(com Natália Bezutti)
A estatal mineira Cemig pretende vender sua participação restante na Taesa, de 21,68% do capital social total, em um leilão na B3 até o fim de julho deste ano. O edital, com as condições da operação, deve ser publicado na primeira quinzena de junho.
Segundo a Cemig, o contrato de compra e venda de ações vai estabelecer um ajuste de preço para proventos a serem pagos pela Taesa aos controladores e aportes a serem realizados pela estatal mineira entre uma data base que será definida pelo edital e a data de fechamento da operação.
Os potenciais participantes do leilão poderão realizar diligência legal, financeira e técnica na Taesa por meio do data room eletrônico disponibilizado pela Cemig, assim como por visitas técnicas a unidades especificadas da Taesa, nos termos a serem acordados com a administração da transmissora de energia. O custo de acesso ao data room é de R$ 100 mil.
Segundo fontes ouvidas pela MegaWhat, a venda da Taesa deve enfrentar dificuldades para ser concretizada, principalmente devido ao preço das ações da transmissora, consideradas “caras” por analistas atualmente. Apenas neste ano, as units da Taesa (TAEE11) acumulam alta de 18,3%, já refletindo a expectativa dos acionistas em relação à venda.
Como a Cemig é uma empresa estatal, pode enfrentar dificuldades para vender as ações da companhia a um preço inferior ao praticado na bolsa, por complicações com, por exemplo, o Tribunal de Contas do Estado.
Além disso, a Cemig não é a controladora única da Taesa. Ela divide o bloco de controle com a ISA Brasil (que também é a dona da Cteep), que tem 14,88% das ações da companhia. Como não se trata de venda de controle, os acionistas minoritários não devem ter direito a tag along – isto é, de acompanhar a Cemig e vender suas ações ao mesmo preço que a companhia.
A ISA pode fazer uma oferta pela parcela da Cemig, e se tornar única controladora da companhia, mas o cenário fica complicado pelo momento que a própria ISA enfrenta na Colômbia, com sua incorporação pela também estatal Ecopetrol, em meio a protestos da população contra uma reforma tributária.
Se outro investidor fizer uma oferta pela participação, a ISA poderá exercer o direito de preferência previsto no acordo de acionistas e vender sua parcela no mesmo preço ou mesmo cobrir a oferta e levar o controle da Taesa.
Uma terceira complicação para a transação é a joint venture que a Taesa tem com a Alupar, a TBE, que representa cerca de 20% do faturamento da Taesa. O acordo de acionistas da TBE determina que, em caso de mudança no controle da Taesa, a Alupar tem o direito de comprar a participação desta na joint venture.
Isso muda a avaliação da Taesa, que receberia um montante em caixa agora, por conta da venda, mas deixaria de contar com o caixa gerado pelas operações no futuro.
Para a Cemig, o movimento de venda da Taesa neste ano é estratégico. Por conta da venda da Light, a empresa tem um prejuízo fiscal acumulado, e se vender outro ativo dentro do mesmo exercício pode praticamente anular os impostos que precisariam ser pagos referentes à transação.
Em teleconferência com investidores e analistas realizada ontem, 6 de maio, o presidente da Taesa, André Moreira, comentou que a venda da participação da Cemig é um movimento dos acionistas que em nada muda a gestão da empresa.
“Temos apoio dos acionistas para manter foco na consolidação do setor, planejamento estratégico, motivação e bem para aumentar o valor da companhia e para os stakeholders”, disse Moreira.