Hidrogênio

Elétricas brasileiras enfrentam dilema 'ovo ou a galinha' em projetos de hidrogênio verde

O maior desafio para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde de grande escala no Brasil está no equacionamento econômico e financeiro. Para que o hidrogênio seja certificado como de baixo carbono, deve usar uma geração renovável durante todo o processo de eletrólise, mas o investimento nas usinas de geração de energia depende de contratos de compra de energia para ser viabilizado.

Elétricas brasileiras enfrentam dilema 'ovo ou a galinha' em projetos de hidrogênio verde

O maior desafio para o desenvolvimento de projetos de hidrogênio verde de grande escala no Brasil está no equacionamento econômico e financeiro. Para que o hidrogênio seja certificado como de baixo carbono, deve usar uma geração renovável durante todo o processo de eletrólise, mas o investimento nas usinas de geração de energia depende de contratos de compra de energia para ser viabilizado.

Segundo Marcel Haratz, presidente da Comerc Eficiência, é mais uma situação de “o ovo ou a galinha”. “Eu crio demanda de amônia [subproduto do hidrogênio verde] para ter disponibilidade de energia, ou a disponibilidade de energia renovável vai criar a demanda por amônia?”, questionou o executivo, que tem liderado negociações para projetos de escala próximos da geração renovável no Nordeste do país, incluindo um pré-contrato com a Casa dos Ventos para instalar uma unidade de produção de hidrogênio e amônia verde no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará.

Outra empresa de olho neste mercado é a americana AES. Nos Estados Unidos, anunciou uma parceria para investir US$ 4 bilhões numa planta de hidrogênio no Texas, mas também tem planos para o Brasil. Como no país a energia renovável é mais competitiva, pelo fator de capacidade mais elevado, a companhia avalia participar de um leilão organizado na Alemanha, previsto para o fim deste ano, e que terá a finalidade de substituir o gás russo e acelerar a transição energética.

“É um leilão que a gente quer participar, trazer um projeto competitivo. Mas acho que é mais que isso, é um processo de aprendizado e determinação de alguns critérios, que vão servir de referência”, afirmou Clarissa Sadock, presidente da AES Brasil. A empresa avalia, junto da holding americana, as condições que serão colocadas, e se a exportação do hidrogênio na forma de amônia verde para o país europeu será competitiva.

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A existência de um comprador garantido para o hidrogênio faz parte do modelo de negócios da AES para o segmento. No caso dos Estados Unidos, uma grande empresa fornecedora de gases industriais, a Air Products, garantiu a demanda pela produção da planta. No Brasil, como um dos planos é exportar o hidrogênio, o leilão da Alemanha poderia acelerar esse processo, ao assegurar um contrato de compra.

Haratz vê com ceticismo a possibilidade de vitória de um projeto brasileiro, por se tratar de uma concorrência mundial, com projetos com desenvolvimento avançado mesmo na Europa. “Os primeiros projetos de hidrogênio podem nascer na Europa ou perto, mas, no longo prazo, a Europa não tem energia renovável suficiente para atender a demanda de hidrogênio. Por isso buscam o mercado internacional”, afirmou.

Para o diretor da Comerc Eficiência, o que vai ditar a competitividade dos projetos é a energia usada na produção do hidrogênio e o custo dos investimentos (capex). “O que vai fazer um país ser mais competitivo que o outro é a forma de trazer o capex e o quanto vai custar produzir, porque o eletrolisador será o mesmo para todos”, disse. Se houver subsídio do governo, como na Europa e nos Estados Unidos, a conta fica mais simples de ser fechada.

Na AES, mesmo que um projeto brasileiro não tenha sucesso, o leilão da Alemanha é visto como oportunidade de aprendizado. “O governo do Japão pode vir depois com outros critérios, então vai ser muito de cliente para cliente o perfil desse hidrogênio verde”, explicou Sadock. Segundo ela, isso não é tão diferente do que a companhia faz hoje, ao desenhar projetos e contratos de acordo com a necessidade do consumidor. “Tem cliente que só exige que seja energia nova, enquanto alguns querem saber se é renovável 24 por 7. Já trabalhamos nesse nível tailor made“, afirmou.

O leilão da Alemanha, ainda sem data definida, será feito por meio da Hydrogen Intermediary Company, empresa criada para intermediar a compra do hidrogênio verde, e terá contratos voltados para hidrogênio importado de países que não estejam na União Europeia.

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