O custo energético da guerra: países desembolsaram quase US$ 1,1 trilhão

O custo da energia com a guerra 

Há pouco mais de seis meses teve início a invasão da Rússia à Ucrânia. O ataque uniu países da Europa, América do Norte e Ásia em alianças estratégicas de cunho militar e social, bem como na definição de sanções econômicas à Rússia.

Inserida nos pacotes de sanção à Rússia, um dos principais países exportadores de petróleo e gás natural mundiais, a redução das importações dos combustíveis gerou impactos também aos países desta aliança, que hoje buscam medidas para retomar os níveis de seus estoques com a chegada do inverno em meio ao aumento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica.

E são esses últimos pontos que pretendemos abordar: qual o custo energético da guerra? Somando os subsídios e alternativas buscadas pelos principais países da aliança contra a Rússia, chegamos ao montante de US$ 1,09 trilhão.

O valor não considera tributos descontados das contas de energia ou dos combustíveis, ou até mesmo, compensações mensais concedidas pelos governos.

Além disso, também destacamos outras iniciativas que, apesar de monetariamente imensuráveis no momento, impactam o setor de energia mundial.

Confira: 

Pacotes destinados pela União Europeia e outros países para o bloco europeu

A Alemanha lançou diversos mecanismos para mitigar os impactos do confronto entre Rússia e Ucrânia. Entre eles, o país aprovou um pacote de US$ 11 bilhões para empresas, como a petrolífera BP e a dinamarquesa Vestas, que reportaram prejuízos no primeiro trimestre deste ano.

O Banco Europeu de Investimento (BEI) fez um aporte de US$ 397,8 milhões na construção de uma rede de transmissão de energia conectando a Alemanha e o Reino Unido. O projeto, esperado para entrar em operação em 2028, demandará investimentos na ordem de US$ 2,8 bilhões.

A União Europeia anunciou o lançamento do plano REPowerEU, para investimento de US$ 300 bilhões numa estrutura de gás natural, no aprimoramento das infraestruturas de petróleo e no desenvolvimento de energias renováveis na Europa. O objetivo do bloco é se tornar independente da energia russa até 2027.

O bloco aprovou, ainda, US$ 1,8 bilhão em investimentos de 17 projetos ligados a energias renováveis, hidrogênio verde, captura de carbono e infraestrutura para armazenamento de energia, além de ferramentas para indústrias eletrointensivas.

Também foi realizado um investimento de US$ 60 bilhões para expansão do corredor de gás sul, num memorando de entendimento (MoU) com o Azerbaijão, para dobrar os envios de gás para o bloco, chegando a 20 bilhões de m³ (bcm) por ano até 2027. O corredor de gás sul é um complexo de três gasodutos que abastece o continente via Turquia, Grécia, Albânia e Mar Adriático.

Alemanha

O país desembolsou US$ 15,28 bilhões para a compra da Uniper SE após a sua subsidiária, a Fortum Oyj, informar que acionou seu estoque de emergência de gás natural.

Além disso, aprovou um plano econômico de US$ 175,5 bilhões, destinado para o desenvolvimento de plantas de hidrogênio verde, edifícios mais eficientes e para compra de carros elétricos.

Áustria

O governo da Áustria destinou um voucher de € 150 para as famílias para o pagamento das contas de energia. Para pessoas que moram sozinhas, o valor é contemplado caso a renda anual seja de até € 55 mil. No caso de mais de uma pessoa morando na mesma casa, o valor deve ser limitado a uma renda de € 110 mil anuais.

Bélgica

A Bélgica concedeu um ‘bônus’ nas faturas de energia, entre 18 de abril e 31 de julho de 2022, de € 100.

Brasil

Embora não sofra os efeitos diretos da crise de abastecimento energético causada pela guerra, o Brasil está exposto a algumas consequências, sobretudo ao risco de desabastecimento de insumos importados, como fertilizantes e óleo diesel. Nessa linha, em 17 de julho, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o país poderia receber, em até 60 dias, óleo diesel de origem russa.

