
Fundada em 2022 como uma comercializadora independente, a Armor Energia reformulou sua estratégia comercial e intensificou o foco em soluções para consumidores varejistas e do grupo B (baixa tensão), em antecipação à abertura total do mercado. O movimento inclui a criação de um conselho consultivo e a adoção de uma postura mais conservadora na área de trading tradicional, vista agora como apoio à liquidez dos clientes e não como área principal.
Em entrevista à MegaWhat, Marcelo Ávila, ex-vice-presidente da Comerc Energia e atual presidente do conselho da Armor, destacou que a empresa já possui uma carteira com aproximadamente 50 unidades consumidoras entre gestão e varejo, formada há pouco mais de seis meses. O objetivo é ampliar esse número nos próximos cinco anos, convergindo com a ambição da Armor de ser um player relevante no segmento.
“A redução do custo de energia é a porta de entrada para os clientes, mas há outras soluções a serem analisadas. Nosso foco é oferecer a melhor experiência e solução. Podemos crescer 100 vezes, mas isso dependerá da qualidade das nossas entregas”, afirmou Ávila.
Recentemente, a empresa elaborou um novo planejamento estratégico para o período 2025–2029, com definição de territórios prioritários e desenvolvimento de novos produtos para atender à demanda dos consumidores, como eficiência energética, telemetria e baterias, entre outros. Para algumas dessas frentes, a empresa ainda não atua diretamente, mas busca parcerias para viabilizar as soluções.
Para ilustrar os novos perfis de consumo atendidos pela Armor, Fred Menezes, um dos sócios fundadores do negócio e diretor de Trading, citou o exemplo de um cliente com baixo consumo de energia, mas que necessita comprovar o uso de energia renovável para um cliente europeu, situação que demanda a emissão de certificado que comprova que a energia consumida foi gerada por fontes renováveis, o I-REC.
Abertura do mercado e visão estratégica
Sobre a abertura do mercado prevista na Medida Provisória 1.300, Menezes afirmou que a liberalização é “inevitável”, mesmo se a proposta perder validade, se a MP não for convertida em lei. Para ele, o cenário atual apresenta ineficiências que podem ser exploradas por novos modelos de negócio.

“A abertura do mercado vai acontecer. O desafio é entregar um serviço de excelência sem torná-lo inviável financeiramente para este cliente. Estamos nos apoiando em tecnologia para viabilizar essa estratégia”, disse.
Trading deixa de ser centro da estratégia
A empresa reduziu sua exposição no mercado de trading, concentrando operações em prazos menores e em contratos para o ano corrente. O foco atual está na venda de energia a clientes e na compra junto a geradores ou com grandes contrapartes.
“O trading segue como um instrumento para dar liquidez à operação dos nossos clientes. Hoje somos uma empresa de serviços. Não é mais aquela mesa que precisa ‘matar um leão por dia’, mas sim uma mesa inteligente”, pontuou Menezes.
Ávila complementou: “Quando se tem uma carteira de clientes, é preciso aproveitar as oportunidades do mercado com mais cautela, pois é a carteira que sustenta a empresa, não mais o trading. Esse é o novo posicionamento da Armor.”
Clearing: transparência e segurança
Tanto Menezes quanto Ávila enxergam a estruturação de uma clearing, uma contraparte central para garantir as transações, como essencial para fortalecer o setor. Para Ávila, uma bolsa de energia trará mais transparência, segurança e responsabilidade, ao exigir aportes de garantia para operação.
Segundo Menezes, a clearing pode ajudar a melhorar a liquidez, atrair fundos e viabilizar novos produtos financeiros, atraindo, por exemplo, tesourarias. No entanto, sem a criação definitiva, ele afirma que ainda é cedo para avaliar seu impacto em uma possível retomada “mais agressiva” da área pela Armor.
“Ainda estão em fase de discussão e vamos participar. Mas, a clearing exige um aporte para operar e vamos analisar, quando tiver, a questão de custo-benefício, qual é o custo de margem que essa clearing vai exigir da comercializadora, quanto é que tem de risco versus o custo de oportunidade de ter uma carteira de serviços. Uma clearing não vai ser o suficiente para tirar o nosso foco do consumidor, mas pode aumentar operações em mesa, dependendo das condições”, falou.
Relação com comercializadoras independentes
Citando falas de executivos durante o MinutoMega Talks de 2024, Marcelo Ávila destacou a importância de comercializadoras independentes para gerar liquidez ao mercado, sendo os contratos da Armor com as companhias relevantes, principalmente para as operações de prazo mais curto. Para períodos mais longos, o executivo vê a necessidade do lastro para não haver preocupações com risco de crédito.
“Temos uma preocupação de sempre manter uma exposição proporcional ao risco de contraparte. Para zeragem do fluxo comercial, de longo prazo e do cliente, temos um prazo e um volume de energia significativo e, para isso, precisamos de robustez de casas que têm ativos e lastro de ativos de geração”, afirmou Menezes sobre o tema.
Apesar disso, o sócio responsável pela área de trading vê inovações nas independentes e ideias interessantes, ditas como game changer para eventuais necessidades.
Geração distribuída: foco reduzido
A Armor também diminuiu seu foco na geração distribuída, diante da expectativa de uma estagnação desse mercado nos próximos anos. Mesmo assim, Fred Menezes avalia que ainda há bons projetos, mesmo em um cenário de sobreoferta.
Comitê Consultivo e reestruturação corporativa
Além de Marcelo Ávila, o conselho consultivo da empresa conta com Alfredo Menezes (CEO e CIO da Armor Capital, com mais de 40 anos de experiência no mercado financeiro), Octávio Moreira (CTO da Hospp, ex-Comerc), e Luiz Cruz (CEO da Winner Motors).
Com a criação do conselho, a empresa também reorganizou sua estrutura: Fred Menezes assumiu a diretoria de Trading; Marcos Ávila foi nomeado diretor Financeiro e de Operações; Lucas Kok assumiu a diretoria de Geração; e Luiz Curado passou a liderar a diretoria de Novos Negócios.
“Estamos empenhados em oferecer soluções completas e relevantes aos clientes, especialmente com as mudanças regulatórias que vêm com a abertura total do mercado. Por isso, estruturamos um novo planejamento estratégico 2025–2029 e reconfiguramos nossas equipes”, destacou Ávila.