As medidas de isolamento social adotadas em todo o país por conta da pandemia do coronavírus (covid-19) podem levar a um nível de sobrecontratação de até 113% nas distribuidoras de energia, segundo estimativas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Segundo os cálculos da CCEE, para cada mês de quarentena, há um aumento de 0,8% na sobrecontratação do ano. Assim, o nível projetado para o fim de 2020 varia de 111%, 112% a 113%, dependendo se a duração da crise for de um, dois ou três meses.
A maior sobrecontratação seria registrada em junho, de 130%. Com a retomada gradual da atividade econômica e fim das medidas de isolamento social, a tendência é que ocorra uma recuperação chegando à média de 111% a 113%.
O cenário pode mudar se a recessão econômica for mais profunda do que o vislumbrado ou se as medidas de quarentena se prolongarem.
“Todo o cenário que traçamos foi com a projeção oficial de 0,02% de crescimento no PIB. Claro que qualquer variação negativa vai ter efeitos nisso”, disse Rui Altieri, presidente do conselho da CCEE, durante videoconferência com jornalistas, na qual apresentou os dados. “Se o cenário mudar muito e tiver alguma variação mais significativa, teremos que voltar para a prancheta e refazer os cálculos”, disse.
Até o momento, a CCEE identificou queda de 9,4% no consumo no mercado livre e redução de 7,4% no mercado regulado. Os dados comparam o período de 18 a 31 de março com o intervalo entre 1 e 17 do mesmo mês.
Houve aumento de consumo no segmento residencial, mas não o suficiente para compensar as baixas na indústria, comércio e serviços.
Altieri lembrou ainda que o setor de siderurgia, que representa 25% do consumo total do mercado livre de energia do país, teve queda de apenas 2% no período. “Se houver redução mais forte por dificuldade de exportação ou escoamento, por exemplo, a redução no mercado livre vai se acentuar bastante”, disse.
Questionado sobre uma solução para o problema de caixa das distribuidoras, Altieri disse que a discussão está sendo conduzida pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“Fala-se muito em uma Conta ACR ‘2’. Foi uma solução muito boa no passado, tem tudo para ser tão boa quanto agora. A CCEE vai participar de novo? Depende da Aneel e do MME. Se formos chamados, vamos fazer com mesmo empenho e competência e certamente teremos o mesmo desempenho”, disse.
Liquidação
Na semana que vem, a CCEE faz a contabilização e liquidação das operações do mercado de curto prazo de fevereiro. Segundo Altieri, não há indicações de calotes em contratos.
Os pontos de atenção mapeados pela CCEE incluem quatro consumidores, três especiais e um livre, que já vinham apresentando dificuldades para honrar os compromissos antes da pandemia do coronavírus.
Além disso, a Celesc pediu o parcelamento dos seus débitos, mas teve o pleito indeferido pelo conselho. O primeiro pedido foi feito mês passado e, depois de negado, a distribuidora catarinense honrou normalmente as contas.
“Neste mês, voltaram com o pedido alegando questões principalmente ligadas ao covid-19. Nossa posição foi que não podemos entrar em questões individuais na CCEE, pois atropelaríamos uma eventual solução global”, disse Altieri.