
A Gold Energia iniciou tratativas com credores sobre uma proposta de recuperação extrajudicial que envolve o pagamento de 2,5% da dívida, limitada ao total de R$ 25 milhões, apurou a MegaWhat.
No total, a lista de credores da companhia soma mais de R$ 1,1 bilhão em valores devidos considerando a marcação a mercado (MTM), que avalia os contratos com base nos preços atuais, mesmo que ainda não vencidos.
Apenas os três primeiros credores, todos comercializadores pertencentes a grandes grupos do setor elétrico, somam R$ 400 milhões em dívida. No total, a empresa tem mais de 40 credores.
A MegaWhat confirmou com alguns credores o recebimento da proposta, na qual a Gold se comprometeu ainda a destinar, pelo período de 10 anos a contar da homologação do plano, 85% dos recursos líquidos que entrarem no seu caixa em eventos de liquidez.
Em uma petição preparatória do pedido de recuperação extrajudicial enviada a credores, a Gold argumentou que a reestruturação proposta tem o objetivo de compatibilizar a sua atual capacidade de geração de receita com as obrigações financeiras, para equacionar o fluxo de caixa e consolidar a dívida em um único instrumento.
Ao justificar a crise enfrentada pela comercializadora desde os últimos meses de 2024, a Gold ressaltou que o mercado de energia elétrica é marcado pela alta volatilidade ligada à hidrologia.
“O ano de 2024 foi marcado pelo que se acredita ser a maior seca da história do Brasil”, diz a petição, que atribuiu a essa razão a elevação do PLD a partir de julho do ano passado. “Apenas entre os meses de maio e outubro, o aumento acumulado no PLD foi superior a 700%”, diz a ação.
Recuperação extrajudicial da Gold Energia
Os advogados da Gold lembraram ainda que no fim de 2024 outra comercializadora, a Máxima Energia, requereu uma liminar contra execução de credores, que depois foi convertida em um pedido de homologação de plano de recuperação extrajudicial.
A ação diz que após a dificuldade financeira enfrentada pela Máxima Energia, começaram a circular os rumores de uma crise também envolvendo a Gold.
“Embora naquela ocasião não houvesse qualquer fundamento para tanto, os rumores geraram incerteza entre seus clientes, parceiros e fornecedores, os quais ainda estavam receosos com o expressivo haircut imposto pela Máxima. Esse cenário de instabilidade levou vários agentes do mercado a manifestarem interesse pela rescisão de contratos de compra e venda de energia celebrados com as Recuperandas, além de inúmeras exigências para a concessão de garantias ou até mesmo ameaças de suspensão de pagamento, agravando a situação financeira da Gold Comercializadora e, por consequência, da Gold Energia”.
Credores da Gold iniciaram o ajuizamento de demandas judiciais para rescindir contratos e cobrar valores da Gold, e “foi assim que os meros ‘boatos’ se materializaram, acelerando – ou até mesmo criando – a momentânea crise que hoje afeta as recuperandas”.
Adesão à proposta e próximos passos
Segundo o documento, credores detentores de um terço da dívida já aderiram à proposta.
Para que a situação seja resolvida por meio de uma recuperação extrajudicial, credores representantes de mais de 50% dos passivos precisam aceitar as condições propostas em até 90 dias contados a partir da inicial.
A MegaWhat procurou a Gold, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.