A iniciativa da B3 de buscar o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para poder pré-registrar contratos de energia elétrica pode ser um primeiro passo no caminho de se tornar uma verdadeira bolsa de energia no país.
“Se funcionar e houver adesão de players no mercado, uma consequência pode ser o desenvolvimento de uma curva de preços”, disse à MegaWhat Fabio Zenaro, diretor de produtos de balcão, commodities e novos negócios da B3. “Entendemos que há uma rodovia a ser pavimentada. Se o mercado entender que é um caminho que pode ser trilhado, lá na frente poderemos ter curva de preço, mecanismo de gestão de garantias, ser contraparte central. Mas tudo isso está no campo da possibilidade. Pode ser que a gente chegue lá ou não”, afirmou.
O aval obtido da CVM libera a B3 a supervisionar, monitorar e pré-registrar contratos de energia elétrica. Na prática, isso vai permitir que os agentes façam, de forma voluntária, o pré-registro dos contratos de compra e venda de energia na bolsa.
Hoje, os contratos são registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), para fins de contabilização e liquidação. Segundo Zenaro, o pré-registro na B3 será complementar e será no momento zero, um passo anterior ao registro na CCEE.
A ideia surgiu em conversas da B3 com agentes do mercado livre de energia, na linha de aprimorar a transparência e a gestão de risco desse segmento. Como a adesão não é obrigatória, a bolsa não sabe ainda se os pré-registros vão avançar, mas defende que é uma maneira de evitar que voltem a se repetir problemas de comercializadoras alavancadas excessivamente e fazendo apostas muito arriscadas.
“Se o mercado entender que é uma boa iniciativa, uma adesão pode chamar outra”, disse Zenaro. A curva de preços seria uma consequência dessa adesão em massa. “Por que não lançamos contratos futuros de energia hoje? Porque não temos as condições, mas, de repente, essa pode ser uma evolução possível”, disse. Para o diretor da B3, há questões mais básicas que precisam ser solucionadas antes desse passo. “Uma delas é ter uma curva de preços crível e baseada em operações reais”.
Antes de começar a, de fato, receber os pré-registros de contratos, a bolsa tem um trabalho de desenvolvimento interno a cumprir. “Entendemos que levaremos mais alguns meses para lançar a plataforma”, disse Zenaro. Inicialmente, a bolsa previa lançar a novidade no primeiro semestre desse ano, mas as paralisações causadas pela pandemia do coronavírus (covid-19) devem atrasar o evento para o terceiro trimestre de 2020.
A B3 não se vê competindo com o Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), plataforma de contratos de balcão de energia. “Acho que como já existe uma plataforma, não faria sentido competir nisso. São negócios diferentes”, disse Zenaro. Segundo ele, a intenção da bolsa agora é colaborar com a evolução do mercado livre de energia, usando, para isso, a confiabilidade e expertise da B3.
Recentemente, o BBCE foi autorizado pela CVM a atuar como um balcão organizado. O aval para negociação de derivativos de energia, contudo, ainda está condicionado ao cumprimento de algumas medidas pela plataforma.
A B3, por sua vez, já pode fazer derivativos de energia, mas esse segmento nunca engatou. “Migrar do contrato físico para o derivativo é uma decisão de mercado com base em suas implicações. Parece que há vantagens no processo, mas também tem desafios”, disse Zenaro. Para ele, os acontecimentos do início do ano passado no mercado livre, como a inadimplência de comercializadoras, podem ter trazido de volta à importância de se pensar nos derivativos.