
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirmou à MegaWhat que houve um “comportamento inesperado” nos resultados da rodada preliminar do modelo Newave, utilizado para o planejamento energético de longo prazo, durante as simulações do Programa Mensal da Operação (PMO) de junho. A distorção foi identificada na representação individualizada da hidrelétrica Canastra, de 45 MW, e gerou elevação atípica dos Custos Marginais de Operação (CMO).
Segundo o ONS, o problema não havia sido observado em testes internos anteriores, que usaram como referência o PMO de maio.
Os resultados atípicos foram reportados por agentes do setor, que notaram uma alta significativa dos preços de curto prazo com base nos dados disponibilizados pelo operador no início da semana.
A divergência gerou apreensão quanto ao possível acionamento da bandeira vermelha tarifária já em junho, antecipando uma alta nos custos da energia para os consumidores.
Procurado pela MegaWhat, o ONS confirmou, por meio de nota, que foi observado o problema. Por isso, decidiu manter, por precaução, a usina Canastra como “não-simulada individualizadamente”, no mesmo modelo de representação utilizado até o PMO de maio, até que o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) conclua uma análise detalhada da questão.
O Cepel é responsável pelo desenvolvimento e manutenção dos modelos computacionais utilizados no planejamento e operação do sistema elétrico brasileiro, incluindo o Newave.
As simulações feitas pelos agentes mostravam que, mesmo com condições hidrológicas semelhantes e dados técnicos idênticos, o número de iterações nos modelos alterava significativamente os preços de energia.
Deck preliminar cumpriu seu papel
Durante o primeiro dia da reunião do Programa Mensal da Operação (PMO), o diretor de Planejamento do ONS, Alexandre Zucarato, reiterou que a usina ficará na condição anterior (não-simulada individualizadamente) até que tenham “absoluta convicção” do diagnóstico da inconsistência.
“O deck preliminar cumpriu seu papel. Ele existe para que, em situações de dados de entrada ou de resultados, possa ser avaliado por todos que acompanham, e para que percebendo alguma coisa diferente, tenhamos tempo de avaliar até a reunião do PMO. Então, entendemos que o deck preliminar cumpriu com seu papel. A inconsistência existe, ela não está diagnosticada”, afirmou Zucarato.
Críticas aos modelos
A falha reforça críticas recorrentes do mercado sobre a imprevisibilidade dos modelos de preços atuais e a necessidade de revisão na governança das ferramentas computacionais utilizadas.
O episódio ocorre em um momento crítico, com o setor discutindo a possível reformulação do parâmetro de aversão ao risco CVaR e o próprio processo de governança dos modelos.
Confira a íntegra da nota do ONS enviada à MegaWhat:
“O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informa que foi observado um comportamento não esperado, elevação nos custos marginais de operação, nos resultados do deck preliminar do Modelo Newave para o PMO de junho, quando é incluída a representação da usina hidroelétrica Canastra (45 MW) de forma individualizada. Testes internos, considerando como referência o PMO de maio, não indicaram esse tipo de comportamento. Com isso, os casos foram encaminhados para o Cepel, que fará uma análise detalhada e a devida verificação. Até a conclusão desse processo o ONS manterá a representação da usina hidroelétrica Canastra como usina não-simulada individualizadamente, representação utilizada até o PMO de maio/2025.”
(Atualizado em 29/05/2025, às 14h45, para incluir informações do PMO)