A Eletrobras está desenvolvendo uma política para comercialização de I-RECs, certificados de energia renovável, a fim de capturar valor adicional de seu parque de geração a medida que as exigências ambientais se mostrem mais rígidas em todo o mundo.
“No momento, o preço do I-REC ainda gera uma receita muito inferior à da venda da eletricidade”, disse Saul de Santana Mendonça, superintendente de Gestão da Expansão da Geração da Eletrobras, em entrevista à MegaWhat.
Por enquanto, Furnas e Chesf já fizeram leilões de venda de certificados. O de Furnas aconteceu em 5 de fevereiro, quando foram oferecidos certificados com lastro nas hidrelétricas de Itumbiara (2.082 MW) e Serra da Mesa (1.272 MW), ambas em Goiás. A demanda superou o montante ofertado e houve ágio médio superior a 50%, segundo a controlada da Eletrobras.
Em 26 de março, foi a vez da Chesf, que vendeu certificados com lastro nos parques eólicos Casa Nova II e Casa Nova III, na Bahia, com 61,1 MW de potência. A companhia ainda não informou o resultado do certame.
“O volume que pode ser emitido é bastante levado, considerando a produção das hidrelétricas, eólicas e solares do grupo”, disse Mendonça. Até o momento, a Eletrobras tem nove usinas certificadas pelo Instituto Totum para emissão dos I-RECS: duas hidrelétricas e cinco eólicas de Furnas, e mais as duas eólicas da Chesf. “No momento, nossa estratégia ainda é exploratória”, explicou.
A certificação desses empreendimentos e emissão dos certificados já licitados está relacionada a um programa de sustentabilidade interno da Eletrobras. Com base nos resultados desses leilões iniciais, o comitê de comercialização de energia do grupo está desenvolvimento uma proposta de política para certificação e, posteriormente, venda dos I-RECs.
“A partir dessa política, vamos ter uma visão mais clara de cronograma, quais as empresas que poderão ser certificadas e qual a velocidade da emissão dos I-RECs”, afirmou Mendonça.
A companhia poderá tanto vender apenas os certificados, para clientes que tenham interesse em descarbonização para cumprir metas de redução de emissão de gases poluentes, quanto comercializar a energia já com o certificado. “Como uma energia já com denominação de origem”, disse.
Os compradores dos leilões já realizados incluem comercializadores, que farão a revenda em um mercado secundário de certificados, e também consumidores finais, que desejam abater do seu consumo as emissões de gases poluentes.
As iniciativas relacionadas ao tema ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa) geram expectativas em relação ao futuro deste mercado. “São muito importantes, mas muitas ainda são voluntárias”, disse Mendonça. “A demanda está aumentando ano a ano, mas acredito que o mercado vai se configurar com algo com volumes comparáveis à venda de energia se em algum momento esses compromissos forem obrigatórios, e não voluntários”, disse.