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Eletrobras vende ações a R$ 42, e oferta levanta R$ 30 bi para seu caixa

Eletrobras vende ações a R$ 42, e oferta levanta R$ 30 bi para seu caixa

As ações que serão vendidas pela Eletrobras foram precificadas em R$ 42 o papel, levantando cerca de R$ 30 bilhões para o caixa da atual estatal, mas que será privatizada ao fim da operação. Como houve demanda para o dobro das ações ofertadas, foi alocado o lote suplementar de ações ordinárias, levando o total movimentado a R$ 33,6 bilhões.

O BNDES vendeu ainda parte da sua participação na companhia, por R$ 2,9 bilhões, fazendo com que o negócio atingisse a cifra de R$ 29,4 bilhões, uma das maiores operações do mercado de capitais brasileiro.

Agora, a União e o BNDES, que tinham 68,6% das ações ordinárias da Eletrobras, passaram para 40,3%. No capital total, a fatia ficará em 36,9%, abaixo do patamar mínimo projetado pelo governo para a privatização, que era de 45% das ações da companhia.

Bastidores

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O último dia do bookbuilding, processo de coleta de ofertas de investidores, foi marcado por um cabo de guerra entre os bancos coordenadores da oferta, os fundos que inicialmente ancoraram a operação – e acabaram de fora – e os investidores que inflaram suas ofertas, na expectativa de que haveria um rateio.

Foi só no fim do dia que o preço de R$ 42 foi fixado, e o conselho de administração da Eletrobras se reuniu às 23h30 para dar aval ao negócio.

Segundo relatos de gestores, na manhã de ontem, 9 de julho, os coordenadores da oferta começaram a buscar todos os investidores que tinham feito ofertas na casa de R$ 40 estimulando o aumento do preço para a casa de R$ 42. Isso valeu para os fundos CIG, de Cingapura, e CPPIB, do Canadá, que iriam ancorar a operação cada um com R$ 4 bilhões. As ofertas, contudo, eram limitadas a um preço de até R$ 40 por ação.

O Brazil Journal informou que o preço mínimo do negócio, mantido sob sigilo do mercado, era de R$ 41,20, e um preço abaixo disso poderia levar ao cancelamento do negócio, o que justificaria a pressão para subir o preço.

Ainda de acordo com o portal especializado em notícias do mercado financeiro, por volta das 18h, os bancos coordenadores da oferta disseram ao mercado que a faixa da operação seria entre R$ 42 e R$ 42,50, e quem tivesse ordens de compra abaixo disso poderia aumentar o preço, caso contrário ficariam de fora da operação. O GIC e o CPPIB não subiram os preços, e a ancoragem, inicialmente de R$ 13 bilhões, caiu para R$ 5 bilhões, e restaram R$ 15 bilhões para o mercado absorver – o dobro do previsto.

Assim, aqueles que tinham inflado as ordens, na expectativa de que houvesse um rateio das ações disponíveis, acabariam levando mais ações que o previsto, e muitos investidores diminuíram as ofertas. Segundo o Brazil Journal, ao fim do processo, que movimentou o mercado financeiro na quinta-feira, a demanda institucional acabou ficando próxima de duas vezes a oferta.

Privatizada, enfim

Com a diluição de sua participação para menos de 40% do capital social da Eletrobras, a empresa será finalmente privatizada, concluindo um processo que teve início em 2017, ainda sob gestão de Wilson Ferreira Junior na companhia.

A Lei 14.120, que criou as condições necessárias para a privatização da Eletrobras, estabeleceu mudanças para garantir que a empresa será uma “true corporation“, ou seja, uma empresa sem controle definido. Por isso, cada sócio, mesmo com uma participação maior que 10%, terá seu direito a voto limitado a esse patamar.

Além disso, foi incluída uma poison pill, ou pílula de veneno, que é uma condição para impedir que um dos sócios tome o controle da companhia. Para comprar uma fatia superior a 50% das ações, o investidor precisará desembolsar três vezes o valor máximo de negociação das ações dos últimos dois anos. Assim, se um futuro governo quiser reestatizar a Eletrobras, precisará pagar muito caro por isso.

O principal argumento da privatização da companhia é que assim ela terá acesso a um custo de capital menor, podendo tomar decisões com agilidade e voltará assim a ser competitiva no mercado de energia brasileiro, com condições de investir em geração renovável e transmissão.

Os recursos que irão para seu caixa serão usados no pagamento de uma outorga à União para renovar suas concessões de geração, hoje no regime de cotas, criado pela Lei 12.783/2013, que remunera apenas a geração e operação dos ativos. Essa energia será gradualmente descotizada, e a Eletrobras poderá negociá-la no mercado livre ou no cativo. Para o consumidor, a vantagem é que, atualmente, o risco hidrológico das cotas é assumido pelo consumidor, e no novo desenho será do gerador.

A descotização, assim como a renovação das concessões da companhia, ainda precisa ser regulamentada para se concretizar. 

(Reportagem atualizada em 10/06/2022, às 9h40)