Uma mudança de postura em relação à segurança do mercado e ao monitoramento de contrapartes será necessária para lidar com os reflexos da volatilidade dos preços e os seus efeitos nas comercializadoras. Segundo Fabio Zanfelice, CEO presidente da Auren, problemas recentes envolvendo comercializadoras são um “alerta” para o setor fazer um movimento de ajuste antes de novos episódios.
“É um tema emblemático e nós precisamos resolver o problema da segurança do mercado. As empresas independentes trabalham muito alavancadas no mercado e, ao longo do tempo, adicionamos novos elementos que trouxeram um aumento de volatilidade”, afirmou o executivo durante o evento MinutoMega Talks, realizado nesta segunda-feira, 25 de novembro.
Para o CEO, o principal ponto desta discussão é a granularidade do preço, que aumentou o risco de quem está exposto no mercado. Desde 2021, o setor elétrico implementou o PLD horário, porém, neste período, o país passava por uma escassez hídrica e não passou por uma “sensibilidade” sobre a volatilidade dos preços. Os dois anos seguintes foram marcados por chuvas, jogando o preço para baixo, o que também não ajudou a ver a aplicação do modelo de PLD na prática.
O cenário de seca desde ano levou aos problemas das empresas neste ano, o que levou a uma “restrição natural de restrição de crédito e redução da liquidez” em um primeiro momento.
“Houve discussões no passado. Nós tivemos melhoramentos no monitoramento prudencial da CCEE [Câmara de Comercialização de Energia Elétrica]. Porém, os avanços não foram suficientes para, pelo menos, antecipar o evento que nós tivemos em 2024. O mercado precisa fazer uma discussão sobre a pena de, de fato, a liquidez diminuir muito para os agentes independentes, que tem uma função importante no mercado, fazendo com que ele opere de forma ótima”, falou.
Segundo Zanfelice, a melhora no quadro hidrológico e a consequente redução dos preços pode melhorar o cenário da comercialização, sendo o momento ideal para as discussões sobre a segurança.
A estratégia da Auren para volatibilidade
Para lidar com este cenário, a Auren apostou na diversificação do seu portfólio para reduzir sua dependência, mediante a compra da AES em maio deste ano. O movimento tem ajudado a empresa a lidar melhor com a volatilidade dos preços no Brasil.
Antes da transação, a Auren contava com um portifólio de 3,6 GW, sendo 58% (2,1 GW) de hidrelétricas, 27% de eólicas (1 GW) e 15% (500 MW) de solar. Com a aquisição da AES Brasil, o portfólio da empresa passou a ser formado por 54% (4,7 GW) de hídricas, 36% (3,2 GW) de eólica e 10% (900 MW) de solares. Em sua visão, o aumento do portfólio ajudou a empresa a ter um portfólio para lidar com as nuances dos preços.
“Ainda não pensamos em entrar em termelétricas. Nossa ideia é continuar sendo renovável. [Dentro do nosso portfólio], olhamos para solar, que é discutida por conta do PLD e do curtailment, é vemos a fonte mais estável no longo prazo. Faça chuva ou sol, com El Nino ou Lã Nina, você consegue prever”, exemplificou.
O executivo ainda elencou a complementaridade entre as fontes eólica e hídrica, que tem sazonalidades diferentes e podem ocupar o lugar da outra quando necessário.
“A eólica já tem uma intermitência um pouco maior, pois tem variações no vento. Mas, ela faz um contrapeso para a hidrelétrica. A eólica tem o período de safra dos ventos, que é contrário da hidrelétrica, que é a fonte mais difícil de prever no longo prazo, devido aos ciclos, o GSF e os fenômenos climáticos. A hidrelétrica ainda tem um papel importante para lidar com o PLD horário. Com essas fontes, temos uma proteção perfeita” complementou.
Segundo o executivo, a aquisição da AES foi o resultado de um estudo de 20 projetos ao longo de dois anos em busca de opções de crescimento inorgânico, “sendo a melhor oportunidades de todas devido as sinergias de ativos e pessoal.
“No dia 1º, nós já fizemos uma bela captura de sinergias, ajustamos o quadro de pessoal da companhia, entre vagas em aberto e ajustes de quadro, foram 240 posições. Agora, temos uma transição de processo e de sistemas para termos um resto da captura [de sinergia] ao longo de 2025. Passamos por ajustes nas duas companhias, já que o nosso objetivo era, no desenho final da Auren, ter o melhor das duas companhias”, falou.
Fator capacidade
Entre a volatilidade dos preços e a sobreoferta de energia no país, o grande problema é o fator capacidade. Segundo o CEO, a melhora do cenário hídrico e a disponibilidade das fontes resolvem o problema de suprimento de energia do Brasil, fazendo com que, em tese, “não tenhamos mais racionamento”.
“No momento, caso ocorra uma escassez hídrica, você consegue acelerar projetos, é possível colocar um empreendimento solar de pé em um ano, por exemplo. O grande problema do Brasil é a ponta, a capacidade, isso vai demandar atenção nos próximos meses e anos. Capacidade é o desafio do mercado brasileiro”, destacou.
Uma das formas de resolver é a questão seria o leilão da modalidade. Há expectativa para um novo da modalidade desde 2023, previsão que passou para agosto de 2024 e depois para dezembro deste ano. Os ritos já foram iniciados, com a realização de uma consulta pública em março deste ano. Mas, até o momento, a publicação da portaria com as diretrizes definitivas não aconteceu.
Há uma expectativa de o Ministério de Minas e Energia (MME) atrasar o início de suprimento de ativos termelétricos e hidrelétricos previstos para 1° de janeiro de 2028 no âmbito do leilão.
“À medida que a gente vai atrasando [a realização], o ano de 2028 precisa ser alongado, porque para mobilizar toda uma indústria de equipamentos leva tempo”, disse Zanfelice. Dentro da Auren, uma das ampliações para entrada no certame seria da UHE de Porto Primavera, que tem espaço de ampliação para quatro máquinas adicionais, aumentando a potência instalada de 1.540 MW para 1.980 MW.