Em um discurso defensivo e, ao mesmo tempo, aberto ao diálogo, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira, 22 de abril, a antecipação em dez anos da meta de neutralidade de emissões de gases do efeito estufa do país, para 2050. Ele disse também ser fundamental contar com o apoio de outros países no desenvolvimento sustentável da Amazônia e defendeu a “justa remuneração” ao Brasil pela contribuição em emissões evitadas, por meio da geração de energia e manejo de resíduos.
“Coincidimos, senhor presidente [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos], com o seu chamado ao estabelecimento de compromissos ambiciosos. Nesse sentido, determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em dez anos a sinalização anterior”, disse Bolsonaro, em seu discurso na Cúpula de Líderes sobre o Clima, evento virtual, organizado por Biden.
Vigésimo primeiro líder a discursar no evento, o presidente brasileiro destacou ainda o objetivo de eliminar o desmatamento ilegal até 2030. “Com isso, reduziremos em quase 50% nossas emissões até essa data. Há que se reconhecer que será uma tarefa complexa”, disse ele, acrescentando que o país dobrará os recursos destinados à fiscalização, apesar das limitações orçamentárias do governo. Ele, no entanto, não afirmou de quanto será esse montante.
Em meio ao questionamento de outros líderes globais e instituições com relação ao combate do governo brasileiro ao desmatamento na Amazônia, Bolsonaro iniciou sua fala destacando que o país está na “vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global”.
“Ao discutirmos mudanças no clima, não podemos esquecer a causa maior do problema: a queima de combustíveis fósseis dos últimos dois séculos. O Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo. No presente, respondemos por menos de 3% das emissões globais anuais”, afirmou Bolsonaro.
O presidente ressaltou ainda que o país possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e acrescentou que o Brasil conserva 84% de seu bioma amazônico e 12% da água doce do planeta. “Como resultado, somente nos últimos 15 anos, evitamos a emissão de mais de 7,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera”.
Ele reiterou ainda a nova contribuição nacionalmente determinada (NDC) ao Acordo de Paris, feita no fim do ano passado, de reduzir em 37% as emissões de gases de efeito estufa em 2025 e de 40% até 2030.
Desenvolvimento sustentável
Bolsonaro também destacou a necessidade de melhorar a qualidade de vida da população amazônica. “Devemos enfrentar o desafio de melhorar a vida dos mais de 23 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, região mais rica do país em recursos naturais, mas que apresenta os piores índices de desenvolvimento humano. A solução desse paradoxo amazônico é condição essencial para o desenvolvimento sustentável da região”.
Nesse sentido, o presidente brasileiro disse que espera contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostas a ajudar “de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas”.
Mercado de Carbono
Bolsonaro defendeu ainda o desenvolvimento de mercados de carbono. Segundo ele, essa iniciativa é crucial como fonte de recursos e investimentos para impulsionar a ação climática, tanto na área florestal, como em outros setores da economia, como indústria, geração de energia e manejo de resíduos.
“Da mesma forma, é preciso haver a justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação”, destacou. “Estamos abertos à cooperação internacional”, completou Bolsonaro.
Arthur Lira
Pouco antes do discurso de Bolsonaro na Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) destacou, em uma rede social, que as leis aprovadas pelo Congresso na área ambiental são “modernas e atuais”, mas que o parlamento seguirá buscando aperfeiçoamentos, respeitando a segurança jurídica.
“A Câmara se orgulha de ter ajudado a construir leis robustas na área de meio ambiente. Mas o desafio tecnológico, logístico e financeiro de fiscalizar e monitorar o último continente verde é imenso. Para esta tarifa, o Brasil está aberto para todo o apoio global”, disse Lira, em sua conta no Twitter.
“A Amazônia e todos os nossos biomas são ativos globais. Mas são patrimônio do povo brasileiro. Fica aqui nosso compromisso com a preservação, utilizando as suas riquezas de forma sustentável e equilibrada”, completou o deputado.
(foto: Tânia Rego / Agência Brasil)