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Em crise, Brasil Biofuels pode deixar de atender térmicas de sistemas isolados

A Brasil Biofuels (BBF), produtora de óleo de palma e que tem usinas térmicas na região Norte, pode deixar consumidores sem energia nos estados do Acre, Amazonas, Rondonia e Roraima. Em crise financeira, a empresa está com valores bloqueados na Justiça e alega não ter meios para pagar pelo abastecimento de combustível, transportadores e empresas de logística para entrega. A BBF tem 25 térmicas em operação, com capacidade de geração de 86,8 MW.

Em crise, Brasil Biofuels pode deixar de atender térmicas de sistemas isolados

A Brasil Biofuels (BBF), produtora de óleo de palma e que tem usinas térmicas na região Norte, pode deixar consumidores sem energia nos estados do Acre, Amazonas, Rondonia e Roraima.

Em crise financeira, a empresa está com valores bloqueados na Justiça e alega não ter meios para pagar pelo abastecimento de combustível, transportadores e empresas de logística para entrega. A BBF tem 25 térmicas em operação, com capacidade de geração de 86,8 MW. A situação foi antecipada pelo Capital Reset e confirmada pela MegaWhat.

Em ofício conjunto com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a distribuidora local Energisa demonstra preocupação para a continuidade do suprimento de energia elétrica nas localidades atendidas pela BBF, especialmente para os municípios de Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Jordão e Santa Rosa do Purus, no Acre, que só são acessíveis pelos rios Juruá, Tarauacá e Purus, que têm janelas de indisponibilidade no período de seca que vai de abril a novembro. Nestes municípios, mais de 46 mil clientes são abastecidos por quatro termelétricas num total de 11,54 MW.

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Assim, caso se verifique uma insuficiência de estoque de óleo diesel no fim de março, que marca o final do período úmido, a Energisa avalia que o suprimento de energia elétrica aos municípios de Jordão e Santa Rosa do Purus pode ficar comprometido de forma “quase irreversível” até novembro de 2024. O rio Juruá, por onde se acessam os municípios de Porto Walter e Marechal Thaumaturgo, possibilita navegação de embarcações menores durante o período seco. Assim, comprometimento para estes municípios poderá ser menor, ainda que o custo logístico fique mais elevado.

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Além da questão financeira da BBF, a Energisa também menciona que fortes chuvas atingiram o estado do Acre no final de fevereiro, tornando ainda mais complexa a logística de transporte e armazenamento na região.

Em Rondônia, não há complexidades de navegabilidade, mas o risco se dá pelos efeitos de seca por conta do fenômeno El Niño, que poderiam causar o desabastecimento de diesel. No estado, a BBF possui 12 UTEs com capacidade de geração de 8,1 MW, atendendo mais de 7 mil clientes.

No ofício, a Aneel compartilha com a preocupação demonstrada pela distribuidora, pois há necessidade de se estocar óleo diesel para garantir a operação dos sistemas isolados por todo o período seco, que ocorre entre abril e novembro. “Caso não haja abastecimento de combustível nos níveis necessários antes desse período, há riscos de corte de carga nas referidas localidades durante o período”, diz a Aneel no documento.

Além disso, a Aneel registra que dificuldades financeiras enfrentadas pela BBF podem prejudicar a correta destinação dos recursos da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC) para o suprimento de combustível das usinas, que também correm risco de desabastecimento da solução de atendimento.

No ofício, a Aneel deu o prazo para resposta da BBF até 19 de março sobre as questões mencionadas. Uma nota técnica foi publicada ontem, mas está com acesso restrito.

Procurada pela MegaWhat, a Energisa informou que “está em diálogo com a BBF e órgãos competentes, que detêm os meios para viabilizar o suprimento de óleo para a região”.

Sobre a crise da BBF

Em 8 de fevereiro, a BBF divulgou ao mercado fato relevante em que comunica que Assembleia Geral Extraordinária (AGE) aprovou a suspensão de ações e execuções atuais ou futuras, com o intuito de viabilizar uma solução consensual com seus principais credores. A AGE também aprovou eventual pedido de Recuperação Judicial caso houvesse necessidade.

A ideia seria, neste período, instaurar processos de mediação com os principais credores junto à Câmara Especial de Resolução de Conflitos em Reestruturação de Empresas.

Em 21 de fevereiro, a Justiça de São Paulo deferiu o pedido de suspensão das execuções contra o grupo. Entretanto, um dia antes credores do Grupo BBF conseguiram na justiça o bloqueio de valores que somam mais de R$ 10 milhões da empresa.

Impossibilitada de movimentar suas contas, a BBF solicitou à Aneel que o valor referente a CCC arrecadado pelas distribuidoras do Acre, Rondônia, Amazonas e Roraima fosse repassado diretamente aos fornecedores de combustível, transportadores e logísticas de entrega.

“O pedido se fundamente na necessidade de manutenção da operação, bem como, para que o recurso público da CCC alcance sua finalidade específica que é a garantia de geração de energia junto ao Sistema Isolado” diz a BBF em resposta ao ofício da Aneel.

Segundo o Capital Reset, a crise na BBF já estaria impactando diretamente os funcionários da companhia, que não teriam conseguido benefícios como vale refeição e transporte no último mês.

O que diz a BBF

Procurada pela MegaWhat, a BBF disse que não há atrasos no salário dos funcionários. “Os débitos atrasados relativos à folha de pagamento são relacionados às despesas administrativas para gestão de pessoas. Tais débitos estão em renegociação com os credores e não afetam a remuneração dos colaboradores da empresa”, disse a empresa.

A BBF também destacou que jamais deixou faltar energia elétrica nas regiões em que opera. “A companhia segue focada e aplicando todos os esforços necessários, como vem fazendo nestes últimos anos, para que não haja risco no abastecimento e impactos na geração de energia, com plano de contingência vigente e consistentemente prestando esclarecimentos sobre seu plano de ação à Aneel”.


*Matéria atualizada às 16h17 para inclusão de posicionamento da Energisa