A nota técnica divulgada na última quinta-feira, 22 de julho, pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em que o órgão alerta para o risco ao atendimento à ponta em novembro, contém cenários mais aderentes às condições atuais do sistema elétrico brasileiro, em relação ao documento anterior, na opinião de especialistas ouvidos pela MegaWhat. Entre as adequações feitas pelo operador estão o aumento da previsão de crescimento do PIB e a redução da disponibilidade termelétrica.
“Este relatório mostra uma situação mais crítica do que no relatório anterior, já que considera uma carga maior, em consequência da retomada do crescimento econômico, para ser atendida, além de uma possibilidade de disponibilidade térmica inferior, em função de informações prestadas pelos agentes”, afirmou o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética e professor titular da UFRJ, Maurício Tolmasquim, à MegaWhat.
Segundo o especialista, as informações fornecidas pelos agentes levaram a uma perspectiva expressiva de redução da oferta termelétrica de 4 mil megawatts (MW) médios em outubro e novembro.
Na nova nota técnica, o ONS também considerou uma previsão de crescimento do PIB em 2021 de 4,5%, em relação ao ano passado. O documento anterior foi elaborado a partir de uma expectativa de crescimento econômico de 3,3%. Neste mês, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o PIB brasileiro crescerá 5% este ano.
“Penso que esse estudo do ONS traz cenários que podem se aproximar mais da realidade que será enfrentada, considerando a perspectiva de crescimento de PIB esperada pelo mercado e a disponibilidade termelétrica que de fato vem sendo observada nos últimos meses. Algo que já vínhamos apontando nos nossos estudos”, disse a presidente da MegaWhat Consultoria, Ana Carla Petti.
No relatório de análise de conjuntura da crise hídrica desta semana, a MegaWhat Consultoria indicou que um ponto de atenção é relativo a manutenções pelas quais termelétricas terão que passar, em função do número de horas de operação. Com relação ao monitoramento do setor, a consultoria indica estágio de atenção com relação à flexibilidade operativa e o crescimento da carga (a partir de uma alta do PIB estimada em 5%) e estágio de alerta em relação à restrição termelétrica.
Tolmasquim, que vem alertando há algumas semanas sobre o risco de blecautes pontuais, reafirmou que, após a divulgação da mais recente nota técnica do ONS, a situação de maior atenção continua sendo o fornecimento de potência no horário de pico de demanda. “No cenário conservador, haveria déficit de potência em novembro e, no cenário superior, uma sobra praticamente nula de potência em novembro. Este sem dúvida é o cenário mais preocupante, pois, mesmo em um cenário otimista, chegamos a novembro praticamente sem margem de potência, ou seja, os riscos de blecautes não são desprezíveis”, completou.
O ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica Edvaldo Santana elogiou a postura de transparência do ONS, com a ampla divulgação da nova nota técnica. Para ele, a situação de alguns reservatórios hidrelétricos do subsistema Sudeste/Centro-Oeste será crítica já em outubro, e não no fim de novembro.
Para um especialista do setor, em condição de anonimato, a nota técnica do ONS trouxe resultados preocupantes. “Eles [ONS] deixaram bem claro que acabaram os recursos para atender a ponta em novembro”, disse.
Segundo o presidente da consultoria PSR, Luiz Augusto Barroso, a nova nota técnica do ONS possui diagnóstico convergente à análise apresentada pela empresa no inicio de julho. “No estudo da PSR, mostramos que o risco de racionamento de energia e de problemas de potência em 2021 varia de 15 a 30%, mas que pode ser reduzido com as ações em andamento pelo governo visando buscar nova oferta. Não se pode menosprezar a gravidade da situação atual e teremos um segundo semestre bastante desafiador”, completou o executivo.
* Reportagem atualizada às 15h09.