Mercado de gás

Principal fornecedor de gás do Brasil, Bolívia anuncia descoberta de reserva

Descoberta do campo Mayaya Centro-X1, de 1,7 trilhão de pés cúbicos, acontece em contexto de queda na produção de gás na Bolívia

Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) / Crédito: TBG
Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) / Crédito: TBG

O presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou a descoberta de uma reserva de gás natural de 1,7 trilhão de pés cúbicos (TCF, na sigla em inglês). O campo foi batizado de Mayaya Centro-X1 e está localizado do norte da capital La Paz.

As reservas de gás da Bolívia estavam estimadas em 8,95 TCF, segundo dados de 2018 da estatal YPFB e do governo boliviano.

Arce fez o anúncio nesta segunda-feira, 15 de julho, durante evento em homenagem ao início do processo de independência do país. O presidente classificou a descoberta como a mais importante desde 2005 e disse que Mayaya Centro-X1 “provavelmente será o terceiro melhor campo de produção em todo o país”, de acordo com informações da Reuters.

Segundo o presidente da YPFB, Armin Dorgathen, Mayaya Centro-X1 faz parte de uma formação com outras cinco possíveis reservas semelhantes.

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“Estamos falando de um potencial de 7 TCF somente nesta área próxima a Mayaya, em cinco estruturas similares dentro de uma bacia que tem potencial muito mais alto”,  disse Dorgathen, segundo informações do jornal boliviano La Razón.

Negociações com empresas brasileiras

O anúncio vem dias após o Foro Empresarial Bolívia-Brasil, realizado na última semana no município boliviano de Santa Cruz de la Sierra. Na ocasião, empresas brasileiras como Petrobras e Fluxus, da J&F, reforçaram seu interesse e intenções de investimento na Bolívia com objetivo de aumentar a produção de gás no país vizinho.

Importações de gás boliviano em queda

A Bolívia é o principal parceiro comercial do Brasil para a importação de gás natural. Em 2023, o Brasil importou uma média de 15,43 milhões de m³ de gás por dia da Bolívia, segundo dados do Ministério de Minas e Energia (MME). Para comparação, a regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) vindo de outros países somou 1,29 milhão de m³ por dia, de acordo com o MME.

Entretanto, os volumes importados da Bolívia já foram maiores. Em 2007, por exemplo, foram recebidos 27,5 milhões de m³ por dia de gás boliviano. A queda se explica pela restrição na produção daquele país, em função da falta de investimentos em exploração de novas reservas e produção de gás natural, em um quadro que pode ser revertido pela descoberta de Mayaya Centro-X1.

Durante a cúpula do Mercosul realizada em julho na Bolívia, o país entregou seu documento de ratificação para entrada no bloco, após aprovação do Senado Brasileiro em 2023. Naquela ocasião, os impactos no mercado de energia da chegada do novo membro foram avaliados com ceticismo por agentes do mercado, exatamente pela tendência de queda na produção de gás na Bolívia.

“Não vejo grandes impactos [na entrada da Bolívia no Mercosul], porque falta investimento lá”, disse na época Helder Queiroz, ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena o Grupo de Economia da Energia (GEE). A queda na produção boliviana também provoca uma crescente subutilização do Gasoduto Bolívia-Brasil. Este é fator considerado pelos estudos para possível importação do gás de Vaca Muerta, na Argentina, já que, com a ociosidade do duto, o gás argentino poderia ser importado pela Bolívia.