Opinião da Comunidade

Mário Menel escreve: A operação do futuro setor elétrico brasileiro

Mário Menel escreve: A operação do futuro setor elétrico brasileiro

Por Mário Menel

Nos anos 1970, os planejadores da Companhia Energética de Brasília (CEB), coordenados pelo Engenheiro Paulo Victor Rada de Rezende, definiram as faixas de passagem para as linhas em tensões de subtransmissão. 

Decorridos 50 anos, após o período do planejamento da expansão do sistema elétrico, embora Brasília tenha crescido muitas vezes acima do previsto, ainda existem trechos de faixas disponíveis, graças à visão de Paulo Victor.

A configuração e consequentemente a operação do sistema elétrico brasileiro, evoluíram ao longo do tempo: sistemas isolados, sistemas fragilmente interligados e sistemas robustamente interligados.

Sob o ponto de vista tecnológico, até 10 anos atrás, o sistema elétrico não experimentou modificações de grande porte. No entanto, na última década, as modificações tecnológicas atingiram níveis de crescimento exponenciais e estão trazendo complexidade operacional que certamente exigirá adaptações significativas na operação nos próximos anos. 

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Algumas modificações tecnológicas já estão acontecendo. Entre elas, i) na rede elétrica e na regulação: descentralização da geração com a expansão das fontes renováveis não controláveis; mobilidade elétrica; ampliação do mercado livre; armazenamento de energia; redes inteligentes; preço horários, ii) na disponibilidade de ferramentas para a operação: inteligência artificial; aperfeiçoamento de modelos de previsão; medidores bidirecionais, iii) nas áreas comportamentais e de gestão: empoderamento do consumidor; tarifa branca; exigência de transparência; reuniões virtuais; teletrabalho; reposicionamento das áreas de TI; estratégias de comercialização, iv) ameaças: necessidade de reforços na segurança cibernética; mudanças climáticas.

Complementando esse pano de fundo, temos o projeto de modernização do setor elétrico. Entre outras novidades, traz a sinalização de separação de lastro e energia, separação do fio e energia, bolsa de energia, formação de preços via oferta, abertura de mercado, descotização de usinas, melhor alocação de custos e de riscos. Tudo isso com o objetivo de adequar o modelo gestor e comercial do setor às citadas modificações.

E como será a operação do sistema com essas características?

Apesar de todas as modificações, a operação não precisará passar por grandes alterações em seu modelo de gestão. Algumas são fundamentais: i) as áreas de TI terão que ser adequadas para uma operação mais próxima da engenharia da operação, ii) a transparência da informação para os agentes, se hoje é necessária, tenderá a ser fundamental. A operação tem que ser “reproduzível” pelos agentes. No caso da implantação de um sistema de formação de preços por oferta, a operação precisa mostrar os custos da confiabilidade do sistema permitindo que a sociedade possa contribuir com escolhas; iii) maior integração da operação com áreas comerciais para aproveitar a flexibilidade da demanda e geração distribuída como recursos operativos;  iv) ainda que, no despacho por oferta, o papel principal do ONS seja o mesmo de hoje, o número de variáveis com as quais o Operador terá que lidar será muito maior, um reforço à tese segundo a qual a TI deve se aproximar da área de engenharia.

A gestão anterior deu início a um processo que visava adequar o Operador para enfrentar os desafios da operação de um sistema com as complexidades antes apontadas.

Os agentes de mercado têm convicção, tal como aconteceu com os planejadores do suprimento a Brasília na década de 70, de que a atual gestão do Operador dará continuidade a esse processo e preparará o ONS, com a devida antecedência, para bem operar nosso cada vez mais complexo sistema interligado.

Essa convicção é fortalecida pelas declarações recentes dos novos dirigentes do Operador. Seja nos discursos de posse, em lives e webinares, jamais deixam de dar ênfase aos princípios de transparência, isonomia de tratamento, da consciência dos problemas e da competência técnica da equipe do Operador para enfrenta-los.

Mário Menel é presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape) e do Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase).

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