Economia e Política

Distribuidoras de gás natural tentam diversificar supridores e fugir da Petrobras

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Distribuidores regionais de gás natural têm buscado diversificar os supridores, em busca de alternativas em relação à Petrobras. A Compagás, do Paraná, vai testar um projeto piloto com a Gas Bridge Comercializadora e a Tradener. Já a SCGás, de Santa Catarina, e Sulgás, do Rio Grande do Sul, contrataram capacidade firme na Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) pela primeira vez sem intermediação da Petrobras. A disputa poderá ocasionar investimentos no aumento da capacidade da rede na região.

Disputa no Sul

No caso da TBG, as contratações foram feitas por meio de chamada pública, com prazo de 2024 a 2026. Segundo a rede de gasodutos, que tem a Petrobras como sócia com 51% de participação e a estatal boliviana YPFB como minoritária, até então, a petroleira estatal brasileira era a única empresa a assinar quase a totalidade dos contratos firmes oferecidos em chamadas públicas, mas a entrada dos novos agentes trouxe dinâmica ao certame, com disputa pela capacidade disponível no trecho sul do gasoduto.

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Segundo a TBG, o cenário foi uma reação do mercado quanto ao processo de abertura do setor de gás em curso. Diante da possibilidade para negociação de gás com novos supridores, os agentes decidiram se posicionar pela reserva de capacidade de transporte por cinco anos.

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A disputa por capacidade em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul gerou uma requisição de transporte acima da capacidade existente, e a TBG apresentou à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) uma proposta técnica com compromisso de entrega de capacidade adicional no trecho a partir de janeiro de 2024.

No segundo semestre, a TBG vai lançar uma nova chamada pública, envolvendo a capacidade remanescente não contratada de 2023 a 2026, além de toda a capacidade existente para 2027, com exceção dos contratos legados. Deve ser lançada também uma chamada pública incremental, com oferta de capacidade nova de transporte, que poderá resultar em uma expansão maior do gasoduto no Sul para atender a demanda reprimida na região.

Projeto piloto no Paraná

No Paraná, a estatal Compagas fechou novos contratos piloto de suprimento de gás com as as comercializadoras Gas Bridge Comercializadora e Tradener. Os contratos envolvem a entrega de até 10 mil m³/doa de gás por 10 dias, e foram firmados na modalidade interruptível, a depender da disponibilidade da molécula pelos supridores.

O gás será ouvindo da Bolívia. Como houve redução do envio do gás pelo país, no curto prazo, a Compagas não deve ser abastecida pelo contrato, mas as comercializadoras estão monitorando a situação e buscando janelas de oportunidade para receber o gás.

O contrato piloto é importante por ser o primeiro firmado com supridores que não sejam a Petrobras. O volume é reduzido devido à indisponibilidade de capacidade de saída de transporte, ainda ocupada totalmente pela estatal pela alocação dos seus contratos antigos.

“Nossa última chamada pública para contratação de gás natural resultou, no início deste ano, em um novo contrato com a Petrobras, pois foi o único agente que demonstrou viabilidade de fornecimento firme para garantir a distribuição aos mercados consumidores. No entanto, o contrato foi negociado de forma a permitir contratações futuras com outros supridores. Agora, estamos testando a modalidade de contrato interruptível, de forma a ocupar as lacunas de ociosidade do gasoduto e conseguir viabilizar contratos de maiores volumes e prazos”, disse o presidente da Compagas, Rafael Lamastra Junior.

Redução do gás boliviano

Em maio, a Bolívia aumentou as exportações de gás natural à Argentina e reduziu, consequentemente, a disponibilidade da molécula ao Brasil. 

A exportação para a Argentina subiu para 14 milhões de m³/dia, ante a média anterior de 8 a 10 milhões de m³/dia, em uma alternativa do governo argentino de compensar a redução nas importações de gás natural liquefeito (GNL), cujo preço subiu significativamente desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro.

O governo da Argentina informou, em abril, que o país teria ainda prioridade para recebimento de até 18 milhões de m³/dia entre maio e setembro deste ano, para suprir as necessidades de uso de gás para calefação no inverno.

O ministro de Hidrocarbonetos e Energia da Bolívia, Franklin Molina, disse em maio que o país não tem problema no envio de gás ao Brasil, mas que seria necessário negociar um preço melhor. Segundo ele, o Brasil paga entre US$ 6 e US$ 7 o milhão de BTU, enquanto a Argentina concordou em pagar US$ 18 o milhão de BTU pela capacidade incremental contratada.

Molina mencionou que a estatal boliviana YPFB tentou negociar preços melhores com a Petrobras, mas sem sucesso, ao mesmo tempo em que há empresas privadas no Brasil dispostas a pagarem entre US$ 15 e US$ 18 o milhão de BTU. 

A entrega no Brasil caiu de 20 milhões de m³/dia de 2021 para uma média de 14 milhões de m³/dia, informou a Petrobras em maio. 

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