O ano de 2023 representa um ponto de virada em relação às emissões do setor de energia, que devem ter alcançado o pico no último ano. A avaliação é do think tank Ember, baseada no crescimento da geração renovável, que alcançou 30% da geração total em 2023 e que deve continuar crescendo, a ponto de superar o aumento na demanda em 2024.
A instituição avalia que o aumento na demanda em 2024 deve ser de 968 TWh, enquanto a geração renovável deve crescer 1,3 mil TWh. Com isso, a geração fóssil deve cair cerca de 2%, equivalente a 333 TWh, em uma tendência que deve permanecer para os próximos anos.
“A próxima década verá a transição energética entrar em uma nova fase. Um declínio permanente no uso de combustíveis fósseis no setor de energia em um nível global agora é inevitável. Já se prevê que o crescimento de geração renovável, liderada por solar e eólica, deve ser mais acelerado do que o aumento na demanda”, diz relatório da Ember lançado nesta quarta-feira, 8 de maio.
Assim, o think tank avalia que as emissões do setor devem se reduzir já a partir de 2024. Em relação a intensidade de carbono, o pico foi atingido em 2007, com a emissão de 546,7 gramas de CO2 por kWh, montante 12% superior ao registrado em 2023.
Respondendo por mais de um terço do carbono liberado na atmosfera, o setor de energia seria o líder em emissões, segundo a Ember, e por isso precisa ser o primeiro a se descarbonizar para o cumprimento das metas globais relacionadas às mudanças climáticas. “A energia limpa também é fundamental para descarbonizar transporte, aquecimento e boa parte da indústria, ao substituir a queima de combustíveis fósseis”, diz o relatório.
Geração renovável cresce puxada por solar e eólica
A Ember avaliou a geração de 80 países em 2023, que correspondem a 92% da demanda elétrica global, assim como a série histórica de 215 países. O estudo apontou que, pela primeira vez, a geração renovável ultrapassou a marca de 30% globalmente – no ano 2000, as fontes renováveis correspondiam a 19% da geração.
A fonte solar foi a que mais cresceu pelo 19º ano consecutivo, e pela segunda vez superou a geração eólica como maior fonte de energia nova. Em 2023, 13,4% do abastecimento elétrico veio da fonte solar, montante que no ano 2000 era de apenas 0,2%.
A China foi o país que mais contribuiu para o crescimento da geração renovável em 2023, respondendo sozinha por 51% da nova geração solar e por 60% da nova geração eólica. Considerando também a geração nuclear, 40% da eletricidade no país veio de fontes de baixo carbono.
A geração renovável em 2023 poderia ter sido ainda maior sem os problemas climáticos que prejudicaram a geração hídrica na China e em outros países, e que levaram a um aumento de 1% no uso do carvão como fonte de energia.
Brasil teve o segundo maior acréscimo em eólica e solar
Em 2023, o Brasil respondeu por 7% da nova geração eólica e teve o quarto maior acréscimo de geração solar. “É um líder global em solar e eólica, com o segundo maior acréscimo nestas fontes em 2023, depois de ter o quarto maior em 2022, e tem a segunda matriz energética mais limpa do G20”, diz o relatório da Ember.
O think tank avalia que, graças ao crescimento das fontes eólica e solar, nos últimos dez anos o Brasil conseguiu evitar “aumento significativo” de suas emissões no setor mesmo com maior demanda e sem acréscimo de fonte hídrica.
O país é um dos três cenários avaliados pela Ember, por terem o crescimento de fontes eólica e solar mais acelerados e poderem fornecer insights para outras regiões. Os outros dois cenários são dos Países Baixos e da China.
A Ember destaca que o Brasil foi um dos primeiros países a adotar as fontes renováveis, por meio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), que incluiu também os leilões voltados apenas para estas fontes. O think tank relata que, após a crise energética de 2001, o Brasil tem criado resiliência com estas fontes renováveis em vez de usar gás ou carvão. Para isso, aproveita os recursos naturais disponíveis no país e que proporcionam geração renovável a baixo custo.
Segundo o relatório, Brasil tem a menor intensidade de carbono per capita entre os países de maior demanda. No cálculo da intensidade absoluta, o país fica atrás apenas da França.