Óleo e Gás

Alta do preço do GNL reflete crise estrutural na Europa e deve permanecer por anos, diz CBIE

Alta do preço do GNL reflete crise estrutural na Europa e deve permanecer por anos, diz CBIE

A crise energética da União Europeia é estrutural, indo além dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia, e os preços do gás natural no continente devem permanecer elevados pelos próximos anos, de acordo com especialistas ouvidos pela MegaWhat sobre o tema.

Segundo Bruno Pascon, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a crise energética da Europa surgiu antes mesmo da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro deste ano. “A crise energética da Europa vem de antes, desde 2005”, conta o especialista, explicando que a crise surgiu a partir dos planos de sustentabilidade do continente, em busca de uma matriz mais limpa, mas sem a devida atenção à questão da segurança energética.

Antes da invasão e das sanções aplicadas à Rússia, o país era responsável por 40% do fornecimento de gás natural para o restante do continente europeu. Segundo Pascon, cerca de 60% da demanda energética europeia é externa. A substituição dessa matriz, explica ele, não é simples e não pode ser feita em curto prazo.

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O impacto imediato da crise, de acordo com o especialista, é a elevação dos preços do gás natural liquefeito (GNL), alternativa de importação de gás pela Europa. “Esse cenário de preços do GNL é estrutural. E agora é um problema maior do que [o choque de petróleo] na década de 1970, porque não é só [uma crise] de energia. É de energia, segurança e alimentação”, afirma Pascon.

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Mercado global

Segundo Luiz Augusto Barroso, presidente da consultoria PSR, a busca por GNL pela União Europeia para substituir o gás russo representa um volume da ordem de 30% do mercado global do produto.

“A Europa vai seguir na sua rota de antecipar e incentivar o máximo possível investimentos em renováveis buscando reduzir sua dependência do gás russo. A situação europeia não é fácil porque, em curto prazo, ela precisa de todas as fontes, inclusive do carvão. Abdicar dessas fontes significa não ter luz na casa das pessoas e principalmente não ter gás para o aquecimento em invernos que vão ser complicados”, disse Barroso, em webinário realizado pela MegaWhat na última semana.


Queda momentânea

A recente queda nos preços do gás natural na Europa é um efeito momentâneo relacionado ao aumento de estoques, destaca Pedro Rodrigues, diretor do CBIE. “O recuo dos preços do gás natural nesse momento acontece em razão do aumento dos estoques de gás natural na Europa. O aumento dos estoques acontece já que o continente não vem enfrentando ondas de frio, fazendo com que o consumo de gás natural seja reduzido”, afirmou ele.

“Mesmo com os estoques altos, a chegada do inverno e a diminuição da temperatura, o consumo de gás voltará a crescer, baixando os estoques e subindo o preço. O mercado de gás natural enfrenta uma situação curiosa de muita oferta, mas com carência de infraestruturas para o encontro dessa oferta com a demanda. Novos terminais de liquefação e regaseificacão estão sendo construídos ao redor do mundo. Enquanto não estiverem prontos, vamos continuar observando grande volatilidade nos preços”, completou o especialista.