Uma tempestade de neve atinge o Texas e outros estados americanos desde segunda-feira, 15 de fevereiro, deixando milhões sem energia. A energia foi gradualmente restabelecida, e na manhã dessa quinta-feira, 18 de fevereiro, ainda havia cerca de 500 mil unidades consumidoras no escuro. No auge do apagão, mais de 4,4 milhões de consumidores ficaram sem energia.
Nos Estados Unidos, não há um único operador das redes de energia, como é no Brasil o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O Texas é o único estado americano isolado dos demais sistemas do país, e tem seu sistema operado pelo Electric Reliability Council of Texas (Ercot).
Como é isolado de outros grids, o Texas acaba dependendo unicamente da sua própria geração de energia, cuja falha deixou milhões no escuro – e no frio – nos últimos dias. O sistema do Ercot não inclui um mercado de capacidade, no qual o operador paga um valor fixo para que a usina fique sempre disponível para o sistema, independentemente do preço no mercado spot.
É o chamado mercado “energy only”, no qual o gerador fica no sistema enquanto fizer sentido econômico financeiro para ele: ou por contratos bilaterais ou vivendo de preços spot elevados em momentos de escassez.
No Brasil, a lógica é parecida. A diferença, que garante que o país não enfrente um problema semelhante ao do Texas, é que existe a obrigação das distribuidoras adquirirem energia por disponibilidade, a fim de abastecer o mercado cativo.
É por isso que se fala em separação de lastro e energia, para a criação de um mercado de capacidade no país. Hoje, a confiabilidade do sistema, garantida por meio da contratação de termelétricas, está concentrada no mercado cativo, que viabiliza esses empreendimentos por meio de leilões.
O mercado livre de energia também contribui com a expansão, mas principalmente por renováveis como eólicas e solares, que não podem ser despachadas por necessidades do sistema, uma vez que são intermitentes.
A Medida Provisória (MP) 998 trouxe a previsão legal da realização de leilões de reserva de capacidade, uma forma de contratar termelétricas custeadas tanto por consumidores livres quanto cativos, para abastecerem o sistema em momentos de pico de potência. Essa foi uma forma provisória encontrada pelo governo para garantir a confiabilidade da expansão enquanto a medida estruturante (separação de lastro e energia) não é aprovada no Congresso.
Situação no Texas
O sistema do Texas é considerado robusto, com grande capacidade de geração termelétrica. O problema é que os equipamentos não são adequados para o frio extremo, e houve inclusive problemas nos gasodutos que abastecem as usinas.
A onda de frio aumentou a demanda por energia, que chegou a um pico de 69,2 GW na noite de domingo, devido ao uso de energia para aquecimento. A carga continuou elevada ao longo de segunda-feira, ao mesmo tempo em que a geração caiu, levando o estado a um grande apagão.
O congelamento de turbinas eólicas e painéis solares fotovoltaicos tirou cerca de 18 GW do sistema, enquanto problemas em termelétricas a carvão e gás natural reduziram a geração em mais 28 GW. As usinas passam por problemas no abastecimento de gás natural, baixa pressão nos gasodutos, e congelamento de equipamentos, que são adequados para temperaturas muito altas, mas não para o frio extremo.
Na madrugada de segunda-feira, o Ercot informou que precisou cortar cerca de 10,5 GW da carga, devido às condições adversas do clima, que derrubaram a geração de energia.
Na quarta-feira, enquanto o Ercot se esforçava para restabelecer a energia, mais geração foi tirada do sistema, atrasando o retorno da energia aos consumidores do estado.
Com o aumento da carga, devido ao restabelecimento do acesso à energia, o Ercot sugeriu que as concessionárias locais promovam rodízio, para garantir que os problemas não se repitam.
O governo do Texas determinou ainda que os produtores de gás natural não poderão exportar o produto para fora do estado até 21 de fevereiro, em uma tentativa de restabelecer o funcionamento de termelétricas e garantir uso de gás para aquecimento.