O hidrogênio verde é o único caminho para a descarbonização da indústria siderúrgica, e para isso é preciso viabilizar a produção do combustível em larga escala. Até lá, o gás natural pode ser uma etapa para reduzir as emissões até a descarbonização completa. Esta é a opinião de especialistas que participaram de webinar organizado pelo Instituto E+ Transição Energética nesta quinta-feira 21 de setembro.
Para o diretor da Agora Energiewende Frank Peter, a descarbonização do setor até 2040 é “tecnicamente factível” e pode estimular a indústria de hidrogênio. “A principal tecnologia para isso é o hidrogênio verde, e nós já temos essa tecnologia demonstrada em larga escala”. Na avaliação dele, países como Brasil, África do Sul e Austrália são capazes de fornecer hidrogênio ao preço competitivo de US$ 1,50 por quilo. Entretanto, o transporte pode elevar o custo a pelo menos US$ 4 por quilo, o que comprometeria a competitividade.
Peter avalia que a solução seria integrar o hidrogênio verde a outras cadeias, como a do minério de ferro. Para tanto, será necessária uma colaboração com países do “sul global”, como Brasil, África do Sul e Australia, que são grandes exportadores da commodity. Outras soluções passam por dar incentivos fiscais e regulatórios à indústria de hidrogênio verde, que também podem colaborar para que a produção em larga escala se estabeleça, reduzindo o custo final. Além disso, o executivo acredita que indústrias como automotiva e de eletrodomésticos já estão dispostas a pagar mais por matéria-prima verde.
A avaliação de descarbonização possível até 2040 foi vista como muito ambiciosa por outros especialistas do painel, como a líder de campanhas da Steelwatch Margaret Hansbrough. Ela lembrou que 78% das emissões ainda estão relacionadas ao uso de carvão pela indústria e que o ponto mais crítico é a fabricação primária (de aço novo). Hansbrough também mencionou que os países mais desenvolvidos têm a responsabilidade de investirem na nova tecnologia.
O gerente-geral de Sustentabilidade na ArcelorMittal Brasil, Guilherme Abreu, também avalia que a neutralidade até 2040 é uma perspectiva muito ambiciosa pois, em sua visão, as tecnologias ainda não estão maduras o suficiente. Por outro lado, ele entende que já existe uma forma conhecida para fazer aço verde, “a má notícia é que ela custa um pouco mais”. Entre os caminhos apontados por Abreu para a descarbonização, está o gás natural. “O gás deve ser considerado no Brasil, não como uma solução, mas como uma etapa. Nós temos gás natural no Brasil, só que não é um gás barato”, disse ele.
Abreu também mencionou que a captura e armazenamento de carbono (CCS, ou CCUS, caso o carbono armazenado seja utilizado para outros fins) é outra possibilidade para reduzir as emissões líquidas da indústria, com potencial para diminuir até 30% da pegada de carbono da siderurgia por volta de 2050.
Uma terceira via estaria no uso da biomassa. “A ArcelorMittal tem olhado isso no mundo todo, não só no Brasil”, revelou o executivo, que também ponderou que alguns dos desafios para uso em larga escala da biomassa está no tamanho da planta e na mudança de processos. “E aí voltamos ao começo da conversa, sobre tecnologias”, resumiu.
Em relação a biomassa, especialmente para a transformação em hidrogênio, o diretor da Agora, Frank Peter, também lembrou que ela não é emissões zero, e que é necessário haver uma avaliação transparente de toda a cadeia para atestar o caráter “verde” da molécula.
Para Guilherme Abreu, da ArcelorMittal Brasil, apenas o hidrogênio possibilitará a descarbonização total da indústria. O desafio, novamente, está no custo. “Há um número mágico: US$ 1,50 é o preço desejado por todo mundo, até no Brasil. Mas os números que temos hoje estão longe disso. Acredito que o Brasil chegará perto desse preço com o tempo. Precisamos trabalhar sobre o que é necessário em termos estadual, federal e corporativo, de quais políticas precisamos”, disse.