Opinião da Comunidade

Data centers, um negócio além da energia

Sócios do CGM Advogados
Sócios do CGM Advogados

Por: Alexei Vivan, Carolina Galvão, Luiz Rafael Maluf e Rafael Monti *

O Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) têm realizado estudos para atender à previsão de aumento de demanda por energia pelos data centers, que são grandes galpões com diversos servidores para internet, sistemas de proteção e de resfriamento, para armazenamento e processamento de dados eletrônicos em nuvem e para operação da inteligência artificial. Esses servidores consomem quantidade massiva de energia para funcionarem e serem resfriados.

Data centers são classificados pela quantidade de energia que podem consumir.Um data center mediano, que suporte 50MW de demanda, consome energia semelhante ao de uma pequena cidade. Além disso, a crescente popularização do uso de ferramentas de inteligência artificial e de computação em nuvem não permite interrupções no fornecimento de energia. Data centers requerem fornecimento de energia seguro, constante, de qualidade, com baixa latência e redundância de interligação.

Numa era de transição energética e descarbonização das atividades econômicas, o Brasil tem grande vantagem competitiva em relação a outros países, por conta não só da disponibilidade elétrica (a capacidade instalada de geração de energia supera a demanda do país em cerca de 20%) mas, especialmente, por conta de uma matriz elétrica com 90% de geração limpa, proveniente de fontes renováveis, o que é um diferencial na atração de empresas globais preocupadas com a redução da pegada de carbono, especialmente em um contexto de ESG cada vez mais valorizado.

Data centers são uma oportunidade para absorver a sobra estrutural de energia, bem como para viabilizar os projetos de geração outorgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em fase de construção, sem mencionar os pendentes de análise, que tornarão a sobra de energia ainda maiores. Só de geração de energia solar centralizada (para comercialização), em fevereiro/2024 havia 145GW em projetos outorgados. Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em janeiro/2025, o Brasil possuía capacidade instalada total de geração de 230,3GW, sendo 16,6GW de geração solar centralizada. Só os projetos outorgados de geração solar centralizada, pendentes de construção, representam 775% da capacidade instalada desta geração solar e 65% da capacidade instalada de todas as fontes de geração do país, sem considerar os projetos outorgados e pendentes de análise de outras fontes de geração (eólica, pequenas centrais hidrelétricas, entre outras).

É necessário maior agilidade nos prazos de aprovação e de construção da infraestrutura elétrica para conexão dos data centers. Sem contar o período de obras, tem-se levado cerca de um ano para aprovação da conexão, o que desincentiva a escolha do país pelas bigtechs (Meta, Google, Microsoft, Amazon). Já a Amazon anunciou R$ 10,1 bilhões até 2034 para expansão de data centers. Microsoft anunciou US$ 15 bilhões nos próximos 3 anos em infraestruturas de nuvem e inteligência artificial. A Meta, por sua vez, pretende aportar US$ 65 bilhões em expansão de data centers e servidores para inteligência artificial em 2025. São investimentos de longo prazo, que demandam conhecimento multidisciplinar e segurança jurídica.

Os custos de construção dos galpões e de instalação dos data centers são relevantes e os imóveis precisam de localização estratégica, com verificação das questões fundiárias, ambientais, urbanísticas, regulatórias e de infraestrutura. Data centers em hiperescala (os hyperscalers) requerem cerca de 2kW por metro quadrado de área construída. Assim, um de 100MW requer 50 mil metros quadrados. A média de investimento é de US$ 10 milhões para cada 1MW de potência. Um data center de 100MW requer US$ 1 bilhão de investimento.

São igualmente expressivos os investimentos na infraestrutura da rede elétrica, cujos valores vão para a tarifa dos consumidores. Além de terem seus próprios data centers, as bigtechs costumam celebrar contratos de longo prazo com as empresas de data centers, garantindo fluxo constante de recebíveis, com baixo risco de crédito, o que viabiliza a obtenção de recursos mediante financiamentos diretos ou operações estruturadas via mercado de capitais. Em setembro/2024, o BNDES anunciou linha de crédito de R$ 2 bilhões para data centers. Conforme dados de novembro de 2024, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) divulgou que as debêntures de infraestrutura, emitidas no Brasil, representaram R$ 120,3 bilhões em captações no ano passado, demonstrando a disponibilidade de recursos e o interesse na área de infraestrutura.

O governo brasileiro movimenta-se para aprovar o marco regulatório da inteligência artificial. É preciso agilidade do MME, da EPE, da Aneel e do ONS para criação de um ambiente regulatório propício e inovador, com prazos de conexão à rede elétrica menores, em que os custos com a infraestrutura elétrica não sejam arcados pelos consumidores, mas pelos beneficiários dos data centers, o que poderia ser testado via sandbox regulatório. O Brasil está diante de oportunidade única para se consolidar como hub global de data centers. O sucesso dessa empreitada depende da capacidade do governo e do setor privado de trabalharem juntos e criarem um ambiente favorável à atração de investimentos de longo prazo.

*Alexei Vivan, Carolina Galvão, Luiz Rafael Maluf e Rafael Monti são sócios do CGM Advogados, respectivamente das áreas de energia, imobiliário, mercado de capitais e societário.

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e a data da publicação.