Solução para eventos climáticos extremos no setor demandam participação de entes federativos

Poliana Souto

Autor

Poliana Souto

Publicado

22/Fev/2024 19:15 BRT

Melhorias em previsibilidade e ações de resposta e a integração do governo estadual com empresas e agentes do setor elétrico foram apontadas como soluções iniciais para o enfrentamento de eventos climáticos, cada vez “mais severos”, e para a resiliência das redes no Brasil. O tema foi debatido em um workshop promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em Brasília nesta quinta-feira, 22 de fevereiro.

Para o diretor-geral da autarquia, Sandoval Feitosa, apagões registrados no ano passado e no início deste ano, que deixaram cerca de 6,2 milhões de unidades consumidoras sem energia, após a ocorrência de temporais e ciclones extratropicais, demonstraram que é “indissociável” a integração e a participação de entes federativos.

“Esses eventos ocorreram em uma sequência nunca vista no país. Isso mostra que temos um problema que não é só das empresas distribuidoras ou transmissoras. Em eventos dessa magnitude, essas companhias não têm condições para responder à altura. Por essa razão, clamamos pelo apoio de todos os entes federados”, disse Feitosa.

De acordo com o diretor-geral, apesar de ambos os serviços prestados pelas empresas serem concessões federais, as atividades prestadas são feitas nos estados e em municípios, logo não tem como dissociar suas participações no debate.

Em sua apresentação, Sandoval citou a tomada de subsídio  2/2024, que receberá contribuições sobre a necessidade de intervenção regulatória e a resiliência das redes, como uma das ações que a agência tem articulado para discutir a redução desses episódios. Além dessa consulta, a autarquia também abriu a 4/2024, que discute os benefícios da padronização de relatórios sobre situações emergenciais.

Mediando um dos painéis do evento, Hélvio Guerra, diretor da Aneel,  ponderou a necessidade de um trabalho articulado entre os envolvidos, para que as ações em episódios extremos sejam tomadas “mais rapidamente”.

Os consumidores

Luiz Eduardo Barata, presidente da Frente Nacional dos Consumidores de Energia, também comentou sobre o papel dos governos estaduais na resolução dos eventos, enfatizando que é papel dos entes a poda das árvores.

Visão da distribuição

As árvores foram apontadas como as principais “culpadas” na interrupção dos serviços das distribuidoras, um dos setores mais afetados pelos eventos climáticos de 2023.

Para falar sobre o setor, o presidente da Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, esteve presente no workshop e aproveitou para destacar que os indicadores de qualidade de duração e frequência de interrupção de energia por unidade consumidora (DEC e FEC) das companhias estão em queda nos últimos anos, apesar do cenário meteorológico cada vez mais adverso, porque o segmento soube se adaptar.

“Estamos falando agora de eventos extremos, que estão mais frequentes e têm maior poder de destruição. As distribuidoras estão fazendo seu trabalho. Cada uma tem agregado novas maneiras de projetar e operar suas redes e identificar a forma mais rápida para voltar a energia. Nosso trabalho é acelerar isso e ter um movimento conjunto”, pontou Madureira.  

Apesar do trabalho das empresas, o presidente da entidade ressaltou que é preciso aumentar a capacidade de previsão e reação para enfrentamento desses eventos, investir em redes áreas mais resistentes e considerar o uso de redes subterrâneas em algumas regiões viáveis, sendo preciso discutir valores, mas sem “pesar no bolso” dos consumidores.

A transmissão

Por sua vez, Mário Miranda, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), enfatizou o aumento de ocorrências de torres de transmissão caídas, derivadas de "ventos intensos" nos últimos dez anos, especialmente na região Sul e Sudeste do país.

“Antes da vigência da atual regulamentação do setor, fazíamos projetos de torres para suportar ventos de 112 km/h. E vimos torres caindo com ventos de 150 km/h. Alteramos os projetos para suportar pressão de ventos de 173 km/h. Ainda assim, caíram torres por causa dos ventos acima disso”, afirmou Miranda, que também falou sobre o efeito das mudanças climáticas no aumento de queimadas.

O operador

Christiano Vieira da Silva, diretor do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), pontuou que esses eventos exigem uma mudança na forma de programar o sistema e uma “maior flexibilidade” para que seja possível atender à demanda com segurança.