A Fitch Ratings avalia um crescimento do consumo de energia no país modesto em 2023, mas com tarifas elevadas para o consumidor final, o que, aliado ao ambiente macroeconômico pouco aquecido, pode elevar os indicadores de perdas e inadimplência.
A agência projeta crescimento do consumo de 0,7% para 2023 e 2% em 2024 para a maioria dos grupos avaliados no setor. Para 2022, a expectativa é que o PIB crescerá 3%, enquanto a demanda por eletricidade deve aumentar em torno de 1%.
Por outro lado, a recuperação dos reservatórios neste ano deve favorecer as geradoras hídricas, que devem ter mais energia disponível para comercialização e ser menos impactadas pelo custo de compra.
Com a melhora dos reservatórios, a Fitch aponta que as comercializadoras terão a rentabilização como desafio, dada a estimativa de preços baixos no mercado spot.
“As empresas deste segmento devem continuar buscando verticalização para reduzir risco operacional, ao passo que os grupos integrados devem investir em comercialização, de olho na abertura do mercado livre”, aponta trecho do relatório da Fitch.
A agência estima o Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), em torno de R$ 86/MWh em 2023 e R$ 72/MWh em 2024, após ter permanecido em 2022 próximo ao piso estabelecido pelo regulador, de R$ 55,7/MWh.
“Os preços de energia no longo prazo também podem cair devido à entrada em operação de nova capacidade e ao crescimento limitado do consumo de energia. A expectativa de queda de preços é maior para geradoras com maior parcela de energia descontratada”.
O baixo risco das transmissoras não deve mudar. No agregado do portfólio das empresas avaliadas pela Fitch, espera-se alavancagem financeira em patamares adequados, embora ligeiramente acima dos de 2022. O setor deve manter forte liquidez, que se beneficia de um amplo acesso a fontes de financiamento.
“A Fitch não prevê mudança significativa na capacidade de geração de caixa das empresas brasileiras de energia elétrica em 2023 em decorrência de condições macroeconômicas ou ações do novo governo federal. Os juros elevados devem continuar pesando nas despesas financeiras, enquanto melhores condições hidrológicas e o crescimento da demanda de energia, ainda que baixo, devem beneficiar o fluxo de caixa. A alavancagem financeira deve permanecer adequada para o setor e o perfil de liquidez dos grupos, manter-se sólido, limitando os riscos de refinanciamento”, diz o diretor Wellington Senter.
Privatizações
A Fitch não espera que o novo governo federal implemente medidas que alterem os fundamentos do setor elétrico brasileiro. Além disso, entende que a privatização da Eletrobras tende a aprimorar a regulação do setor, com gradual reprecificação de parte do parque de geração da companhia que extinguirá seu regime de cotas.
As eleições estaduais também podem trazer privatizações. O Paraná já analisa um modelo de privatização da Copel semelhante ao da Eletrobras, por meio de aumento de capital sem participação do controlador. Para Cemig e Celesc, que também estão sob controle estadual, ainda não há iniciativas neste sentido anunciadas e/ou em andamento