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Fabricantes de aerogeradores pedem reforma tributária e mecanismo de repasse de custos

As turbulências enfrentadas pelos fabricantes de aerogeradores nos últimos anos, relacionadas aos efeitos da pandemia e da guerra na Europa, incluindo a disparada dos preços de componentes, devem continuar pesando sobre os resultados da indústria nos próximos anos. No Brasil, os fabricantes defendem uma discussão séria em torno de uma reforma tributária e da criação de mecanismos financeiros que permitam o repasse dos custos sem inviabilizar os projetos de geração de energia.

30/01/2015- Jacobina- BA, Brasil- A Bahia já conta com 165 usinas de energia eólica, 33 delas em operação. Nesta sexta-feira (30), a cidade de Jacobina, no centro-sul baiano, ganha mais uma fábrica do setor, a Torres Eólicas do Nordeste (TEN), com investimentos de cerca de 30 milhões de euros, resultado da união entre o grupo […]
30/01/2015- Jacobina- BA, Brasil- A Bahia já conta com 165 usinas de energia eólica, 33 delas em operação. Nesta sexta-feira (30), a cidade de Jacobina, no centro-sul baiano, ganha mais uma fábrica do setor, a Torres Eólicas do Nordeste (TEN), com investimentos de cerca de 30 milhões de euros, resultado da união entre o grupo […]

As turbulências enfrentadas pelos fabricantes de aerogeradores nos últimos anos, relacionadas aos efeitos da pandemia e da guerra na Europa, incluindo a disparada dos preços de componentes, devem continuar pesando sobre os resultados da indústria nos próximos anos. No Brasil, os fabricantes defendem uma discussão séria em torno de uma reforma tributária e da criação de mecanismos financeiros que permitam o repasse dos custos sem inviabilizar os projetos de geração de energia.

O tema foi discutido por representantes dos principais fabricantes de aerogeradores durante painel do evento Brazil Windpower, organizado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), o Canal Energia e o Global Wind  Energy Council (GWEC).

João Paulo Gualberto da Silva, diretor superintendente da WEG Energia, lembrou que em março de 2021 o cobre, um dos componentes dos equipamentos, estava negociado a US$ 5.400 a tonelada, e depois disso chegou a bater quase US$ 11 mil a tonelada. 

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A logística é outro custo elevado que pesa sobre a produção dos aerogeradores. Segundo Roberto Veiga, diretor da Goldwind no Brasil, só a logística de componentes chega a 30% dos gastos com uma máquina, sem contar a influência do custo do diesel no transporte dos equipamentos. 

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“Não sei onde isso vai parar, mas eu vejo que os fabricantes não conseguem repassar porque têm os preços corrigidos em IPCA”, disse Gualberto da Silva, da WEG. Para ele, a situação “não é muito boa” pelo menos até meados de 2023, quando os contratos firmados antes da crise, com premissas antigas, serão entregues.

Já Marcelo Aparecido Costa, diretor de Compras da Nordex, não vê melhora da rentabilidade pelo menos nos próximos dois anos, por conta de aumentos de custos que ainda serão consequência da onda inflacionária que afeta o mundo. “A nova onda de aumento de custos na cadeia vai demorar a ser absorvida”, disse.

“Existe um estoque de contratos assinados em condições pré-pandemia que ainda estão sendo entregues. Veio a covid, veio Putin, veio a eleição, o imprevisível foi a tônica dos últimos anos”, disse Rodrigo Ugarte Ferreira, head de procurement para América Latina da Vestas.

O executivo da Vestas afirmou que o setor ainda não aprendeu a lição, mas está começando a aprender com uma agenda de propostas para melhorar a situação. Para ele, transformar o Brasil numa plataforma mundial de produção de equipamentos para geração eólica envolve uma reforma tributária, já que hoje a carga elevada de impostos não estimula a produção local. “O Brasil não pode ser um mercado de duty free, como vimos em alguns casos”, afirmou Ferreira.

Além da questão tributária, Felipe Ferrés, diretor-geral da Siemens Gamesa no Brasil, afirmou que é preciso um diálogo amplo no desenvolvimento de mecanismos de repasses de preços.

Segundo ele, não é possível adotar indexadores relacionados às commodities dos componentes, já que cada fabricante tem sua composição, algumas torres são de concreto, e outras de aço, por exemplo. “Se cada um tiver seu indexador, a indústria será prejudicada, porque não existe modelo para repassar para a indústria”, disse.

O ideal, para Ferrés, é que o setor tenha uma “discussão de forma ampla e séria”, desenvolvendo mecanismos e dispositivos financeiros que protejam todos os lados da cadeia, levando também em consideração os consumidores. “Essa é a principal lição de casa, não basta falar ‘não, não e não’, temos que ter uma discussão e sair com algo aceito para implementar que seja o melhor caminho para todos”, disse.