
Por Rodrigo Soares*
Vivemos um momento de transformação profunda na forma como geramos, consumimos e pensamos a energia. A transição energética global está em pleno andamento e, nesse novo cenário, o armazenamento de energia por meio de baterias desponta como um dos pilares para um sistema elétrico mais flexível, resiliente e, sobretudo, sustentável.
À medida que fontes renováveis como a solar e a eólica ampliam sua participação na matriz elétrica, cresce também a necessidade de soluções que garantam estabilidade, continuidade e inteligência na gestão dessa energia. As baterias são exatamente isso: uma ponte entre o potencial das renováveis e a confiabilidade que o sistema precisa.
Armazenar para transformar
O mercado global de armazenamento tem evoluído de forma acelerada. Os motivos? Uma
combinação poderosa de avanço tecnológico, aumento de demanda e queda de custos.
Segundo análises do setor energético, os preços das baterias de íon de lítio já caíram cerca de 90% entre 2010 e 2023, passando de US$ 1.400 para menos de US$ 140 por kWh¹. E a tendência continua: em 2024, os custos recuaram mais 20%, atingindo a mínima histórica de US$ 115 por kWh, de acordo com a BloombergNEF².
Isso torna a tecnologia cada vez mais viável para aplicações comerciais, industriais e
residenciais e mais estratégica no caminho da transição energética.
No Brasil, o potencial é imenso. Somos um dos líderes mundiais em renováveis, mas ainda
enfrentamos os desafios da intermitência. Integrar baterias ao nosso sistema significa dar um salto em direção à eficiência e à independência energética³.
Um novo jeito de pensar (e usar) energia
A lógica tradicional, baseada em grandes usinas e longas linhas de transmissão, já não dá conta sozinha das demandas de um consumidor cada vez mais ativo, digital e consciente. As baterias representam uma quebra de paradigma: com elas, consumidores e empresas podem armazenar energia, gerir seus próprios recursos e até comercializar excedentes.
Além disso, a eletrificação da mobilidade está acelerando a demanda por baterias, criando um novo ecossistema de oportunidades que vai muito além do setor elétrico. Segundo a Agência Internacional de Energia, a venda de veículos elétricos superou 10 milhões de unidades em 2022, e pode atingir 35% do mercado global até 2030⁴.
Desafios? Sim. Mas com soluções no horizonte.
É verdade que ainda existem barreiras, principalmente relacionadas ao custo inicial de
implementação. Mas a inovação não para: novas tecnologias, como as baterias de sódio-íon,prometem ampliar o acesso a soluções mais acessíveis e sustentáveis⁵. E os sistemas de gestão energética estão cada vez mais inteligentes e eficientes.
No Brasil, precisamos de um ambiente regulatório que acompanhe esse avanço. Incentivos, marcos legais modernos e estímulo à inovação serão fundamentais para destravar o potencial do armazenamento em larga escala — seja em aplicações residenciais, comerciais ou no próprio grid⁶.
O futuro já começou
A descarbonização do setor elétrico passa, necessariamente, pela adoção de soluções
tecnológicas que sejam sustentáveis e escaláveis. Estamos entrando em uma nova era
energética e ela será mais descentralizada, digital e limpa. As baterias nos ajudam a chegar lá.
Cabe a nós, enquanto líderes, inovadores e consumidores, entender esse movimento e nos
posicionarmos desde já. Porque, no fim das contas, quem souber armazenar energia, também saberá armazenar valor para o negócio, para a sociedade e para o planeta.
Referências:
1- Portal Solar – Baterias de lítio têm redução de 90% nos custos entre 2010 e 2023
2- pv magazine Brasil – Preços das baterias de íons de lítio caem para baixa recorde de US$ 115/kWh
4 – IEA – International Energy Agency – Global EV Outlook 2023
5 – MIT Technology Review – Sodium-ion batteries are coming
6 – IEA – Net Zero by 2050: A Roadmap for the Global Energy Sector
*Rodrigo Soares é presidente da Shell Energy Brasil
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