Em um cenário de aumento das energias solar e eólica, consideradas intermitentes, as hidrelétricas desempenham o papel importante de armazenamento e compensação de carga, e devem ser remuneradas por isso.
Este foi o consenso da discussão entre a diretora técnica da PSR, Angela Magalhães Gomes; o presidente do conselho de administração da Enel, Guilherme Lencastre; e o diretor-presidente da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, que ocorreu no evento “Mesa redonda Brasil: Energia e Sustentabilidade”, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) e pelo Institute of the Americas (IOA), nesta quarta-feira, 28 de junho.
Para o presidente do conselho de administração da Enel, Guilherme Lencastre, a remuneração dos atributos “precisa ser endereçada de maneira clara” se o Brasil quiser continuar sendo referência na transição energética com condições para um crescimento sustentável das intermitentes.
“Hoje já temos situações críticas, como hidrelétricas que são ligadas e religadas mais de 15 vezes ao dia, sem ter uma remuneração adicional”, exemplificou.
Segundo Angela Gomes, a variância da carga líquida do sistema (diferença entre a carga total do sistema e a energia intermitente, como solar, eólica e GD) tem ficado cada vez maior, tanto em termos sazonais quanto horários. “As hidrelétricas acompanham essa carga líquida. Quem está dando suporte a essa variância são as hidrelétricas”, disse Gomes.
O cálculo consta em estudo da PSR e considerou cenários em que hidrelétricas não teriam capacidade de armazenamento ou de rampa, resultando em uma operação do sistema muito mais cara.
Distribuidoras como DSO
Outro consenso do painel foi o papel cada vez mais complexo que as distribuidoras desempenharão à medida que os recursos de geração estiverem mais distribuídos. De acordo com Guilherme Lencastre, da Enel, hoje o Operador Nacional do Sistema (ONS) não tem visibilidade ou controle sobre os cerca de 20 GW instalados em geração distribuída no país. Para o executivo, o papel de garantir a segurança energética nas regiões caberá às distribuidoras, que atuarão como “mini-ONS”.
“Quem vai fazer essa gestão serão as futuras DSO [Operadora de Sistema de Distribuição, na sigla em inglês]. Administrar esse fluxo hoje já é muito complexo. Precisa ter um avanço na modernização do setor”, avaliou. Angela Gomes, da PSR, também destacou que as smart grids e a interface com o ONS serão importantes e demandarão investimentos.
Para o diretor-presidente da Engie Brasil, Eduardo Sattamini, a agilidade na regulação é importante para corrigir incongruências. “Éramos um setor hidrotérmico, de planejamento centralizado, quando assinamos os contratos de concessão. Quando você introduz novas tecnologias, tem que ter agilidade regulatória para corrigir as ineficiências que esse novo modelo e novas tecnologias trazem”.