Avanço da eficiência energética demanda mecanismo de compensação, diz agência em Davos

Maria Clara Machado

Autor

Maria Clara Machado

Publicado

16/Jan/2024 17:59 BRT

Para o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), Faith Birol, empresas, governos e consumidores não vão priorizar o uso mais inteligente da energia se não houver incentivos e regulações para isso. “Todo mundo concorda que a eficiência energética é algo bom, mas não está evoluindo rápido o suficiente”, disse Birol no painel Transformando a demanda energética, do Fórum Econômico Mundial, nesta terça-feira, 16 de janeiro.

O diretor da agência mencionou vantagens do uso eficiente da energia, como a redução nos custos para consumidores, maior segurança energética para os países e menor pegada de carbono. Mesmo assim, ele avalia que são necessárias medidas regulatórias para que o assunto avance.

“As empresas não vão investir em eficiência energética apenas para fazer um serviço público. Só vão fazer se tiverem interesse econômico, para ser bem franco. Então, deve haver algum mecanismo para assegurar que se as empresas colocarem a eficiência energética em prática, terão algum benefício competitivo”, disse Birol.

Para ele, os consumidores também “não vão economizar energia por economizar. Deve haver padrões e normas”. Como exemplo, ele mencionou que o consumo de aparelhos de ar-condicionado no Japão é cerca de três vezes menor do que em outros países da Ásia por conta de padrões para os equipamentos.

Birol defendeu que tais interesses comerciais e padrões sejam “reforçados e implementados” pelos governos, mas reconheceu que esta não é uma tarefa simples, já que medidas de eficiência energética são transversais a diferentes ministérios dentro da administração pública.

Mesmo assim, o diretor classificou como “boa notícia” o compromisso de 200 países durante a última Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) em dobrar a taxa de desenvolvimento da eficiência energética e o fato de que 75% dos países aumentaram ou colocaram novos padrões para o tema.

O papel de governos e reguladores também foi mencionado pela presidente da empresa de produtos químicos Syensqo SA, Ilham Kadri. Como representante de grandes consumidores de energia, Kadri destacou a importância de haver energia segura e a preço acessível para que as indústrias consigam estabelecer melhores práticas.

Segundo ela, a energia na Europa é cerca de quatro vezes mais cara do que em outros países. A executiva também mencionou o impacto da regulação nos negócios, exemplificando que uma licença na Europa pode demorar dois ou três anos para ser concedida.

Para a executiva, é importante que o governo e as políticas regulatórias colaborem com as indústrias em relação às políticas de energia e para facilitar o ambiente de inovação, que possibilita o desenvolvimento de modelos produtivos mais eficientes.

O presidente do Mahindra Group, Anish Shah, compartilhou como o grupo de fabricação de veículos conseguiu reduzir em cerca de 50% o uso de energia em suas plantas. Segundo Shah, há centenas de projetos em estudo simultaneamente, cada um com pequenas contribuições para a redução no uso de energia que, somadas, proporcionam grande diferença.

A regulação também foi mencionada pelo presidente global da PwC, Robert Moritz. Para ele, as empresas ainda não têm visibilidade suficiente sobre quais seriam os melhores caminhos para aumentar sua eficiência energética.

O presidente da Schneider Electric SE, Peter Herweck, comentou sobre o impacto que as construções têm sobre as emissões de carbono. Segundo o executivo, cerca de 30% das emissões estão relacionadas às edificações, e há um grande desafio em tornar as atuais construções mais eficientes ao mesmo tempo em que se constroem habitações sustentáveis para uma população crescente.