Por: Fernanda Tomé*
O setor elétrico brasileiro passa por uma verdadeira revolução, com o crescimento das fontes renováveis e a chegada de novas demandas, como os data centers. Essas mudanças, que tanto oferecem oportunidades quanto trazem desafios aos agentes, colocam o SIN em um cenário em que é preciso repensar urgentemente o planejamento e a operação das usinas, diante da intermitência na geração e da necessidade crescente de flexibilidade para garantir a estabilidade do sistema.
O Brasil, que por muito tempo permaneceu exclusivamente dependente das hidrelétricas, está agora cada vez mais diversificado, com uma crescente participação das fontes solares e eólicas, favorecidas pela redução dos custos dessas tecnologias e por subsídios governamentais, tornando o país um potencial exportador de energia renovável. No entanto, essa transformação não é simples e impõe desafios complexos à operação do sistema elétrico.
A rápida expansão dessas fontes renováveis traz consigo uma série de problemas operacionais. A variabilidade da geração eólica e solar faz com que, em certos momentos, o SIN precise lidar tanto com sobrecargas quanto com a falta de geração. Esse cenário, evidenciado pelo frequente fenômeno do curtailment, compromete as receitas dos geradores ao criar um ambiente de imprevisibilidade quanto ao retorno dos investimentos.
Nesse contexto, as usinas térmicas continuam a ser essenciais para o SIN, fornecendo a flexibilidade necessária para estabilizar o sistema em momentos críticos. Atualmente, essas usinas ainda são a principal solução em horários de pico, quando as fontes renováveis não conseguem suprir a demanda.
De tal forma, é fundamental aumentar a flexibilidade operacional das térmicas, seja por meio da recontratação e adaptação das usinas existentes ou pela realização de investimentos em infraestrutura de transporte e de estocagem de gás natural. Esses investimentos são cruciais para que as térmicas possam operar de forma mais eficiente e ágil, respondendo rapidamente às variações na oferta de energia e minimizando o desperdício de recursos.
O armazenamento de energia por meio de baterias se mostra uma solução alternativa promissora para enfrentar os desafios da variabilidade das renováveis, tornando o sistema mais eficiente ao permitir que a energia e a potência sejam melhores aproveitadas. A princípio, com menores custos operacionais.
Entretanto, muito ainda precisa ser feito para que essa tecnologia seja otimizada e integrada aos sinais de preço do mercado. A passividade regulatória precisa ser enfrentada e eventuais políticas de fomento, como a realização de leilões, especialmente de reserva de capacidade, precisam ser desenhadas rapidamente, de forma a garantir que essas soluções avancem com a urgência que o cenário exige.
O planejamento a longo prazo deve também considerar o aumento da demanda elétrica no Brasil, impulsionado pela digitalização e pela expansão de setores eletrointensivos,
como os data centers, que exigem uma oferta de energia contínua, confiável e de alta qualidade. Caso contrário, esses projetos podem pressionar ainda mais a infraestrutura de transporte existente, que nem sempre é capaz de se expandir na mesma velocidade.
O Brasil tem uma oportunidade única de se consolidar como líder global em energia renovável, mas essa liderança não será conquistada sem esforço. Será necessário um planejamento estratégico mais robusto, com investimentos pesados em flexibilidade, a partir da modernização das usinas térmicas e da adoção de tecnologias de armazenamento
O setor elétrico brasileiro precisa se adaptar rapidamente a essa nova realidade e não há mais tempo para hesitação. A chave para o sucesso já é conhecida: buscar o equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia, garantindo tanto a segurança do abastecimento quanto o desenvolvimento sustentável e eficiente do SIN.
Se o Brasil falhar em fazer essas adaptações, corre o risco de comprometer sua posição estratégica no cenário global de transição energética. O futuro está nas mãos de quem souber agir rápido e com visão de longo prazo. A pergunta que fica é: estamos prontos para enfrentarmos tamanho desafio?
*Fernanda Tomé é Advogada e Doutoranda em Energia pela Universidade de São Paulo.
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