Política Energética

Executivos apostam numa matriz “renovável, renovável e renovável”; Adriano Pires, do CBIE, discorda

Os painéis do Brazil Wind Power, evento que está sendo realizado de forma virtual e que começou na última terça-feira, 27 de outubro, têm trazidos debates que mostram a força das energias renováveis num momento de transição energética mundial, com o interesse de investidores internacionais, mudança do perfil de consumo, barateamento de tecnologias e novas fronteiras a serem desenvolvidas, como a do hidrogênio verde.

“No médio prazo está se enxergando: renovável, renovável e renovável (…). Parece ser um cenário nos próximos cinco anos profundamente alvissareiro”, disse André Clark, general manager da Siemens Energy.

A aposta de uma expansão predominantemente renovável no médio prazo é compartilhada pelo CEO da Statkraft, Fernando De Lapuerta. Para ele, isso deve acontecer por pura oferta e demanda do mercado.

“As renováveis vão tomar conta de uns 70% da capacidade instalada global nos próximos dez anos. Isso por custo e competitividade, são tecnologias que reduzem custos progressivamente, e o Brasil tem recursos de eólica e solar que são de dar inveja a muitos países”, disse De Lapuerta

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As mesmas expectativas não são compartilhadas por Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Para ele é importante considerar no médio prazo o combustível fóssil, o gás natural para as termelétricas na base, que ajudem a suprir a intermitência de uma matriz que vai contar com mais usinas da fonte eólica e solar, e na substituição de termelétricas movidas a óleo combustível, que impactam em preços mais elevados da energia elétrica.

“A transição energética, a história mostra que é muito mais lenta que o otimismo que pode estar pairando, que é um contrassenso – um otimismo na pandemia. O mundo pós-pandemia colocou na vitrine a questão de aceleramento da transição energética. Esse debate, às vezes, fica um pouco emocional e chega, até um certo ponto, num populismo ambiental”, disse Pires.

Clark, da Siemens Energy, ressaltou que a questão não se trata de populismo, mas do planejamento do setor elétrico brasileiro e que trará economia para o usuário final de energia, fazendo com que, no final das contas, o futuro seja renovável.

“Quando eu digo renovável, renovável e renovável, não estou fazendo apologia, estou só dizendo o que está no Plano Nacional de Energia (PNE 2050). Num mundo de pouquíssimas certezas e capacidade de projeção, de grande volatilidade, nós no Brasil tivemos a sorte e competência de no meio da pandemia lançar o PNE”, declarou o executivo.

Apesar de entender que o planejamento é um excelente indicador, para Adriano Pires o PNE não considera a condição social brasileira e deixa outras energias verdes mal colocadas e mal planejadas no longo prazo.

“Temos uma vantagem comparativa gigante de diversidade energética no Brasil, mas não é só sol, vento, biomassa e água. Tem muito gás e petróleo no Brasil que precisa ser aproveitado. O próprio etanol é uma energia maravilhosa que a gente produz no Brasil e ficam vendo como se colocar carro elétrico no país sendo que se tem o etanol”, reforçou o diretor do CBIE.

Segundo o diretor, do ponto de vista ambiental o motor movido a etanol é melhor do que o do veículo elétrico. Além disso, ele argumentou que as cidades brasileiras têm a melhor qualidade de ar por causa do etanol.

“Isso tem que ser levado em consideração no mercado brasileiro e ele (etanol) tende a ser uma commoditie global, só tem que incentivar que outros países comecem a produzir”, completou.

Novamente, os demais painelistas discordaram de Pires. De Lapuerta, da Statkraft, apresentou dados de um relatório recém-lançado pela empresa, que aponta que a demanda energética mundial estará em 2050 nos mesmos níveis de 2020, isso porque, a eletrificação das cidades, liderada pela indústria de transporte, vai fazer com que o consumo de energia seja mais eficiente.

“Estávamos falando de carro à combustão, que são carros que só aproveitam 25% do combustível que está sendo queimado, enquanto o carro elétrico aproveita 90%. Isso é o que torna o mundo mais eficiente”, explica Fernando De Lapuerta.

Ainda falando sobre a mobilidade, André Clark reforçou que o Brasil é a terceira maior democracia urbana do planeta e que tem crescido nas cidades a transformação da economia compartilhada, propiciando que os carros elétricos sejam imbatíveis em custo mensal e de performance.

“Mais do que isso, a indústria automobilística vai mudar o supply chain inteiro e depois vai produzir carro à combustão só para o Brasil? Vai ser muito difícil. Rapidamente, o carro elétrico tem só 20% das partes de um carro convencional. É muito mais simples de montar. Essa urbanização do Brasil vai trazer consigo a eletrificação do transporte industrial e do transporte público por causa do fenômeno urbano da economia compartilhada”, finalizou o executivo da Siemens Energy.

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