
Por: Felipe Viana*
Um estudo recente da base de dados Carbon Majors trouxe à tona um dado importante: 36 empresas de combustíveis fósseis foram responsáveis por metade das emissões globais de dióxido de carbono desde o início da era industrial. De 1854 a 2023, essas companhias liberaram mais de 1,2 trilhão de toneladas de CO2 na atmosfera, o equivalente a 50% de todas as emissões industriais no período. Esses números reforçam a urgência da transição para uma economia de baixo carbono. No entanto, essa transição, embora inadiável, não ocorre do dia para a noite. E isso tanto por razões econômicas e tecnológicas, quanto por razões sociais: o brusco encarecimento da energia teria um impacto insustentável sobre pessoas e países de baixa renda.
A discussão sobre mudança climática precisa ser conduzida com a seriedade e o pragmatismo que o momento exige. Empresas de combustíveis fósseis, assim como outros setores intensivos em carbono, já compreendem seu papel histórico e atual na crise climática. O caminho é claro: precisamos reduzir emissões. Mas o percurso até lá exige uma abordagem equilibrada, em que mitigação e compensação caminhem juntas.
Compensar é parte da solução, não uma desculpa
As emissões que ainda não podem ser evitadas — por limitações tecnológicas, regulatórias ou econômicas — precisam ser compensadas. E isso não é “greenwashing”, é um dever. É a forma de agir com responsabilidade ambiental enquanto a transição é concretizada. É também uma forma de contribuir, agora, para a proteção de recursos naturais vitais ao equilíbrio do planeta, como é o caso da floresta amazônica.
A Amazônia desempenha um papel inestimável no armazenamento de carbono, na manutenção da umidade, na contenção do aumento da temperatura, na preservação da biodiversidade e dos conhecimentos dos povos tradicionais. Projetos de créditos de carbono do tipo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) têm se mostrado instrumentos eficazes para proteger a floresta em pé e evitar emissões futuras. Eles entregam resultados ambientais, sociais e econômicos concretos.
O custo da compensação é pequeno frente ao faturamento das companhias
A compensação de emissões é financeiramente viável. Estudos e experiências de mercado mostram que o custo de compensar a pegada de carbono de uma empresa equivale, muitas vezes, a menos de 1% de seu faturamento. É um investimento proporcionalmente pequeno diante do impacto positivo gerado e do valor reputacional agregado. Empresas que faturam dezenas de bilhões de dólares ao ano podem investir milhões na compensação de suas emissões sem comprometer seus resultados financeiros. Além disso, várias delas já implementam precificações internas de carbono, como forma de internalizar os custos climáticos e financiar suas estratégias de sustentabilidade.
Mesmo com esses números, ainda encontramos desafios: metade das empresas brasileiras investe menos de 1% de sua receita em sustentabilidade. O dado é do estudo Panorama da Sustentabilidade no Brasil, realizado pela consultoria alemã Roland Berger. Apenas 18% das empresas destinam mais de 5% da receita para esse fim. Diante desses números, surge uma questão recorrente em nossas discussões: se a sustentabilidade é, de fato, uma prioridade, por que o investimento ainda é tão limitado?
Mitigar e compensar não são opostos – são complementares
Adotar uma agenda climática responsável significa investir simultaneamente na redução de emissões diretas (mitigação) e na neutralização daquilo que ainda não pode ser evitado (compensação). Isso é especialmente verdadeiro para setores onde a substituição de insumos ou processos é complexa, cara ou depende de regulação futura. O risco de esperar por soluções perfeitas é perder tempo precioso.
Um estudo do Painel Intergovernamental de Mudança Climática, o IPCC, mostra que proteger florestas tropicais é uma das formas mais eficazes e de menor custo para reduzir o impacto das mudanças climáticas. Enquanto tecnologias como DAC (captura direta de carbono da atmosfera) e BECCS (bioenergia com captura e armazenamento de carbono) ainda enfrentam desafios de escala e custo, projetos de avoidance (evitação) como o REDD+ estão prontos para entregar resultados agora.
O que a Amazônia já está fazendo pelas empresas — e pelo planeta
A Carbonext desenvolve e opera 11 projetos REDD+ nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia, abrangendo uma área total monitorada de mais de 6,6 milhões de hectares. Só em 2024, evitamos o desmatamento de 5.263 hectares, o que resultou na não emissão de 151 mil toneladas de CO2. Esses projetos beneficiam diretamente mais de 5 mil famílias e contribuem para proteger 5 mil espécies de fauna e flora, incluindo 160 ameaçadas de extinção.
Não é apenas sobre carbono. É sobre o futuro de um dos ecossistemas mais valiosos do planeta. E é sobre o papel que cada empresa pode (e deve) assumir para protegê-lo.
Compromisso climático não se adia
Sabemos que a transição para fontes renováveis é o destino. Mas enquanto o caminho é percorrido, precisamos agir. As companhias de combustíveis fósseis têm hoje uma oportunidade concreta de liderar com responsabilidade. De reconhecer a urgência da crise climática e utilizar ferramentas já disponíveis para reduzir seu impacto.
Compensar é agir com senso de urgência. Compensar é parte da solução. Compensar é proteger o futuro.
*Felipe Viana, diretor Comercial da Carbonext.
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