A indicação do nome do general Joaquim Silva e Luna, diretor-geral da parte brasileira de Itaipu, para a presidência da Petrobras é vista como um sinal de intervenção do presidente Jair Bolsonaro na gestão da petroleira, de acordo com casas de análises que reduziram o preço-alvo da ação da companhia e passaram a recomendar a venda dos papéis da empresa.
Para o Credit Suisse, a medida se traduzirá em um prêmio de risco mais elevado para as ações da Petrobras. “Também vemos incertezas em relação à política de preços [dos combustíveis] e aos níveis de capex [investimentos]”, afirma o banco, em relatório assinado pelos analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero.
A casa de análise cortou pela metade o preço-alvo dos recibos de ações da Petrobras negociados na bolsa de Nova York (ADRs), de US$ 16 para US$ 8.
Na mesma linha, a XP Investimentos reduziu de R$ 32 para R$ 24 por ação o preço-alvo da Petrobras e rebaixou a recomendação dos papeis da petroleira, de “neutro” para “venda”.
“Vemos esse anúncio como uma sinalização negativa, tanto de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços, ou seja, que reflitam as variações dos preços de petróleo e câmbio”, afirma a casa de análise, em relatório assinado pelos analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado.
O UBS, por sua vez, destacou que, caso seja confirmada a troca no comando da Petrobras, será o 39º nono presidente em 68 anos de atividades da Petrobras, o equivalente a uma média de 1,7 ano para cada CEO. “Ter uma mudança de comando com tanta frequência pode levar a mudanças na estratégia, cultura, direção e pode minar a credibilidade com investidores de longo prazo, especialmente para uma companhia com 52 mil empregados diretos, um plano de investimento multibilionário e que é um agente fundamental na indústria local”, diz o banco, em relatório assinado por Luiz Carvalho e Gabriel Barra.
As atenções agora estão voltadas para a postura que o conselho de administração da Petrobras desempenhará no caso. Em tese, o colegiado precisa aprovar a proposta do governo para instaurar uma assembleia geral extraordinária para trocar Roberto Castello Branco por Joaquim Silva e Luna no conselho e, em seguida, indicá-lo para a presidência da estatal.
Representante dos funcionários no conselho de administração da Petrobras, Rosangela Buzanelli, criticou, em sua página na internet, a postura de Bolsonaro no episódio.
“Não entrarei no mérito daquele que está sendo destituído e nem daquele que está sendo indicado, isso será apreciado oportunamente pelo conselho de administração da Petrobras. Entretanto, destaco, no mérito, que devido à forma em que se deu o fato, este é mais um desrespeitoso ato presidencial, típico de alguém sem nenhum preparo para o cargo que ocupa, conforme sistematicamente comprovado pelo cenário socioeconômico, sanitário e político do país”, disse Buzanelli.