A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela presidência nas eleições de domingo, 30 de outubro, não afeta a visão otimista de analistas do mercado em relação às empresas do setor elétrico, que apostam que os contratos vigentes serão respeitados, assim como os critérios técnicos na regulação do mercado.
No caso da Petrobras, contudo, as incertezas sobre as mudanças estratégicas que podem ser implementadas pelo novo governo reforçaram os receios sobre o futuro da companhia, e pesam sobre as ações.
Por volta de 16h (de Brasília), as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) recuavam 9,7%, a R$ 29,41, enquanto as ordinárias (PETR3) tinham baixa de 8,30%, a R$ 32,84.
No mesmo horário, o Índice de Energia Elétrica (IEE), que reúne as principais empresas de energia negociadas na B3, tinha alta de 1,13%, a R$ 83.022 pontos.
Elétricas
“Enquanto muitos dos nomes importantes que vão fazer parte do governo de Lula ainda não foram anunciados, não vemos razões para rupturas no setor”, escreveram os analistas João Pimentel, Gisele Gushiken e Maria Resende, do BTG Pactual, em relatório enviado a clientes.
Os analistas lembraram que, na frente regulatória, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já passou por vários momentos políticos no Brasil e sempre permaneceu fiel às regras do setor. “Mesmo durante a terrível MP 579, em 2012, que teve consequências catastróficas no setor, os contratos foram respeitados, apesar da frustração com as expectativas naquele momento”, completaram os especialistas do BTG Pactual.
A opinião converge com a dos analistas do Credit Suisse, Carolina Carneiro e Rafael Nagano, que escreveram que não é necessário “entrar em pânico”.
“Ainda que o setor seja muito regulado, e que mudanças no governo possam possam resultar em mudanças no marco regulatório, consideramos que muitas empresas estão protegidas pelos contratos de longo prazo, diferentes exposições ao PIB e níveis de endividamento sustentáveis; portanto, não vemos grandes riscos”, diz o relatório do Credit Suisse.
Uma questão pendente que preocupa o mercado é a questão da renovação das concessões das distribuidoras que vencem nos próximos anos, a partir de 2025. No relatório, os analistas do Credit Suisse afirmaram que conversaram com Maurício Tolmasquim, principal auxiliar do PT para o tema de energia, que indicou que os contratos com boas concessionárias deverão ser renovadas.
Outro tema constante nas conversas do mercado é sobre o futuro da Eletrobras, que foi privatizada recentemente. Durante a campanha, o presidente eleito chegou a falar em reestatizar a companhia, mas o assunto perdeu força e os analistas não esperam mudanças na elétrica.
O acordo de acionistas tem uma cláusula (poison pill, ou pilula de veneno, em tradução literal) que determina que se um acionista quiser tomar o controle da companhia, terá que pagar um prêmio de 200% sobre o preço de mercado.
Segundo o BTG Pactual, isso corresponderia a um custo de mais de R$ 300 bilhões ao governo. “Mesmo se o governo decidir avançar com o plano, o processo precisaria ser aprovado pela Câmara e pelo Senado, que atualmente têm a maioria de seus representantes de centro e direita. Portanto, vemos o cenário como muito improvável”, escreveram.
Petrobras
As ações da Petrobras reagiram negativamente no pregão de hoje, depois que a companhia esteve no centro dos principais embates entre Lula e o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL). O “Petrolão”, esquema de corrupção envolvendo a estatal e descoberto pela Operação Lava-Jato, foi citado com frequência pela campanha do atual governo, ao mesmo tempo em que a equipe de Lula defendeu um aumento do papel da Petrobras no setor de energia como um todo.
A questão da paridade com os preços de importação também pesou. Durante parte dos governos passados do PT, a Petrobras vendia combustível no Brasil a um preço inferior ao internacional, o que segurou a inflação mas ao mesmo tempo prejudicou a petroleira financeiramente. O governo de Jair Bolsonaro segue uma política liberal, contra intervenções, mas isso não impediu o atual presidente de trocar o comando da estatal por quatro vezes, sempre em momentos de altas polêmicas no s preços de combustíveis. A paridade, contudo, seguiu respeitada.
As ações devem continuar voláteis nos próximos dias, por conta das incertezas em relação as políticas futuras em relação à política de preços de combustíveis e sobre os investimentos futuros, escreveu Fernando Ferreira, analista da XP Investimentos.
Os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, do BTG Pactual, destacaram em relatório que Lula enfatizou que o Brasil não pode depender da importação de combustíveis e sugeriu novos investimentos em refino. A questão da alocação de capital preocupa os analistas, qe rebaixaram as recomendações para as ações de compra a neutra, ao mesmo tempo em que mantiveram o preço-alvo das ADRs negociadas na Bolsa de Nova York em US$ 13,50.
O preço-alvo foi mantido porque os analistas preferem aguardar as mensagens que virão do novo governo, assim como o início da nova gestão, a partir de 2023.