
O vice-presidente de Estratégia, Novos Negócios e Transformação Digital da Copel, Diogo Mac Cord, avalia que as hidrelétricas reversíveis deveriam ser consideradas pelo governo para o atendimento à ponta da carga.
“Se o governo já está mirando um leilão para bateria, a gente acha que você poderia ter, em iguais condições, uma reversível. A lógica é a mesma: consumir energia barata e entregar a energia quando o sistema precisa”, disse o executivo a jornalistas durante o evento MinutoMega Talks, organizado pela MegaWhat nesta quarta-feira, 4 de setembro, em São Paulo.
Segundo ele, a principal diferença é que as hidrelétricas reversíveis demoram cerca de cinco anos para construção, enquanto um sistema de baterias pode ser instalado em cerca de 12 a 18 meses. “Por outro lado, a hídrica reversível é um ativo que dura um século, e a bateria, muito menos”, comparou.
Durante o evento, Mac Cord também indicou que a Copel tem interesse em investir no modelo de hidrelétricas reversíveis, “dependendo do modelo que for avançar”. Segundo ele, há duas formas de resolver o problema de potência no Brasil, sendo uma com sinalização de preço, e outra com socialização dos custos.
“Se for uma solução de preço, eu acho que a hidráulica é superimportante. Se for uma solução socializada, a questão é qual fonte o governo vai escolher como vencedora”, disse o executivo.
Atualmente, a Copel tem investimentos em 26 hidrelétricas, sendo 24 no Paraná.
‘Hídricas deveriam ter mais espaço’
Neste contexto, Diogo Mac Cord avalia que a fonte hídrica tem melhor custo técnico, financeiro e ambiental para atendimento flexível do que térmicas e baterias e, por isso, deveria ter um maior espaço no sistema brasileiro. “Quando você fala de produto, a gente fica bastante surpreso de não ter um espaço bem maior e bem mais destacado para a fonte hidráulica”, disse.
Além disso, ele indicou um levantamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) que trata da maior disponibilidade das hídricas do que as térmicas, considerando os acionamentos pelo operador. As hídricas também conseguiriam entregar a geração em poucos minutos, enquanto térmicas necessitam de horas para atender a rampa.
Segundo ele, num cenário de 120 horas de uso por ano, a “hídrica mais cara” custaria 20% menos do que a “térmica mais barata”, proporção que chega a 1/3 num cenário de mil horas por ano – o que, para ela, seria o mais provável considerando o sistema atual.
Além disso, o custo ambiental também seria melhor, pois as hídricas já são existentes. “A gente está falando de aproveitamento de hidrelétricas, de reservatórios que já existem. Então, o impacto ambiental é zero”, avalia.
Mesmo sem considerar as hidrelétricas reversíveis, que ainda não têm regulação definida no país, os geradores hidráulicos argumentam que poderiam aumentar a potência da fonte apenas com a repotencialização de usinas existentes e a instalação de novas turbinas em poços vazios. Assim, a fonte poderia ter uma maior contratação no leilão de reserva de capacidade (LRCap), por exemplo.
Sinal de preço prejudica o mercado livre
Durante o painel no MinutoMega Talks, Diogo Mac Cord fez outras críticas aos subsídios do sistema brasileiro e defendeu uma reforma que “estanque o fluxo” dos incentivos.
Em sua avaliação, o alto volume de encargos reduz a atratividade do mercado livre. “A partir do momento que você tem tantos encargos, tantas coisas na tarifa que fazem com que a parcela competitiva represente só um pedacinho, no final das contas não é um mercado livre. A gente está, no final das contas, transformando, regulando o mercado livre e todo mundo vai passar a ser regulado de novo. Porque tudo vai ser baseado em encargos”, disse.