Política Energética

Investimentos em energias renováveis em países emergentes ficam estagnados com a covid-19

Investimentos em energias renováveis em países emergentes ficam estagnados com a covid-19

O investimento em energias renováveis cresceu 4,4% em 2020, no entanto, considerando apenas os mercados emergentes, esses aportes tiveram uma queda de 10%, representando US$ 67 bilhões a menos que em 2019. Os dados são do Climatescope, pesquisa anual realizada pela BloombergNEF (BNEF).

Na avaliação da BNEF, os dados sugerem que os investidores se retiraram às pressas dos mercados menos desenvolvidos para se concentrarem nos países mais ricos, à medida que a pandemia do covid-19 se alastrou, redistribuindo mais fundos para os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Em 2020, o Climatescope aponta que as nações desenvolvidas receberam US$ 262 bilhões, ou 57%, do total de investimentos na transição energética global, que inclui o apoio para ativos de energia renovável, veículos elétricos e aquecimento elétrico. As economias em desenvolvimento receberam US$ 195 bilhões, ou 43%. Em 2019, os mercados emergentes representaram uma pequena maioria destes fundos recebidos e, em 2017, cerca de 59% destes investimentos foram para as economias em desenvolvimento.

“Com base no total de investimentos alocados em 2020, o entusiasmo pelas tecnologias de energia limpa parece estar no auge de todos os tempos”, disse Luiza Demôro, head de pesquisa de transição energética da BNEF e autora principal da pesquisa. “Mas a vontade dos investidores de empregar fundos nas regiões mais pobres do mundo realmente pareceu estagnar em 2020, à medida que a pandemia avançou”.

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Os resultados do Climatescope foram publicados após as negociações sobre mudanças climáticas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em Glasgow, durante a qual os governos representando os países mais ricos reiteraram sua promessa anterior não cumprida de fornecer US$ 100 bilhões em financiamentos para ajudar os países menos desenvolvidos a abordar os efeitos das mudanças climáticas.

De acordo com a BNEF, os números do Climatescope, em particular, não representam apenas fluxos transfronteiriços, mas todo o capital empregado em diferentes jurisdições, incluindo os volumes consideráveis de capital levantado e gasto localmente em países como a China Continental e o Brasil.

O aumento dos investimentos em países mais ricos pode, em parte, ser explicado pelo crescimento explosivo na adoção de veículos elétricos em países da Europa Ocidental e, com menos intensidade, nos EUA. Nos mercados emergentes, com exceção da China Continental, as taxas de compra de veículos elétricos permaneceram baixas, já que tais veículos são vendidos, normalmente, por um valor a mais (premium) sobre o valor dos veículos com motor de combustão interna convencional. Os governos de tais países raramente podem oferecer os tipos de subsídios que os consumidores em nações mais ricas recebem.

A dispersão de investimentos dos mercados emergentes para os países desenvolvidos considerados menos arriscados é ainda mais evidente quando se considera apenas os fluxos de financiamento para ativos de energias renováveis, um setor onde os investimentos caíram 9% de 2019 a 2020 nos mercados emergentes, mas tiveram aumento acumulado de 24% nos países desenvolvidos.

A pesquisa revelou que os países responsáveis por quase dois terços das emissões globais de gases de efeito estufa têm metas “net-zero” em vigor, o que significa que planejam atingir emissões zero de CO2 em algum ponto no futuro. Formuladores de políticas em países que representam 27% das emissões estão considerando acatar tal compromisso.


No entanto, a minoria das nações tem seguido as políticas específicas para alcançar suas metas no longo prazo. A parcela de países em desenvolvimento com leilões para contratos de entrega de energia limpa, ou com feed-in tariffs em vigor, permaneceu estável em relação a 2019, por exemplo. Nos últimos três anos, menos da metade dos mercados emergentes analisados tinha leilões em vigor, enquanto cerca de um quarto tinha mecanismos de feed-in tariffs implantados.

A China Continental ficou à frente dos mercados emergentes com uma pontuação de 2,40 (no qual 5 é a pontuação máxima possível). Enquanto o país mantém a maior frota mundial de usinas elétricas movidas a carvão, também é o maior mercado de oferta e demanda de energia eólica e solar. Além disso, o país promoveu a adoção de veículos elétricos com várias políticas de incentivo.

A Índia se classificou em segundo lugar com uma pontuação de 2,35. O país é o maior mercado mundial de leilões de energias renováveis, resultando em investimentos substanciais em energia limpa. A Croácia ficou em terceiro, no geral, com 2,15. O país tem uma meta para energias renováveis que deve representar 63,8% do consumo total de eletricidade até 2030.

Levando em conta apenas as pontuações relacionadas à eletricidade, a Índia ficou no topo da tabela, seguida pelo Chile e pela China Continental. O Chile originalmente estabeleceu uma meta de ter 20% de eletricidade a partir de energias renováveis até 2025, mas excedeu esta meta em 2020, com 25% da produção proveniente de energia limpa.