Em outra frente, cresce a expectativa entre as empresas para o investimento em projetos de hidrogênio de origem renovável no Brasil, com o intuito de exportar o gás para a Europa, a qual precisará ampliar sua importação de combustível limpo para suprir suas necessidades energéticas, tanto do ponto de vista de segurança quanto de descarbonização.

Croácia

O governo croata vai investir US$ 179,37 milhões na construção de um gasoduto e modernização de seu terminal de GNL, ampliando a capacidade para 6,1 bilhões de metros cúbicos de gás anualmente.

O governo também limitou os preços de varejo de produtos petrolíferos. Assim, o litro de gasolina permanecerá em HRK (Kuna, moeda oficial da Croácia) 11,19 por litro - US$ 1,49/L -, enquanto o preço de um litro de diesel subirá de HRK 0,23 (US$ 0,03) para HRK 12,35 (US$ 1,64).

O governo observou que, sem a última intervenção, o Eurosuper 95 teria custado HRK 13,07 (US$ 1,74), o Eurodiesel HRK 14,82 (US$ 1,97). A margem é de HRK 0,65 (US$ 0,086) por litro para combustíveis.

“Avaliamos que a longo prazo teremos de pensar em como fazer a transição e garantir o fornecimento de energia, e todos aqueles que quiserem investir em painéis solares poderão fazê-lo sem imposto”, disse Andrej Plenković, primeiro-ministro da Croácia.

Dinamarca 

A Dinamarca lançou um plano de transição energética verde, dividido em cinco áreas: aquecimento; aumento de gás para a Europa; energias renováveis; transformação da indústria; e soluções dinamarquesas ‘verdes’ para transformar a Europa.

O país também desembolsou 2,4 bilhões de coroas dinamarquesas (DKK) - US$ 322,56 milhões) para ajudar no pagamento do aquecimento de mais de 400.000 famílias. Isenções de impostos com aquecimento alcançam 6 mil DKK - US$ 806,4 - nas contas. O país também conta com um fundo de 250 milhões DKK - US$ 33,6 milhões - que será usado em 2022 para aconselhamento à população e apoio à implantação de aquecimento urbano verde, assim como iniciativas de eficiência energética.

Espanha

A Espanha desembolsou US$ 8 bilhões para ajudar famílias no pagamento das contas de energia e em reduções fiscais para empresas prejudicadas pelos altos preços.

Estados Unidos

Os Estados Unidos aprovaram um pacote de US$ 370 bilhões em investimentos para mitigar os efeitos da mudança climática. O plano é defendido desde a fase de campanha de Joe Biden para a presidência do país, mas sua aprovação ganhou força após a alta nos preços dos combustíveis.

Entre as medidas estão a implantação de tecnologias de baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE), incluindo painéis solares e outros recursos de geração distribuída (GD), até 2030; desenvolvimento de técnicas de captura de carbono (CO2); Programa de Redução de Emissões de Metano; subsídios em créditos fiscais para a compra de carro elétrico e na instalação de painéis solares, até 30%; créditos tributários para as indústrias mais poluentes para ajudá-las na transição energética.

Finlândia

A Finlândia criou um grupo de trabalho ministerial para delinear medidas para garantir a produção e disponibilidade de energia a preços razoáveis e reduzir temporariamente o consumo de combustível. Como parte deste pacote, o grupo aprovou US$ 124,95 milhões para o setor de energia em 2022. Deste montante, US$ 24,99 milhões serão atribuídos a investimentos em armazenamento, US$ 99,96 milhões irão para projetos em grande escala de novas tecnologias energéticas, sendo US$ 49,98 milhões para hidrogênio.

França

O governo francês liberou US$ 760 milhões para projetos de transição energética industrial e desenvolvimento de tecnologias de descarbonização.

Grécia 

A Grécia anunciou um pacote de US$ 1,89 bilhão para subsidiar 94% do aumento das tarifas de energia para os consumidores residenciais, de quase 100% para indústrias, 89% para pequenas e médias empresas, e de 90% para agricultores.

Índia

De acordo com agências de notícias, a Índia importou petróleo e GNL da Rússia. As importações marítimas de óleo russo pela Índia alcançaram 700 mil barris/dia em maio. Segundo as agências, há relatos de compra de GNL russo no mercado à vista. As autoridades indianas, no entanto, afirmam que o volume importado é significativamente baixo, em comparação com o total consumido pelo país.

