Gargalos na cadeia global de suprimentos da indústria de geração eólica poderão impedir a viabilização de 650 GW em projetos necessários para cumprimento das metas climáticas até 2030, segundo um estudo realizado pelo Conselho Global de Energia Eólica (Gwec, na sigla em inglês) em parceria com o Boston Consulting Group.
O estudo considera diversos cenários de crescimento econômico, além da premissa de que para conter o aquecimento global a 1,5°C será necessário atingir de 2,75 TW a 3,5 TW em capacidade instalada da fonte eólica em 2030, considerando projeções da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena) e da Agência Internacional de Energia (IEA).
Por conta dos gargalos da cadeia, contudo, o Gwec prevê que a capacidade global da fonte será de aproximadamente 2 TW em 2030.
Apenas o cenário “portas abertas”, que prevê o crescimento da colaboração regional nas pontas da oferta e da demanda por equipamentos, viabiliza o crescimento projetado da capacidade instalada para conter o aquecimento global.
“Governos devem trabalhar em conjunto para garantir que o setor atenda a enorme procura por energia limpa e segura nesta década. O investimento nas cadeias de suprimentos tem registrado reveses em muitas regiões do mundo, em grande parte causados por desafios nas políticas, na regulamentação e na concepção do mercado, enquanto a própria indústria precisa enfrentar a emergência climática, adotando uma padronização com um desenho tecnológico mais global e modular”, disse Ben Backwell, CEO do Gwec.
O Brasil aparece como quinto maior hub de produção de turbinas eólicas e componentes do mundo, atrás da China, Europa, Índia e Estados Unidos, mas tem uma indústria pouco competitiva para exportação, segundo o estudo, que aponta ainda a necessidade de investimentos agora no país para desenvolvimento da indústria eólica offshore no futuro.
O estudo vê gargalos urgentes na produção de minerais raros, hoje restritos à China, e capacidade aquém da esperada de fibra de carbono, dependendo de expansões anunciadas na produção também na China, mantendo os outros países dependentes de importações.
Para os principais componentes dos aerogeradores, o estudo aponta risco de gargalos antes de 2030 em nível regional para rotores, geradores, pás, torres e fundações. As naceles de geração onshore, por sua vez, tem o mercado dominado por Índia e China, e problemas na exportação para Europa e Estados Unidos podem trazer problemas ao mercado.
O documento recomenda que as barreiras ao crescimento da indústria sejam trabalhadas pelos países, que devem fomentar a regionalização da produção para impulsionar o crescimento do setor. As políticas comerciais, segundo o estudo, precisam ajudar a construir indústrias competitivas, e não sobrecarregar os usuários finais com custos elevados.