MinutoMega Talks

Térmicas podem ser operadas no longo prazo, ao custo do aumento do curtailment, diz ONS

Diretor de Planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Alexandre Zucarato
Diretor de Planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Alexandre Zucarato (Divulgação)

O diretor de Planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Alexandre Zucarato, comentou a “neutralidade tecnológica” do operador em relação às fontes de energia. “O ativo que for entregue será operado. Então, se o Poder Concedente pergunta se o ONS consegue operar uma térmica com t-on de 18 horas, sim, dá para operar, ao custo de aumento no curtailment”, resumiu Zucarato durante o evento MinutoMega Talks, realizado pela MegaWhat nesta quarta-feira, 4 de setembro, em São Paulo. T-on é o termo utilizado para o tempo mínimo que uma usina térmica precisa estar em operação.

Segundo Zucarato, o nível de flexibilidade do sistema está aquém do esperado, o que não inviabiliza a operação, mas reduz a otimização de custos e recursos. Em agosto, o ONS realizou testes com as usinas descontratadas, as chamadas usinas merchant, que podem vir a ser despachadas para atendimento à ponta da carga para avaliação da “real disponibilidade” dos ativos, disse o diretor.

Em sua avaliação, se os ativos performarem corretamente, e se o período chuvoso não atrasar, a operação do sistema não terá sobressaltos, embora se torne mais custosa. “Conjunturalmente, a gente está numa situação administrável do ponto de vista físico, não necessariamente do ponto de vista de custo da operação, porque basicamente a gente vai precisar de todos os recursos”, disse Zucarato.

Atualmente, a ponta da carga no período noturno está próxima dos 100 GW. Para atender a esta demanda, o parque hídrico fornece entre 60 GW e 90 GW, considerando os períodos seco e chuvoso. “Então, se a gente tiver uma situação de 60 GW de disponibilidade hidráulica, para fazer uma ponta de 100 GW, a gente vai botar 40 GW de outros recursos. É bastante coisa”, disse.

Zucarato também comentou as possibilidades de aumento no atendimento hídrico, considerando a possibilidade de repotencialização de usinas existentes. Em sua avaliação, a solução é viável, mas deve levar cerca de três anos. Já a instalação de baterias pode ocorrer mais rápido, mas ainda não na velocidade que o sistema precisa.

“Bateria, talvez, entre numa escala mais curta que A-3, mas duvido que entre em A-1”, avaliou. “Em A-1 você teria que trabalhar com resposta da demanda, mas eu não sei se tem maturidade para tracionar a resposta da demanda numa escala que não os 200 MW que a gente conseguiu no sandbox. A gente teria que ter uma escala muito maior que isso”, completou.

Assim, ele avalia como positiva a consulta pública sobre o leilão de reserva de capacidade na forma de potência (LRCap), mas indica que o desafio de atendimento à carga é grande até que o leilão efetivamente ocorra e que os ativos estejam disponíveis ao sistema.

Sinal de preço

Enquanto o ONS avaliou ser possível operar o sistema, embora não com otimização de custos, o acadêmico Alexandre Street criticou a ausência de sinais de preço no sistema brasileiro e a baixa remuneração da fonte hídrica. Street, que é professor associado da PUC-Rio e coordenador fundador do laboratório LAMPS PUC-Rio, e dividiu o palco com Zucarato no MinutoMega Talks.

“Falta um sinal de preço estrutural. A gente já tem um viés otimista no preço, colocando um valor de água sempre pressionado para baixo. Os modelos de vazão sempre dizem que vai vir mais agua do que [efetivamente] vem. E o uso da flexibilidade, cada vez mais importante, não é remunerado em nada”, disse o especialista.

Ele também criticou os subsídios e a falta de um “desenho técnico” para o sistema e sua expansão. “A gente gasta no setor elétrico uma quantidade absurda de energia para fazer a política dar certo, e gasta zero de tempo para fazer a matemática, a física dar certo dentro de um sistema de preço coerente”, avaliou.