A onda de calor, intensificada pelo El Niño, levou o país a bater um novo recorde de demanda máxima da carga, superando 101,4 GW por volta das 14h20 desta terça-feira, 14 de novembro, conforme dados do Operador Nacional do Sistema (ONS). E o movimento tem levado a Eneva, com grande capacidade instalada termelétrica a gás natural e a carvão mineral, a despachar quase todo o seu parque para atendimento do pico da carga.
Durante teleconferência de resultados do terceiro trimestre, Lino Lopes, CEO da Eneva, comentou que o Operador Nacional do Sistema (ONS) tem recorrido à demanda complementar desde o final de setembro. No entanto, como a carga fica mais elevada em novembro, esse recurso tem sido mais constante.
“Há duas semanas a gente teve despacho no complexo de Parnaíba e, nessa semana, a gente teve novo despacho. Mais do que isso, essa semana praticamente todas as termelétricas do Brasil foram acionadas. Hoje a demanda de pico deve atingir algo em torno de 105 GW, que é um recorde”, disse o CEO.
Segundo Lino Lopes, as usinas a carvão mineral também precisaram ser acionadas, a de Itaqui (360 MW) no Maranhão, e a de Pecém II (365 MW), no Ceará. Considerando o parque termelétrico operacional a gás e a carvão, a Eneva soma 3,87 GW de capacidade instalada.
Com a maior demanda do mercado brasileiro, e com as chuvas em maior volume para a Argentina por conta do El Niño, o CEO também comentou que a exportação de energia para o país foi interrompida.
Também relacionado aos impactos das mudanças climáticas, Marcelo Habibe, diretor Financeiro da Eneva comentou que não houve nenhum efeito no ritmo das obras do projeto de Azulão por conta da seca na região Norte.
“Se está havendo algum impacto, ele é positivo. Primeiro porque redução das chuvas, a gente está num período de construção de fundações, de estaqueamento de fundações, onde a redução de chuva favorece o desempenho das atividades e toda a logística que está sendo feita nesse período ainda é via rodoviária. Então, realmente a baixa do rio não teve nenhum impacto”, disse o diretor.
Usinas da Eletrobras “cabem no bolso” da Eneva
E processo de venda do portfólio de térmicas a gás da Eletrobras, desperta o interesse da Eneva. A carteira inclui as UTEs Mauá 3 (583 MW); Aparecida (166 MW); Santa Cruz (932 MW); e o conjunto do “Complexo Interior” (Anamã, Caapiranga, Codajás e Anori), que somam 14,23 MW. Todas as usinas estão localizadas no Amazonas.
Também estão incluídos no processo de desinvestimento os direitos de reversão, em 2025, do seu “Complexo PIEs” (Cristiano Rocha, Tambaqui, Manauara, Ponta Negra e Jaraqui), totalizando 586,3 MW, e o projeto de Rio Negro, com capacidade total de 2.059 MW.
“A gente tem interesse nos ativos, obviamente, ao preço certo, e estamos participando. Agora vai iniciar uma fase de diligência, sendo um processo que ainda vai levar alguns meses”, contou Marcelo Habibe.
Sobre como se daria a aquisição, o diretor Financeiro da empresa destacou que a Eneva caminha em uma trajetória de desalavancagem que, combinado com o resultado que esses ativos poderiam gerar ou gerarão para a companhia, poderia ser realizada uma estrutura de financiamento com o próprio encaixe do ativo, assim como a de Termo Fortaleza.
“Uma aquisição onde a gente usou o balanço do ativo adquirido para alavancar a companhia e, no final do dia, a companhia teve uma desalavancagem média ponderada. Dá para fazer esse tipo de transação com os ativos da Eletrobras, tem mercado para isso, na prática dá para funcionar, mas a estrutura de capital da eventual aquisição ainda não foi discutida com o conselho, então é muito cedo para falar que a gente fará. Mas cabe, cabe no bolso, sim”, completou.
Resultado do trimestre
A Eneva reportou prejuízo de R$ 86,9 milhões no terceiro trimestre de 2023, revertendo lucro de R$ 237,8 milhões no mesmo período do ano passado. O Ebitda alcançou R$ 891,7 milhões no 3T23, aumento de 49,3% frente ao mesmo trimestre de 2022.
De julho a setembro, a empresa ainda iniciou a reestruturação da dívida da Celse, concluída no quarto trimestre, e que buscou eliminar condições impostas nos contratos de dívidas celebrados anteriormente à aquisição da subsidiária que dificultavam o aproveitamento de oportunidades relacionadas ao desenvolvimento do Hub Sergipe.
Quanto ao seu complexo solar Futura 1, a empresa destaca uma estabilização, com Ebitda reportado de R$ 16,5 bilhões, e impactado pelas restrições de operações do ONS após corte automático de carga no SIN e pela indisponibilidade de 30% em função das manutenções em determinadas UFVs.
Ao final de outubro, o parque encontrava-se com todas as 22 usinas solares fotovoltaicas operacionais, totalizando 692,4 MWac de capacidade instalada.