O governo do Piauí aposta que a aprovação pelo Congresso de um marco legal do hidrogênio verde vai viabilizar o desenvolvimento dessa indústria no Brasil, não só no âmbito da produção da molécula, mas também no desenvolvimento de uma cadeia de produção nacionalizada.
Segundo o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), um dos maiores desafios do desenvolvimento da indústria de hidrogênio verde no Brasil é a transferência de tecnologia e o desenvolvimento da indústria local como grande fornecedora dos equipamentos necessários para a produção desse novo combustível de baixo carbono.
“Sabemos da dificuldade na produção de equipamentos como eletrolisadores, placas fotovoltaicas, aerogeradores e motores para essa indústria. O Brasil precisa dar esse passo e, para isso, esperamos que os incentivos sejam cada vez maiores para que a gente não só receba investimentos estrangeiros, como tenhamos transferência de tecnologia para o Brasil. Para que boa parte da cadeia industrial seja nacionalizada”, disse Fonteles, durante entrevista antes da abertura oficial da primeira edição da Conferência Internacional de Tecnologias das Energias Renováveis (Citer), em Teresina.
O evento, realizado pelo governo do Piauí junto de outras instituições regionais, como a agência Investe Piauí e centros de pesquisa e estudo, tem a ambição de atrair centenas de lideranças nas discussões da energética global no Brasil e no mundo nos próximos dias, colocando as oportunidades no estado no centro das discussões.
Uma nova indústria
Durante a entrevista, o governador ressaltou os planos futuros de implantação de duas plantas de hidrogênio na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Piauí, em Parnaíba, no litoral. Os dois projetos, de 10 GW cada um, tiveram memorandos de entendimento assinados com as europeias Green Energy Park e Solatio, e o governo estima que serão investidos R$ 200 bilhões entre as obras iniciais, em 2024, e a conclusão até 2035.
Para viabilizar os empreendimentos, os projetos discutem a exportação de derivados do hidrogênio verde, como amônia e metanol, mas a principal meta é desenvolver um cluster industrial verde ao redor das usinas de hidrogênio.
“O que acho mais provável de atrairmos para cá é a indústria de fertilizantes verdes, o Brasil importa mais de 90% do fertilizante que consome e é o maior consumidor global de fertilizantes”, disse o governador.
Ele destacou ainda oportunidades em siderurgia, com produção de aço verde, e uso de derivados como combustíveis para trens e navios.
“Com relação à cadeia produtiva, aí vai depender exatamente do que o Brasil, o Piauí e o Nordeste serão capazes de fazer para trazer. por exemplo, a indústria de eletrolisadores: dado que esses projetos são gigantescos, por que não parte da produção desse eletrolisador ser feita aqui no Brasil?”, disse.
Competitividade e o marco legal
Para tornar o hidrogênio mais competitivo do ponto de vista do consumidor, Fonteles destacou a necessidade de aprovação do Marco Legal do Hidrogênio Verde, em discussão no Congresso.
Do ponto de vista da legislação estadual, já há quase isenção total de ICMS para indústrias eólica e solar, e “o mesmo vai acontecer com o hidrogênio”, prometeu o governador. “Esse não é o problema”, completou.
No âmbito federal, além de incentivos fiscais, o governador do Piauí destacou outras políticas, como mandatos de mistura obrigatória de biodiesel e etanol, que poderiam abarcar também o hidrogênio verde para incentivar a indústria.
“Essa política não pode ser feita numa legislação estadual, tem que ser uma legislação federal. Por isso que o marco legal do hidrogênio é tão importante”, concluiu.
*A jornalista viajou a convite da Citer