Irlanda

O país empreendeu uma redução de impostos, destinando € 32 para eletricidade, e € 11 para gás, com base numa fatura média de seis meses.

Também houve redução do imposto especial de consumo em US$ 0,19 (gasolina), US$ 0,14 (diesel) e US$ 0,04 (diesel marcado/diesel verde) por litro.

O país também empreendeu um retrofit de US$ 108,95 milhões para atualizações nos sistemas de energia, em especial, para as pessoas em maior risco de pobreza energética. Além disso, US$ 19,99 milhões foram alocados para implantação de painéis solares fotovoltaicos para residências que dependem da eletricidade por motivos médicos.

Ainda foi criado um regime de apoio de emergência de US$ 17,99 milhões para transportadores licenciados.

Itália

A Itália destinou US$ 4,4 bilhões à redução de impostos e taxas sobre combustíveis, além de um pacote de US$ 14 bilhões em isenções fiscais para indústria de uso intensivo de energia, e de US$ 16 bilhões para famílias e empresas lidarem com o aumento dos custos de eletricidade, gás e gasolina.

Adicionalmente, o país lançou um programa de investimento de US$ 4 bilhões para acelerar a transição energética e instalar cerca de 70 GW de usinas de energia renovável até 2030.

Polônia

O governo da Polônia anunciou o investimento de 1,9 bilhões PLN (Zloty, moeda polonesa) - US$ 400,14 milhões – em medidas em conformidade com a lei de ‘Aquecimento com compensação’ para enfrentar a temporada de inverno no país, entre outubro de 2022 a abril de 2023.

A Polônia também anunciou cortes de impostos sobre energia, gasolina e alimentos básicos, além de doações em dinheiro para as famílias. O país estendeu, ainda, os preços regulados do gás para residências e instituições como escolas e hospitais até 2027. O primeiro-ministro polonês afirmou que a redução dos impostos custará US$ 10,53 bilhões.

Reino Unido

O Reino Unido realizará investimento de US$ 100 bilhões para impulsionar o desenvolvimento da chamada ‘revolução industrial verde’, incluindo a expansão da energia eólica offshore no país, o crescimento do mercado de hidrogênio, o desenvolvimento de pequenos reatores nucleares e investimentos em veículos elétricos.

Suécia 

A primeira-ministra da Suécia anunciou que pretende distribuir cerca de € 5,70 milhões a empresas e famílias para mitigar os efeitos da subida dos preços da eletricidade, segundo agências de notícias. O país se aproxima de período eleitoral, e o auxílio consta em proposta de campanha.

Suíça

Como a Suíça não possui instalações próprias de produção de gás natural nem instalações de armazenamento sazonal, em caso de escassez, as únicas medidas disponíveis do lado da demanda, além da mudança de sistemas de combustível duplo, são reduzir o consumo de gás natural. O país vai lançar uma consulta pública sobre a possibilidade de “cotas” de fornecimento de gás em caso de escassez.

Nucleares como alternativa

A gravidade do impacto da guerra para o suprimento energético na Alemanha levou o governo deste país a divulgar um relatório sobre a prorrogação dos prazos de uso das três usinas nucleares da Alemanha, concluindo ser uma contribuição limitada para o problema causado pela guerra na Ucrânia.

Com relação às térmicas a carvão, houve a aprovação da reativação temporária dessas usinas na Europa como medida de segurança energética frente à crise imposta pela invasão à Ucrânia. A decisão visa diminuir a dependência das importações da Rússia e garantir o abastecimento de gás para o próximo inverno.

No Japão, foi retomada a discussão sobre a reestruturação de um fornecimento estável de energia para o país. Para superar a atual crise de oferta e demanda de energia, o país vai garantir a operação das dez usinas nucleares que já foram reativadas e instalar novas plantas.

De acordo com o primeiro-ministro japonês, para ampliar a introdução de energia renovável, há a necessidade de decisões políticas, como a aceleração do desenvolvimento da rede, de sistemas de armazenamento e a promoção de diversas fontes renováveis, como a eólica offshore.