Por: Alex Mariano
A abertura de mercado vem acumulando muitos ensinamentos às equipes das comercializadoras, gestoras, distribuidoras e da própria Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), dado o grande volume de unidades consumidoras migrando do ambiente de contratação regulado para o livre.
Os processos desenhados para suportar a migração de consumidores atacadistas ou de clientes varejistas antes de 2024 precisam ser rapidamente adaptados à nova realidade, considerando um investimento relevante em tecnologia para trazer mais eficiência às operações entre os agentes envolvidos.
Esse contexto em que a digitalização e a eficiência operacional são compulsórias torna nada trivial a missão dos líderes de tecnologia, uma vez que precisam desenvolver novos sistemas, integrá-los com os já existentes e ainda adaptar todos eles às mudanças iminentes na regulação. Para isso acontecer, a jornada passa por conhecer bem os desafios internos atuais, priorizar os mais importantes de acordo com a estratégia da companhia, estimar o esforço para vencê-los, defender o investimento e por fim executar.
Em resumo, faz-se necessário um método claro e abrangente o suficiente para nortear o planejamento das empresas em relação à digitalização dos processos de migração de um cliente varejista para o mercado livre de energia. Reconhecendo essa demanda, criamos aqui na Way2 Technology o Modelo de Maturidade Tecnológica para a Jornada Digital de Migração Varejista para o Mercado Livre, que consiste em um guia que apoia as lideranças de tecnologia e os agentes como um todo a:
• Conhecer os vetores tecnológicos fundamentais para suportar o novo cenário de migrações;
• Identificar o estágio de maturidade em que a empresa se encontra em cada um dos vetores;
• Mapear melhorias a serem realizadas, priorizando e planejando o que é mais importante para o momento e a estratégia da companhia;
• Mensurar o investimento necessário para executar as melhorias identificadas;
O modelo proposto estabelece cinco vetores de análise da maturidade tecnológica para a jornada digital de migração: Interoperabilidade, Escalabilidade e Performance, Dados e Inteligência, Cibersegurança e Experiência do Cliente (CX/UX).
Para cada um desses vetores, que serão conceituados a seguir, é definida uma escala de 1 a 5 representando os níveis de maturidade de uma empresa. Nível 1 identifica a maturidade mais baixa e 5 a mais alta.
Vetor interoperabilidade
É a capacidade de sistemas distintos, sejam eles computacionais ou não, de se comunicar e trocar informações de forma eficaz e eficiente. Isso significa que os sistemas devem ser capazes de entender e interpretar os dados uns dos outros, mesmo que sejam desenvolvidos por diferentes fornecedores, com diferentes tecnologias e para diferentes propósitos.
Na prática, para o contexto de abertura, os sistemas/as plataformas das distribuidoras, dos varejistas e da CCEE precisarão trocar dados através de integrações automáticas para que exista eficiência operacional. De forma ainda mais específica, precisarão trocar dados através de APIs (Application Programming Interfaces) padronizadas e seguras.
Casos de uso do vetor interoperabilidade
Abaixo são trazidos alguns exemplos de casos de uso onde o vetor da Interoperabilidade é fundamental:
Em uma distribuidora de energia:
a. Os sistemas de telemetria da distribuidora devem se conectar à plataforma de integração da CCEE para realizar o envio de dados.
b. Após o recebimento da carta-denúncia, idealmente o processo de migração é iniciado com a integração com o ERP e/ou sistema comercial da distribuidora.
Em uma comercializadora energia:
a. Landing Page para captura de leads integrada ao CRM;
b. Sistema que extrai os dados das faturas recebidas integrado ao sistema de backoffice que ajudará a criar a proposta comercial para o possível cliente;
Os exemplos mencionados acima são apenas alguns casos de uso dentro de um universo de processos e sistemas que precisam ser adaptados dentro dos agentes em relação à interoperabilidade.
Nível de maturidade do vetor interoperabilidade
Propõe-se então aplicar o modelo de maturidade tecnológica a seguir para cada caso de uso ou grupo de casos de uso com o objetivo de identificar os gargalos e priorizar as demandas dentro da companhia.
