Redução antecipada de chuvas pode comprometer armazenamento de UHEs, aponta Nottus

Poliana Souto

Autor

Poliana Souto

Publicado

22/Fev/2024 11:19 BRT

A afluência abaixo da média histórica pode ser sentida até o fim de abril, período em que o El Niño pode demonstrar sinais de enfraquecimento. Segundo Desirée Brandt, sócia-executiva e meteorologista da nottus meteorologia, mesmo com o prognóstico do fim do fenômeno meteorológico, o Brasil poderá sentir uma redução precoce das chuvas de verão, comprometendo a capacidade dos reservatórios das hidrelétricas.

“Acabou o El Niño, acabam os efeitos?  Não, a gente ainda deve sentir esses efeitos via chuvas mais pontuais e pela redução antecipada do período úmido. Historicamente, esse fenômeno costuma reduzir a chuva, não vai ser um corte de uma hora para outra, porém podemos ver que abril terá chuvas mais espaçadas”, explica a executiva em entrevista à MegaWhat.

Segundo Brandt, a influência do El Niño foi sentida no setor elétrico ao longo de todo período úmido. Em janeiro, visto que, apesar de ter uma chuva mais expressiva, ela não foi boa para aumentar as vazões", tanto a Média de longo Termo (MLT) quando a Energia Natural Afluente (ENA) estiveram abaixo do verificado no mesmo mês do ano passado. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a ENA fechou o período com valores acima da média histórica apenas no subsistema Sul, com 138% da MLT.

Nas demais regiões, o percentual ficou em patamares inferiores à média do período: o Sudeste/Centro-Oeste com 56% da MLT; Nordeste, 48% da MLT; e o Norte, 43% da MLT. Os indicadores estão entre os mais baixos para a ENA no mês de janeiro. Este cenário pode ser visto até a segunda quinzena de março e em abril, que pode registrar chuvas ainda mais “espaçadas”, beneficiando a geração solar e a eólica, especialmente no Nordeste.

Para os meses de maio a julho, época do período seco, a sócia-executiva da Nottus prevê a entrada de outro fenômeno, o La Niña, considerando as expectativas do NOAA, conhecido historicamente por apresentar atraso no período úmido.

Esse período de transição entre fenômenos pode impactar numa recomposição do nível dos reservatórios apenas no segundo semestre, e provocar o acionamento de térmicas. Historicamente, o primeiro ano da La Niña pode ser mais brando em relação aos seus efeitos, ainda assim, não se descarta o risco de atraso da consolidação da chuva do próximo período úmido.

“[Caso siga os padrões históricos], o La Niña pode seguir vigente pelo menos até o primeiro trimestre de 2025. Então, por mais que a chuva atrase sua chegada, ela também pode ir embora mais tarde".

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