(Com Camila Maia)
As ações da Petrobras abriram o pregão desta sexta-feira, 19 de fevereiro, em queda, refletindo os comentários feitos ontem à noite pelo presidente Jair Bolsonaro, com relação ao último reajuste dos preços da gasolina e do diesel e sobre possíveis mudanças na estatal. Às 10h15, as ações ON da companhia eram negociadas com queda de 4,28% (R$ 28,17), enquanto os papéis PN recuavam 3,93% (R$ 28,12).
Em sua transmissão via internet semanal, Bolsonaro disse ontem que o reajuste foi “excessivo” e que, embora não possa e não irá interferir na empresa, “alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Você tem que mudar alguma coisa”.
Pouco depois da transmissão do presidente, o Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP) publicou nota defendendo a preservação da dinâmica de preços livres, com alinhamento à paridade internacional. “Os derivados são commodities comercializadas internacionalmente e a paridade traz previsibilidade e transparência ao mercado”, informou a entidade.
“A livre formação e negociação de preços entre os agentes é fundamental para a promoção da concorrência, da livre iniciativa e da garantia do abastecimento de forma sustentável economicamente – sempre considerando as melhores práticas comerciais e concorrenciais, a ética e o compromisso com a sociedade. Esses pontos também estão em consonância com o previsto na Lei do Petróleo e a Constituição Federal”, completou o IBP.
Na manhã de ontem, a Petrobras, em nota sobre os reajustes, afirmou que “o alinhamento dos preços ao mercado internacional é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros refinadores, além da Petrobras. Este mesmo equilíbrio competitivo é responsável pelas reduções de preços quando a oferta cresce no mercado internacional, como ocorrido ao longo de 2020”.
A XP, por sua vez, vê o aumento nos preços do diesel como positivo para a companhia, mas destaca que os valores praticados em nível da refinaria continuam abaixo dos necessários para viabilizar importações do combustível com margem de lucro.
Segundo os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado, o reajuste do diesel implica em um prêmio médio de US$ 1,141/barril para referências internacionais, mas um desconto de US$ 5,42 o barril em relação à paridade de importação. Para a gasolina, o prêmio para referências internacionais fica de US$ 7,90/barril, enquanto o prêmio para a paridade de importação fica em US$ 1,34/barril.
“Em nossa visão, um reajuste de tamanha magnitude ter que ocorrer e ainda assim não ser suficiente para a companhia retornar à níveis de paridade de importação ilustra os desequilíbrios recentes da política de preços de combustíveis da Petrobras após um represamento de preços em meio a um cenário de volatilidade do câmbio e dos preços do petróleo”, escreveram os analistas da XP.
Na transmissão de ontem, Bolsonaro também afirmou que o governo vai zerar a alíquota de impostos federais sobre o diesel e o gás liquefeito de petróleo (GLP) nos meses de março e abril, enquanto a equipe econômica do governo trabalhará em uma solução definitiva sobre o assunto.
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