• Nível 1: Sistemas rodando de forma independente, sem integração automática ou manual.
• Nível 2: Poucos sistemas com integrações manuais ou através de tarefas agendadas para consumo de arquivos em determinadas pastas da rede. Pouca ou nenhuma documentação existente.
• Nível 3: Boa parte ou maioria dos sistemas com integrações através de tarefas agendadas para consumo de arquivos em determinadas pastas da rede ou troca de informações via banco de dados. Documentação existente, atualizada e de fácil acesso.
• Nível 4: Integrações realizadas através de APIs com documentação atualizada e de fácil acesso, sem requisitos de autenticação/autorização e/ou monitoramento das requisições.
• Nível 5: Sólida cultura de implementação de integrações entre sistemas através de APIs, respeitando padrões modernos. Documentação atualizada e de fácil acesso. Monitoramento em tempo real das requisições, autenticação/autorização e registro para posterior análise do uso.
Vetor escalabilidade e performance
Escalabilidade é a capacidade de um sistema ou aplicação de lidar com um aumento de carga de trabalho sem comprometer o desempenho ou a qualidade do serviço. Já Performance é a capacidade de um sistema fornecer uma resposta rápida e eficiente a uma solicitação do usuário. Ambas as características andam lado a lado e, especialmente no contexto de abertura de mercado e digitalização dos processos de migração, as duas precisam coexistir.
Casos de uso do vetor escalabilidade e performance
Abaixo são evidenciados alguns exemplos onde escalabilidade e performance são fundamentais nos contextos:
De uma distribuidora de energia:
a. A maior parte das distribuidoras fatura seus clientes do Grupo A através de totalizadores (um registro mensal). Com mais de 18 mil denúncias de migração em 2024, um dos desafios da distribuidora é enviar à CCEE os dados de memória de massa (no mínimo 744 registros mensais) de forma escalável e performática.
b. Há uma sinalização de que o histórico de consumo da unidade consumidora que está migrando seja realizado pela distribuidora através de APIs, que demanda escala e performance no volume de migrações esperado.
De uma comercializadora energia:
a. As plataformas de monitoramento do consumo disponibilizadas pelas comercializadores aos seus clientes precisarão se adaptar ao volume de dados e transações;
b. A atenção aos custos de nuvem deve ser redobrado, uma vez que o ímpeto de melhorar a performance pode acarretar aumento substancial na fatura do provedor de serviços nuvem.
Os exemplos supracitados representam parte do desafio dos agentes em relação à escalabilidade e performance. Propõe-se então que os líderes de tecnologia apliquem o modelo de maturidade tecnológica a seguir para cada caso de uso ou grupo de casos de uso com o objetivo de identificar os gargalos e priorizar as demandas dentro da companhia.
Nível de maturidade do vetor escalabilidade e performance
• Nível 1: Boa parte dos sistemas apresenta problemas de performance com a demanda atual. Falta de diagnóstico claro da causa raiz dos problemas. Falta de escalabilidade horizontal e vertical na infraestrutura.
• Nível 2: Sistemas não apresentam problemas de performance atualmente, mas não há clareza se esse cenário será mantido com o aumento de unidades consumidoras. Falta de escalabilidade horizontal, mas a infraestrutura suporta escalabilidade vertical.
• Nível 3: Sistemas não apresentam problemas de performance atualmente e estão preparados para suportar até 30% de aumento no número de unidades consumidoras e requisições, através de escalabilidade vertical.
• Nível 4: Sistemas não apresentam problemas de performance atualmente e estão preparados para suportar até 100% de aumento no número de unidades consumidoras e requisições, através de escalabilidade horizontal ou vertical.
• Nível 5: Sistemas não apresentam problemas de performance atualmente e estão preparados para suportar até 200% de aumento no número de unidades consumidoras e requisições sem comprometer qualidade do serviço, através de escalabilidade horizontal ou vertical em menor.
Confira o artigo completo: Modelo de Maturidade Tecnológica para a jornada digital de migração para o Mercado Livre
* Alex Mariano é CTO da Way2
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