainda não enxerga como suficiente a aversão ao risco dos modelos computacionais.
“Isso é preocupante, já que em 2020 foram realizadas alterações na aversão a risco do modelo, com a inserção do Volume Mínimo Operativo (VminOp) e alterações dos parâmetros da CVaR”, disse Barreto.
Vale lembrar que em 2020, além do GFOM, o mercado brasileiro também recorreu à importação de energia da Argentina e Uruguai. Um levantamento da MegaWhat, com base nas publicações do Diário Oficial da União, mostra que 22 empresas foram autorizadas a importarem energia elétrica interruptível desses países no ano passado.
Reservatórios
Em janeiro deste ano, o CMSE estabeleceu um teto de 16,5 GW médios para o total de geração – que engloba a geração termelétrica total das usinas despachadas pelo ONS (GFOM e as demais), já acrescidos dos montantes que tenham sido importados – representando 5,7% da capacidade máxima de reservatório do Sistema Interligado. Em novembro e dezembro, somados GFOM e importação de energia, os montantes foram de cerca de 4 GW médios e 5 GW médios, representando, 1,2% e 1,6% do SIN, respectivamente.
Sazonalização
Apesar do comportamento semelhante no total despachado, a sazonalização verificada na comparação entre 2018 e 2020 se comportou de forma muito diferente.
Gráfico sobre a sazonalização em 2018 elaborado pela MegaWhat com dados do ONS
Enquanto 2018 teve o volume alocado principalmente no primeiro semestre, sendo o maior volume alocado no mês de abril, é possível verificar o comportamento inverso em 2020, com praticamente toda a alocação concentrada no fim do ano, entre os meses de novembro e dezembro.
Neste caso, João Barreto explica que o comportamento seguiu o movimento de aumento da demanda de energia. “O despacho fora de mérito seguiu a rampa da carga. Ao final do ano, quando a carga começa a se recuperar, o despacho também aumenta para minimizar esvaziamento dos reservatórios”, disse o especialista da MegaWhat.
Gráfico sobre a sazonalização e desempenho da carga em 2020 elaborado pela MegaWhat com dados do ONS
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