Mesmo com deságios menores, leilões A-3 e A-4 vão reduzir tarifa em R$ 2,5 bi, diz Aneel

Camila Maia

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Camila Maia

Publicado

08/Jul/2021 18:23 BRT

Categoria

Leilões

Os deságios registrados nos leilões A-3 e A-4 realizados na manhã de hoje, com a contratação de quase 1 GW de potência em projetos de geração renovável, devem resultar numa economia da ordem de R$ 2,5 bilhões aos consumidores, evitando um efeito tarifário de 1,3 ponto percentual (pp) a partir de 2024 e 2025. A informação veio de André Patrus, que é gerente executivo da Secretaria Executiva de Leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

Em entrevista coletiva concedida após os certames, Patrus explicou que esse cálculo comparou a contratação de energia realizada hoje aos preços máximos estabelecidos para o certame com os descontos aplicados devido à competição.

No total, os leilões A-3 e A-4 contratam projetos representando cerca de R$ 4 bilhões em investimentos. O A-3 contratou 547,4 MW de potência ao preço médio de R$ 165,11/MWh, deságio de 30,83%. O A-4 contratou 437,3 MW de potência, com preço médio de R$ 174,62/MWh, deságio de 28,82%.

Apesar dos deságios, provocados pelo grande número de projetos competindo, os preços foram signifcativamente maiores que os praticados nos últimos leilões de geração renovável, em 2019. No A-4 daquele ano, a eólica saiu com preço médio de R$ 79,99/MWh, enquanto a fonte solar teve preço médio de R$ 67,48/MWh. No A-6 daquele ano, a eólica teve preço de R$ 98,89/MWh, e a solar de R$ 84,39/MWh.

Para efeito de comparação, a eólica foi contratada nos leilões A-3 e A-4 de hoje aos preços de R$ 150,70/MWh e R$ 148,52/MWh, descontos de 23,89% e 24,99%, respectivamente. A solar, por sua vez, saiu pelos preços médios de R$ 136,31/MWh e R$ 125,53/MWh, deságios de 31,16% e 36,6%, respectivamente.

"Cada leilão tem uma dinâmica diferente, não temos como precisar nesse momento todos os impactos. Mas, na nossa avaliação, o preço reflete uma dinâmica de variação cambial e aspectos relacionados à cadeia de suprimento global", disse Thiago Barral, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). 

Além disso, as fontes eólica e solar têm visto expansão grande no mercado livre, aquecimento que também se relaciona com a oferta de preços, de acordo com Barral. "Mas não dá para dizer que há uma tendência de alta de preços em leilões. É uma dinâmica do mercado e vamos continuar acompanhando", completou.

Nos certames, apenas três distribuidoras declararam necessidade de contratação: Celpa e Cemar, da Equatorial, e Light. Segundo Rui Altieri, presidente do conselho da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a chamada "Distribuidora Brasil", nome usado para o grupo composto por todas as distribuidoras do país, tem sobrecontratação até 2024 e 2025, o que explica a baixa demanda. "Enxergamos isso com naturalidade, é uma questão do momento", disse.

"Certamente, a partir de 2025 e 2026, há espaço para contratação pelas distribuidoras, mas cada uma tem sua maneira de olhar o mercado futuro", disse Altieri. Por isso, de acordo com ele, não é possível garantir que haverá uma demanda maior no leilão A-5 que acontecerá em setembro, contratando energia para entrada em operação em 2026.

Outro motivo para a expectativa de retomada da demanda das distribuidoras é a própria recuperação da economia após a pandemia, lembrou Barral. "De fato, começamos a ver que o crescimento da carga vai requerer investimentos em ampliação. Parte da expansão vai se dar a partir da declaração de necessidade pelas distribuidoras, parte vai ser atendida pelo mercado livre, parte pela geração distribuída. Temos diferentes vetores que vão levar ao atendimento de requisitos de energia e potência", disse Barral.

Segundo Barral, a expectativa do planejador é ver sinais que possam motivar as distribuidoras a declarar necessidade de contratação no horizonte A-6, que seria um leilão com contratação de energia com previsão de entrada em operação em 2027.

Neste ano, contudo, ainda não se sabe se haverá leilão A-6. O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Paulo César Magalhães Domingues, lembrou que em dezembro deve ser feito o leilão de reserva de capacidade, no qual o governo vai contratar disponibilidade de potência dos empreendimentos. "Não está decidido ainda, mas é uma previsão que parte da energia desse leilão possa atender a demanda das distribuidoras", explicou.