Opinião da Comunidade

GD e sua contribuição para a resiliência do setor elétrico e mitigação do "curtailment"

A geração distribuída surge como uma solução viável e estratégica

Carlos Evangelista, presidente da ABGD
Carlos Evangelista, presidente da ABGD (Divulgação)

Por: Carlos Evangelista*

Nos últimos anos, o setor elétrico brasileiro tem enfrentado desafios sem precedentes, impulsionados em grande parte pelas mudanças climáticas e pela crescente demanda por fontes de energia estáveis e acessíveis. A crise hídrica, a redução dos níveis dos reservatórios e o acionamento frequente de termelétricas movidas a óleo combustível e diesel têm exposto fragilidades estruturais no sistema elétrico do país. Nesse cenário, a Geração Distribuída (GD) surge como uma solução viável e estratégica, promovendo resiliência, diversificação da matriz energética e, principalmente, mitigando os impactos financeiros que oneram os consumidores brasileiros.

A GD, ao permitir a produção descentralizada de energia, fortalece a resiliência do setor elétrico, diminuindo a dependência de grandes usinas hidrelétricas e termelétricas, que muitas vezes estão sujeitas a interrupções causadas por fatores climáticos adversos, além de apresentarem altos custos de operação, especialmente no caso das termelétricas. A geração distribuída oferece uma resposta eficaz para momentos críticos, sendo que a energia gerada por painéis solares já corresponde a 15% do abastecimento nacional, com a maior parcela advinda de micro e minigeração.

Além de contribuir diretamente para a resiliência do setor elétrico, a GD é uma ferramenta poderosa na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O uso de fontes renováveis, como a solar e o biogás, reduz significativamente as emissões de gases de efeito estufa e ajuda o Brasil a cumprir suas metas ambientais, conforme estabelecido no Acordo de Paris. A descentralização da produção de energia não apenas alivia a pressão sobre grandes usinas, mas também evita o uso excessivo de termelétricas, que são altamente poluentes e caras.

Um dos maiores desafios atuais está relacionado ao uso de termelétricas movidas a óleo combustível e diesel, que elevam os custos da eletricidade e contribuem para a degradação ambiental. Nesse contexto, a geração distribuída surge como uma solução ao mitigar essa dependência, gerando energia limpa localmente e evitando o acionamento dessas usinas. Combinada com tecnologias de armazenamento, como baterias, a GD pode estabilizar a oferta de energia, especialmente em momentos críticos.

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Outro aspecto que merece muita atenção do setor de energia é o “curtailment”, a limitação da produção de energia renovável quando a rede elétrica não é capaz de absorver toda a eletricidade gerada ou a geração está excessivamente superior à carga. Essa limitação representa um desperdício de energia limpa, frustrando o potencial de fontes renováveis, que poderiam contribuir ainda mais para a descarbonização e a resiliência do sistema elétrico. Para mitigar o “curtailment” e não comprometer a eficiência energética e a sustentabilidade do setor, são necessários investimentos urgentes em melhorias na rede de transmissão e na adoção de tecnologias de armazenamento.

O momento é de incentivar ainda mais a adoção da GD, especialmente com a aprovação de propostas parlamentares, via projeto de lei ou emendas, que ampliariam o prazo para a entrada em operação de projetos com conexão já autorizadas. Estamos falando aqui de projetos que não foram construídos por problemas de atraso das distribuidoras ou falta de infraestrutura no segmento de distribuição. Diferentemente da aprovação de novos projetos, essa medida visaria garantir que os projetos de usinas com recursos comprovados e conexões já aprovadas possam entrar em operação de forma segura conforme planejado. Essa ação aumentaria a produção de energia no exato momento em que o Brasil mais necessita de fontes renováveis e de maior resiliência em seu sistema elétrico.

*Carlos Evangelista é presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD).

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