O Brasil está “claramente” comprometido em liderar a busca por soluções para financiar o aumento da capacidade renovável do mundo e atingir as metas de redução de emissões, disse Fatih Birol, diretor-geral da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), em conversa com jornalistas após participar da abertura do Berlin Energy Transition Dialogue (BETD) 2024.
O debate sobre financiamento é um dos principais objetivos do evento, que começou nesta terça-feira, 19 de março, em Berlim, na Alemanha. Em dezembro, a COP 28 resultou no compromisso global de triplicar a capacidade de renováveis do mundo até o fim da década, mas a grande questão que se coloca é: como atingir isso nas economias menos desenvolvidas, que não têm recursos para investir em novas tecnologias?
Segundo Birol, ainda que as metas do Acordo de Paris, assinado em 2015 por 196 países, “definitivamente” não estejam sendo cumpridas, os sinais das principais economias do mundo são positivos e a demanda global por petróleo deve atingir seu pico antes de 2030, contribuindo com as metas de redução das emissões.
“O apetite por carvão no mundo está caindo. Claro, isso não vai acontecer de uma hora para outra, mas esperamos que toda a demanda por combustíveis fósseis atinja o pico antes de 2030”, disse Birol.
O diretor da IEA apontou que as economias mais desenvolvidas estão liderando os investimentos em renováveis, principalmente a China. O desafio é fazer com que os países menos desenvolvidos também acelerem os investimentos em descarbonização, o que exige recursos financeiros.
“No restante da Ásia, África, América Latina, o maior problema é não haver recursos suficientes para financiar a transição energética”, disse Birol. Para ele, a maior preocupação deve ser como criar mecanismos para facilitar os financiamentos nesses países.
A questão será discutida na próxima COP, que acontece neste ano no Azerbaijão, e na COP 30, que será sediada pelo Brasil, em Belém, no Pará, em 2025. “Há apenas três semanas eu estava no Brasil e tive reuniões com o presidente Lula e seus ministros. Eu sei que o Brasil está muito comprometido a tornar isso sua prioridade durante a presidência do G20, neste ano, e na COP 30 ano que vem”, afirmou o diretor.
O acesso à energia elétrica é outra questão que chama a atenção, uma vez que as metas também envolvem a busca por uma transição energética justa.
De acordo com Birol, muitas das grandes companhias do setor de combustíveis fósseis estão comprometidas com as reduções de emissões e descarbonização e falando cada vez mais sobre sustentabilidade e energias renováveis.
“Quando olhamos seus investimentos, porém, os recursos indo para renováveis são apenas 2,5% do total, e 97,5% ainda vão para as operações tradicionais. Há uma grande diferença entre o que eles falam e o que fazem. Isso é algo que eu espero que mude em breve”, destacou o diretor-geral da agência.
*A repórter viajou como media fellow a convite do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha, por meio do Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e da Federação Alemã de Energia Renovável (BEE).