O diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Rodolfo Saboia, afirmou nesta terça-feira, 3 de outubro, que a reinjeção de gás natural é uma consequência da falta de infraestrutura para escoamento do combustível.
“Existem condições de funcionamento desse mercado que fazem com que a gente tenha nuances como essa. A gente tem [gás natural], mas o produtor reinjeta porque produz mais petróleo”, disse Saboia durante participação em audiência pública da Comissão de Infraestrutura do Senado Federal.
A prática de reinjeção de gás no Brasil tem sido motivo de embates entre o Ministério de Minas e Energia (MME), que busca aumentar a oferta de gás no Brasil, e as empresas e entidades do setor, que alegam que a reinjeção é necessária por fatores econômicos, técnicos, ambientais e estruturais.
Na visão do diretor-geral, apesar de ser uma prática que depende da estratégia de cada companhia, a reinjeção de gás poderia ser evitada, visto que o país tem uma oferta do insumo acima da demanda, sendo “numericamente” autossuficiente em gás natural.
Outro ponto indicado por Saboia para a ocorrência da reinjeção de gás natural é a falta de gasodutos no país, o que indica a necessidade de “articulações” do governo para que o mercado queira investir nessa infraestrutura.
“A gente está enxergando um mercado em crescimento e tende a ter mais oportunidades para os agentes se interessarem no desenvolvimento dessa infraestrutura para escoamento do gás natural. Se o mercado identificar que existe essa demanda, eles vão fazer esses investimentos”, afirmou na audiência.
O que é a reinjeção de gás
A reinjeção de gás é a introdução de gás natural no reservatório após a sua produção. É uma técnica aplicada, sobretudo, para aumentar a produtividade de petróleo dos ativos, já que mantém dentro dos poços uma pressão que favorece a extração de óleo. Além do aumento na produção de petróleo, outros motivos para a reinjeção são as dificuldades na separação do gás natural e os gargalos para escoamento.
A escolha pela reinjeção do gás para favorecer a produtividade de petróleo se deve ao maior valor comercial do óleo em relação ao gás natural. Além disso, as práticas de produção (e, por consequência, de reinjeção) são definidos pelas operadoras com a ANP no Plano de Desenvolvimento (PD) de cada campo, que deve ser apresentado até 180 dias após a declaração de comercialidade. A resolução ANP nº 17/2015, que trata do PD, prevê revisões nos planos, mas o processo pode ser complexo.
Margem Equatorial
O diretor-geral da ANP aproveitou a audiência para falar ainda que a exploração de petróleo na Margem Equatorial é uma decisão estratégica para o Brasil, dado seu papel na transição energética e na redução da demanda de combustíveis fósseis.
A Margem Equatorial, que se estende da Foz do Amazonas até o Nordeste brasileiro – e tem sido palco de discussões desde maio, quando o Ibama negou uma licença ambiental à Petrobras-, conta com dois blocos perfurados a 500 km da costa, anteriores a aprimoramentos legislativos. Em um deles, licenciado pela BP, não foi encontrado petróleo, enquanto em outro, pela Petrobras, houve quebra do equipamento de perfuração.
Nesta semana, o Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou nota celebrando a primeira licença ambiental da Petrobras para perfurar poços para pesquisa da capacidade de produção na Margem Equatorial, no segmento da Bacia Potiguar.