Liquidação

BBCE lança liquidação financeira para contratos de energia com o Bradesco

BBCE Fachada
BBCE Fachada

A BBCE deu um passo importante no desenvolvimento do mercado ao lançar uma ferramenta para a liquidação dos contratos negociados pelos seus clientes por meio da plataforma, que permitirá a realização de um encontro de contas entre compradores e vendedores de forma digital, automatizada e com uma única transferência bancária por parte de cada participante.

O Bradesco, que já é o banco custodiante nas operações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), foi escolhido pela BBCE como agente de liquidação, e atuará no processamento dos pagamentos e recebimentos entre as partes.

Na prática, empresas que aderirem ao novo serviço receberão um relatório com o saldo líquido de suas operações dentro da plataforma da BBCE. Se tiverem valores a pagar, farão um único depósito no Bradesco no quinto dia útil do mês. Já as que tiverem valores a receber, vão recolher uma única transferência no sexto dia útil.

As empresas deverão abrir uma conta vinculada exclusivamente para a liquidação das operações. As datas, que antecedem em um dia os prazos da CCEE, foram escolhidas justamente para que a BBCE tenha “uma margem de segurança”, explicou Camila Batich, diretora-presidente da plataforma à MegaWhat.

“É um passo importante, porque passa pela gestão financeira das casas. Ao invés de o cliente fazer 350 TEDs e receber outras dezenas, agora ele concentra tudo em uma só. Isso reduz o risco operacional e também o trabalho das áreas financeiras”, disse Batich.

O lançamento faz parte de um projeto mais amplo de segurança de mercado iniciado pela plataforma em 2023, com a criação da supervisão do EHUB, funcionalidade que permite monitorar 100% das operações e aplicar sanções a práticas não equitativas. A liquidação financeira é o segundo passo dessa estratégia, que deverá ser ampliada com ferramentas de cálculo de exposição, considerando a MTM, gestão de garantias e revisão do contrato padrão de energia da plataforma.

“A gente está entregando para o mercado algo muito aderente, porque temos feito esse trabalho de escuta. Vamos oferecer uma infraestrutura mais segura, mas sem criar uma promessa mirabolante. É uma construção feita passo a passo”, disse Batich.

Segurança, mas ainda sem contraparte central

Apesar de se assemelhar, a liquidação multilateral da BBCE não transforma a empresa em uma clearing com contraparte central, o que configuraria uma bolsa de energia, efetivamente, mas é um passo nessa direção.

“A BBCE não é a contraparte central fazendo esse processo. A BBCE está, em conjunto com o banco, provendo a liquidação das operações que as pessoas têm dentro da plataforma. Isso não envolve exigências de capital, exigências regulatórias do Banco Central ou a constituição de garantias”, explicou.

Segundo ela, a ideia é oferecer maior eficiência e previsibilidade para as operações dentro do ambiente da BBCE, mas sem entrar nas obrigações regulatórias que uma clearing impõe. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi comunicada sobre a novidade, mas não precisou autorizar formalmente o serviço.

“A gente informou a CVM, eles fizeram alguns questionamentos, mas não tivemos nenhum óbice para seguir. Como se trata de mercado físico, não há necessidade de aval prévio”, afirmou a executiva.

Redução de inadimplência

A BBCE testou a nova solução com um grupo restrito de clientes e identificou uma expressiva redução no volume financeiro total a ser movimentado. “No último piloto, o valor total a ser liquidado entre os participantes, que seria de R$ 68 milhões, foi reduzido a R$ 15 milhões. Isso mitiga significativamente os riscos de liquidação”, disse Batich.

A expectativa é que, com o lançamento oficial, essa eficiência aumente, especialmente entre comercializadoras que hoje gastam tempo e recursos com controles manuais para consolidar valores a pagar e receber no curto prazo.

“A gente acredita que isso vai atrair mais operações para a plataforma. Quando o cliente vê que pode simplificar o operacional, fazer uma transferência só, isso facilita muito. E não colide com a atuação da CCEE, porque lá se liquida diferença. Aqui a gente está falando de liquidação das próprias operações fechadas dentro da BBCE”, esclareceu.

BBCE: contexto de mercado exige mais governança

O movimento da BBCE acontece em um momento em que o setor discute os riscos crescentes no mercado livre de energia. O aumento do número de participantes, a volatilidade dos preços e os episódios recentes de inadimplência reforçaram a necessidade de soluções que tragam mais transparência e segurança operacional.

“Hoje, a gente enxerga que o setor precisa evoluir como outros mercados evoluíram, como o financeiro. Isso passa por governança, controle de risco e eficiência operacional. E não dá para esperar que a solução venha toda de uma vez. O que a gente está fazendo é um passo de cada vez, mas sempre com o objetivo de entregar valor e segurança”, concluiu Batich.

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