
Por: Nilton Lima*
O mercado livre de energia elétrica tem crescido de forma expressiva no Brasil, especialmente após a ampliação do acesso a consumidores do Grupo A. Em 2024, houve recorde de migrações registradas pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), com 26.834 novos consumidores, número três vezes maior que os resultados de 2023. Entre os atrativos desse ambiente, destacam-se a liberdade de negociação, em especial de preços, e a possibilidade de escolha pela contratação de energia de fontes renováveis — um diferencial cada vez mais relevante diante das metas de descarbonização assumidas por empresas de diversos setores.
No entanto, junto com os benefícios, surgem desafios relevantes que precisam ser cuidadosamente considerados pelos consumidores. A migração para o mercado livre exige mais do que apenas a assinatura de um contrato com preço competitivo: requer conhecimento, atenção aos riscos e, sobretudo, uma boa estratégia de gestão. Um dos principais pontos de atenção é a escolha do fornecedor de energia. Nos últimos anos, o setor assistiu a episódios de comercializadoras que não conseguiram honrar os compromissos firmados com os clientes e, em alguns casos, deixaram consumidores desamparados e forçados a buscarem energia de última hora, a preços significativamente mais altos.
Esse histórico acendeu um alerta no setor e impulsionou a adoção de mecanismos de segurança. A CCEE, responsável por registrar e liquidar as operações do mercado, passou a monitorar com mais rigor o desempenho das comercializadoras. Uma das principais iniciativas nesse sentido foi a criação do “Fator de Alavancagem”, um indicador que mede a exposição financeira de cada agente em relação ao seu patrimônio líquido ajustado. Na prática, ajuda a identificar empresas que estão vendendo volumes acima da sua capacidade financeira, o que pode sinalizar riscos futuros de inadimplência ou colapso. Essa medida trouxe mais transparência e disciplina ao setor, mas, ainda assim, não elimina totalmente o risco de problemas contratuais.
Por isso, ao escolher um fornecedor, é fundamental que haja uma avaliação criteriosa. O preço muitas vezes não é o fator mais determinante. Um contrato mais barato pode esconder riscos que, no médio prazo, gera prejuízos muito maiores do que a economia inicialmente obtida. Em muitos casos, empresas consumidoras preferem contratar energia de fornecedores que ofereçam maior segurança jurídica, estabilidade financeira e reputação no mercado — mesmo que isso não signifique uma escolha pelo menor preço.
Outro ponto de atenção é a própria gestão do contrato de energia. O mercado livre exige uma atuação ativa e técnica por parte do consumidor. É necessário acompanhar o comportamento do consumo, fazer previsões de demanda, registrar corretamente todas as informações na CCEE e cumprir com as obrigações regulatórias em prazos rigorosos. Em operações mais complexas, como aquelas que envolvem várias unidades consumidoras ou unidades em diferentes estados, a chance de erro pode aumentar. Um simples equívoco no registro de dados ou na declaração de consumo pode trazer penalidades pesadas e perdas financeiras expressivas.
Diante desse cenário, cresce a importância do cuidado na gestão da energia. É uma atuação que demanda conhecimento técnico, familiaridade com os sistemas da CCEE e capacidade de análise constante das condições de mercado. Nesse caminho, contar com profissionais e empresas especializadas na atividade pode ser muito estratégico para os negócios. Além de auxiliarem na escolha criteriosa dos fornecedores, esses especialistas atuam na gestão operacional, regulatória e estratégica do consumo de energia, garantindo conformidade, eficiência e economia real para o consumidor. O suporte especializado, portanto, não é um custo adicional, mas um investimento em segurança.
O mercado livre seguirá em expansão nos próximos anos e representa, de fato, uma revolução na forma como o consumidor se relaciona com a energia. Mas para que essa liberdade não venha acompanhada de instabilidade e riscos desnecessários, é preciso reforçar a base: garantir uma gestão segura e consciente, conduzida por quem entende a complexidade do setor. Como em qualquer escolha estratégica, segurança e responsabilidade caminham lado a lado com os ganhos reais.
*Nilton Lima é diretor de Serviços na Thymos Energia. Possui 30 anos de experiência aplicando inovações tecnológicas à operação do setor elétrico. Por mais de duas décadas, integrou a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), onde atuou na implementação de vários processos, o último de monitoramento de mercado. Também tem passagens pela Companhia Energética de São Paulo (CESP) e Elektro. É tecnólogo em Análise de Sistemas pela Faculdade das Américas (FAM) e bacharel em Matemática pela UNIP.
Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e a data da publicação.