O setor elétrico está focado na construção de um aperfeiçoamento dos modelos de formação de preço antes de parar o uso dos atuais e encontrar outros. Na avaliação de Luiz Barroso, CEO da PSR, o segmento precisa de uma ferramenta para avaliar melhor a operação atual do sistema e, consequentemente, sua sinalização de preço.
“Tenho dúvidas de como estes modelos vão evoluir ao longo do tempo. Acho uma derrota termos que comemorar o modelo Newave Híbrido no próximo ano. É um modelo mais individualizado, mas estamos em pleno século 21 e ainda com um modelo de sistema equivalente. Podemos fazer melhor e, acho, que poderíamos ter mais ambição no ferramental matemático para uma melhor operação e sinalização de preços”, disse durante painel no MinutoMega Talks.
Em setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abriu a tomada de subsídios para validação das novas versões dos modelos Decomp e Newave, utilizados no planejamento e na programação da operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e no cálculo do preço de liquidação das diferenças (PLD) pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Dentre os aprimoramentos no modelo Newave, estão o uso das restrições elétricas especiais no período individualizado, bem como melhorias relacionadas às saídas do modelo em seu uso individualizado.
A Portaria nº 88 do Ministério de Minas e Energia, que traz diretrizes para operação de termelétricas em condição diferenciada, com possibilidade de apresentação de ofertas de preço e quantidade de produtos de potência ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), também é outro ponto para as discussões dos preços. Para o executivo, a portaria introduz no modelo de despacho de formação de preço, em custo, a possibilidade de o agente fazer uma oferta.
“Se uma termelétrica pode fazer uma oferta em determinados momentos, por que as hidrelétricas não podem ofertar um valor próximo ao da água calculada pelo modelo? Então, tem discussões que começam a surgir de medidas que, às vezes, a gente nem olha para esse tipo de problema”, afirmou.
Em relação às expectativas dos preços de 2025, Barroso afirmou que caso o período úmido, entre novembro e abril, ocorra 100% da Média de Longo Termo (MLT) no Sistema Interligado Nacional (SIN), o PLD pode ficar na casa dos dois dígitos.
Diante de um cenário de período úmido na média, com Energia Natural Afluente (ENA) em 90%, a estimativa também é de PLD na casa dos dois dígitos Segundo Barroso, modelos matemáticos estão apontando para uma ENA na média de 80% de abril em diante.
Na entrevista, o presidente da PSR ainda passou por outros assuntos relacionados aos preços, modulação da energia solar fotovoltaica, subsídios, o aumento da carga por parte de operações de hidrogênio e data centers, os aprimoramentos no planejamento para integração do mundo elétrico e energético, vitória de Donald Trump, usinas reversíveis, entre outros.
Competição do leilão de reserva de capacidade e a necessidade do sistema
Em relação ao leilão de reserva de capacidade, o CEO da PSR disse que devem participar quem entrega recursos, com potencial para competição entre as termelétricas e as hidrelétricas. O leilão é um tema relevante para garantir o atendimento dos próximos anos. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, o SIN precisará de potência adicional a partir de outubro de 2027, e o déficit chegará a 5,5 GW já em 2028.
A realização de um leilão de reserva de capacidade vem sendo discutida desde 2023, previsão que passou para agosto de 2024 e depois para dezembro deste ano. Os ritos já foram iniciados, com a conclusão de uma consulta pública em março deste ano. Mas, até o momento, a publicação da portaria com as diretrizes definitivas não aconteceu.
Na avaliação de Barroso, questões pendentes precisam ser resolvidas antes da publicação do edital, como as relacionadas aos modelos de termelétricas que participarão, as operações das hidrelétricas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico e se haverá separação entre a energia existente e a móvel, por exemplo.
“As hidrelétricas têm uma oportunidade ótima, porque elas podem entregar um produto que o sistema precisa. Para isso, elas precisam poder participar. Há uma discussão associada ao tratamento que vai ser dado às hidrelétricas cotistas, por exemplo, e como que a operação dessas hidrelétricas vai ser feita pelo ONS, que precisa saber como será feita a operação pelas máquinas e informar isso para que o contrato seja bem especificado”, disse.
Outro ponto é a consulta pública, divulgada em setembro, para discutir a mudança dos parâmetros dos requisitos para atendimento de potência do sistema, que pode ter um impacto relevante na demanda deste leilão. Barroso também chamou atenção para o déficit de 5,5 GW apontado pela EPE, que pode começar a ser resolvido com algumas ações pequenas, incluindo a manutenção das hidrelétricas existentes.
“Quanto mais o leilão demora a ser anunciado, o prazo de suprimento fica mais apertado e se beneficiam diretamente os recursos que já estão prontos. Pode-se fazer [o leilão] em 2025 para fornecer em 2026, com quem tem para entregar rápido. Quem precisa fazer investimento precisaria de dois ou três anos. Logo, esse erro [de entrega de suprimento] vai ser um componente para uma renovação de contratos de termelétricas, talvez não tenha demanda para todas, associada a uma necessidade de comprar nova oferta, que terá competição entre as hidrelétricas, esperamos, e as termelétricas”, disse.
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